O distrito de São Roque completa 100 anos neste domingo e, em clima de recordação e comemoração, antigos moradores do local relembram como a antiga, Mato dos Bentos, passou por transformações ao longo deste século. O distrito de São Roque é a comunidade mais antiga de Passo Fundo. Colonizada por imigrantes italianos, alemães e poloneses, ela foi fundada em 1915, a partir da doação de uma área para a construção da escola e da igreja, estrutura fundamental para as famílias que começavam a crescer. São Roque chegou a ter cerca de 300 famílias que tinham residência ali, mas hoje, são pouco mais de 45 que fixam residência e outras mais de 130 que mesmo residindo na cidade, nos finais de semana, se deslocam até o distrito e participam das atividades de lazer com os demais moradores. O lugar é terapêutico. Mescla traços do desenvolvimento agrícola e arquitetônico com paisagens naturais que ajudam a tranquilizar e equilibrar a alma das pessoas que vão até ali encontrar amigos, familiares, fé e, sobretudo, descanso da vida atribulada da cidade.
O presidente da associação da comunidade, Luiz da Silva de Jesus, conta que, quem viveu ali mantem raízes com o lugar. Ele mesmo é natural de Ibirubá e veio para a comunidade na década de 70, quando a Coprel começou a instalar as primeiras redes de luz nas propriedades. “Trabalhava na empresa e conheci minha esposa, casei e vivo até hoje aqui”. Para aperfeiçoar o espaço de convivência a associação da comunidade se empenha em realizar uma série de reformas na área social, que compreende o salão e a igreja. Para recepcionar as 800 pessoas que devem prestigiar a festa dos 100 anos de São Roque, os moradores estão construindo um muro novo e calçadas ao redor da área social. Segundo Luiz, a intenção é melhorar a área de lazer e instalar uma pequena praça. O salão da comunidade é bem equipado e possui um espaço capaz de dar suporte para a realização das festas e também para jogos habituais dos finais de semana como a bocha, o baralho e o futebol.
Porém, o espaço amplo encontrado hoje já foi bem menor. A moradora mais antiga da comunidade, Tereza Mainardi Rosso, 90 anos, lembra que não havia salão de festas na localidade. “Era montado um assoalho e um coberto cada vez que aconteciam as festas, perto da minha casa, e um gaiteiro fazia a animação. Dava trabalho, mas era divertido”. Seu falecido marido, Vitorino Rosso, possuía um armazém e também oferecia um espaço para a realização de bailes e confraternizações. O espaço oferecia jogos, bebidas e suprimentos essenciais, como farinha, açúcar, sal e outros produtos. O filho do casal, Darci Antônio Roso, relata que seu pai ia até a cidade de carroça para buscar os produtos que oferecia aos fregueses.
O morador Pedro Zanon, 86 anos, aos poucos recordava que o local onde hoje há o salão era espaço onde passava o rio, o arroio São Roque, que depois de um tempo teve seu curso desviado. A igreja foi edificada três vezes. As duas primeiras eram de madeira e a última de alvenaria. Ela foi ampliada e ganhou uma torre para abrigar o sino, que chama os moradores para as celebrações religiosas que acontecem todo domingo de manhã. Tereza conta que, anteriormente, uma estrutura de madeira servia de suporte para o sino. Os primeiros salões também eram de madeira e, o que existe hoje, foi o primeiro de alvenaria edificado, mas ao longo dos anos ele passou por reformas que proporcionaram a ampliação do espaço.
Infraestrutura básica
Luiz destaca que hoje a comunidade possui 15 km de rede de água distribuídos, mas a facilidade da água encanada não era uma realidade até a década de 80. Tereza lembra que as mulheres se deslocavam até o rio para lavar roupa. Pedro conta que o banho era com o latão ou na bacia e era comum às famílias terem um poço no quintal das casas e captavam a água para o consumo com baldes. A luz era a base de querosene. As primeiras redes de luz que chegaram, nas comunidades do interior de Passo Fundo, foram instaladas em São Roque na década de 70. Antes disso, as pessoas precisavam buscar alternativas para tarefas comuns. “No armazém, meu pai tinha no porão um buraco com algumas pedras para deixar a bebida gelada. Todos os dias ou a cada dois dias buscávamos a água do poço que era gelada e despejávamos na abertura para manter as bebidas geladas”, conta Darci. As demais bebidas também eram armazenadas no porão já que a temperatura era mais baixa que a do ambiente externo.