Uma pesquisa realizada em parceria entre o Programa de Pós-Graduação em Agronomia (PPGAgro) da UPF, a UFRGS e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estuda duas alternativas à tecnologia de transgenia BT, que garante ao milho a resistência contra insetos. As duas novas tecnologias estão em desenvolvimento no Laboratório de Biotecnologia da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária e têm apresentado bons resultados iniciais.
A pesquisadora e professora do PPGAgro Magali Grando é uma das responsáveis pelo estudo e explica que para a cultura do milho, a única tecnologia disponível comercialmente para resistência de isentos atualmente é o BT. “É uma pressão muito grande sobre esse gene: 82% do milho produzido no Brasil tem gene BT, ou seja, está sendo usado com frequência muito grande. Pensamos em trazer uma alternativa, formas diferentes de resistência que possam substituir ou serem usadas em conjunto com a tecnologia BT”, destaca.
Segundo ela, embora o Brasil seja o segundo maior produtor de milho do mundo, as tecnologias utilizadas hoje são produzidas por multinacionais. “Não temos nenhum produto brasileiro de milho e estamos caminhando nessa direção. Além disso, a realização desse trabalho promove o treinamento de recursos humanos no uso dessa tecnologia e do desenvolvimento desses novos produtos. Isso tem valor para a região e para a independência da nossa agricultura. Acreditamos nisso e estamos empenhados nessa meta”, enfatiza.
Tecnologia pioneira
Um dos estudos desenvolvidos pela UPF leva em conta uma tecnologia trazida dos Estados Unidos: o uso do RNA de interferência (RNAi). “Fiquei seis meses no Departamento de Agricultura estudando e desenvolvendo moléculas específicas contra as lagartas do milho. Eles tinham essa tecnologia para outros isentos e tivemos que fazer uma adaptação”, explica. A professora Magali destaca ainda que a UPF tem sido pioneira na utilização da tecnologia do RNAi para resistência a insetos. No entanto a Embrapa Cenargen em Brasília, já desenvolveu um feijão resistente a vírus com esta mesma tecnologia.
Segundo ela, essa tecnologia não consiste em um gene que produz uma proteína tóxica, como é o caso do BT, mas produz um RNA de interferência que vai bloquear a expressão de um gene da lagarta. “Temos que escolher um gene alvo essencial para a sobrevivência da lagarta e temos que bloqueá-lo. Esse bloqueio resulta na morte da lagarta”, enfatiza. A pesquisa produziu RNA de interferência para quatro tipos de praga do milho: lagarta do cartucho, Helicoverpa armigera, pulgão do milho e percevejo barriga verde. “Neste ano, vamos trabalhar com a lagarta do cartucho e a Helicoverpa, alimentando-as com o RNA produzido. Se a substância aplicada sobre folhas resultar na morte dos insetos, vamos desenvolver trabalhos para que a planta possa produzir essa molécula, para, no futuro, ser testada”, esclarece.
O que é o RNA de interferência
RNA de interferência é uma pequena molécula de RNA que tem a capacidade de silenciar genes alvos, por bloquear a sua expressão. O RNA de interferência se liga ao RNA alvo e impede que o mesmo produza proteínas, as quais determinam as características fenotípicas e garantem a sobrevivência do organismo.
Jaburetox
Outra pesquisa estuda o gene jaburetox, que produz uma proteína tóxica para insetos e que vem sendo estudado por pesquisadores da UFGRS. “Iniciamos um trabalho conjunto com a Instituição, com apoio financeiro do Polo Tecnológico do Governo do Estado do Rio Grande do Sul e estamos introduzindo o jaburetox nas plantas de milho”, explica. No ano passado, um dos estudos desenvolvidos pelo Laboratório de Biotecnologia Vegetal, junto com o Laboratório de Entomologia da UPF, alimentou a lagarta Helicoverpa armigera – que é uma lagarta bastante agressiva – com o peptídeo jaburetox, que não havia sido testado com esse inseto. “Conseguimos 100% de mortalidade, ficamos entusiasmados com os resultados e apostamos nisso”, exemplifica acerca dos resultados. Conforme a pesquisadora, as tecnologias testadas são brasileiras e o gene será introduzido no milho. “Já temos tecidos transgênicos e é provável que até o final do ano tenhamos plantas transgênicas portadoras do gene do jaburetox. Essas plantas serão feitas pela engenharia genética no nosso laboratório e vamos passar a testá-las”, comenta. Magali acrescenta que a pesquisa envolvendo engenharia genética do milho é nova no Brasil e restrita a algumas entidades. A UPF tem atuando em pesquisa nessa área, porém, é a Embrapa Milho e Sorgo que lidera os estudos sobre transgenia na cultura.
Ao alcance do produtor
A pesquisadora acredita que nos próximos dois anos já haverá plantas geneticamente modificadas para serem avaliados contra insetos. No entanto, todo o produto, desde a engenharia genética até ficar pronto, deve passar pela aprovação de órgãos governamentais de biossegurança. “Esse processo pode levar mais alguns anos. Mas o importante é a gente começar a buscar alternativas, para que no futuro tenhamos novos produtos tecnológicos para beneficiar o produtor”, analisa.