Seis décadas de histórias

Corpo de bombeiros comemora 65 anos de atuação em Passo Fundo

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Este ano o grupo atendeu, somente em Passo Fundo, 18 ocorrências de incêndio, entre elas, no prédio Ughini, considerado o maior na história da cidadeEste ano o grupo atendeu, somente em Passo Fundo, 18 ocorrências de incêndio, entre elas, no prédio Ughini, considerado o maior na história da cidade
Este ano o grupo atendeu, somente em Passo Fundo, 18 ocorrências de incêndio, entre elas, no prédio Ughini, considerado o maior na história da cidade
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 O Corpo de Bombeiros de Passo Fundo completa 65 anos hoje, mas o presente só deve chegar no próximo mês. A unidade será a única do estado a receber um caminhão com a dupla função de combate a incêndio e salvamento. Avaliado em cerca de R$ 600 mil, o veículo adquirido através de recursos do Fundo de Reequipamento Bombeiros (Funrebom), tem capacidade para três mil litros de água e vem adaptado com um guincho na parte traseira.

O braço do guincho tem alcance de até 16 metros de altura e possuiu um cesto na ponta para que o bombeiro possa combater o fogo do alto e também realizar resgate de pessoas e animais. “Durante o incêndio no prédio  Ughini usamos caminhões com este recurso da companhia de energia e também da prefeitura. Acredito que no mês de janeiro já teremos o nosso próprio veículo zero quilômetro. A adaptação está sendo feita em uma empresa de Erechim. É o primeiro com estas características no estado”, afirma o comandante, tenente-coronel, César Bonfanti.
 
Segundo ele, a estrutura de equipamentos disponível na unidade de Passo Fundo é satisfatória e está  no mesmo nível das grandes cidades do interior e até mesmo de Porto Alegre. Recentemente, foram adquiridas oito máscaras de respiração. Um investimento de R$ 70 mil. O principal problema, aponta, está na defasagem do efetivo, que atualmente é de 68 homens. “Estamos pelo menos 40% abaixo das nossas necessidades” afirma.

Ao longo destas seis décadas e meia de serviços prestados, a unidade de Passo Fundo realizou centenas de salvamentos e combateu incêndios que ficaram marcados na memória dos passo-fundeses e, principalmente, dos homens que trabalharam nestas ocorrências.  Uma época em que quase não havia equipamentos de proteção, mesmo assim, a missão de salvar vidas era levada  ao extremo.Numa conversa rápida entre os bombeiros mais experientes, a lista dos maiores incêndios ocorridos nestes 65 anos é consenso.  A relação inclui os prédios dos colégios Notre Dame e IE, Hospital da Cidade e, no mais recente, edifício Ughini, considerado o maior de todos.

Aos 70 anos, o sargento aposentado Arthur Corrêa de Oliveira, não contém as lágrimas ao voltar no tempo e lembrar de cada detalhe do seu dia de herói. Era 2 de julho de 1988.  Ele estava de folga, mas foi cedo para o quartel auxiliar no corte da carne para o churrasco que seria assado em comemoração ao dia do bombeiro. Por volta das 8h30min, o quartel recebeu o chamado que mudaria para sempre a vida do então soldado. O Hospital da Cidade estava em chamas.

De fala mansa e pausada, aos poucos o bombeiro vai  refazendo cada passo dado naquele dia. “A guarnição de  cinco a seis homens saiu com os dois primeiros caminhões. Corri lá fora e vi a nuvem de fumaça. Só coloquei a farda e me desloquei com o terceiro veículo. Os demais que estavam de folga também compareceram” recorda. Corrêa, que  era um dos motoristas do quartel, se deparou com um cenário de guerra. Rapidamente começou a auxiliar na operação da bomba, mas em seguida, passou para o combate. “O sargento Moraes estava dentro do prédio e pediu ajuda. Entrei pela porta da frente, fomos até o segundo andar. Ele disse que havia tentado salvar uma idosa em um quarto, mas teve o olho atingido por uma fagulha. Assumi a missão”, conta. Para cumprir tal missão, ele teria de caminhar por cerca de 12 metros, até o final do corredor, com as duas paredes laterais em chamas e parte delas caídas.
         Sem equipamento de proteção algum, o soldado encharcou a farda, encheu de água o boné e o  colocou sobre o rosto. “Até um pedaço, os colegas ficaram jogando a água sobre mim para amenizar o calor. Vi uma janela no fundo do corredor, voltei e entrei. O quarto estava bastante destruído. Havia uma mala no chão. Como não encontrei ninguém, fui saindo, então o pedaço da porta se abriu. Vi que a idosa estava no canto. Pediu que não encostasse nela. Respondi que era bombeiro e que  iria salvá -la” . Usando palavras e gestos, ele ilustra como segurou a mulher em suas costas e saiu do prédio em chamas. A missão estava cumprida. Corrêa ainda acompanhou a vítima até o Hospital São Vicente de Paulo, na carroceria de uma caminhonete. Em seguida, retornou para ajudar no combate ao fogo, que se estendeu até a metade da tarde.
Pelo ato de bravura, Correa foi promovido a cabo e também recebeu um prêmio como destaque do ano, concorrendo com bombeiros de todo o estado. “Naquele corredor não pensei em mim, só em salvar a vítima”, diz emocionado.
 
 

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