Para manter tradição da colheita da macela ao amanhecer da sexta-feira santa, o funcionário da construção civil Ronaldo Mateus Fagundes, 34 anos, precisa levantar mais cedo e caminhar longas distâncias. Com a falta do cultivo, a planta está cada vez mais rara, e ainda, exposta aos efeitos da poluição nas periferias das cidades.
“Repito este ritual desde meus oito anos. Aprendi com minha mãe e tio, já falecidos. Lembro que a gente caminhava uns 40 minutos, nas proximidades do trevo da vila Jardim em direção ao bairro Boqueirão, e colhia a quantidade necessária. Agora temos que andar pelo menos umas duas horas em lugares mais afastados. Tem também a concorrência dos índios. Eles fazem a colheita nos arredores antes para vender na semana santa” comenta.
Para garantir o cosumo do chá durante o ano todo, Ronaldo, acompanhado da esposa e amigos, partiria da vila Luiza, onde reside, por volta das 6h de hoje, em direção a RS 135, sentido Passo Fundo - Coxilha. Preocupado com a segurança do grupo na rodovia, ele decidiu confeccionar coletes com sinalizadores. “Como saímos antes do amanhecer, o equipamento ajuda na visualização por parte dos motoristas” afirma.
Riscos
Assistencialista rural social da Emater Regional Passo Fundo, Doriana Gozzi Miotto, alerta para os riscos de contaminação da macela às margens das rodovias e de lavouras. Ela recomenda que a colheita seja realizada em áreas mais isoladas. “Perto das rodovias existe o problema da fuligem dos carros, poeira e também dos produtos químicos utilizados nas lavouras. As pessoas precisam estar atentas para os riscos. Ela vai em busca de algo para melhorar a saúde e pode ser prejudicada”, alerta a especialista.
Doriana também chama a atenção para a falta de cultivo da planta, que já chegou a ser ameaçada de extinção. Atualmente, a macela é uma das 71 plantas que fazem parte da Relação Nacional de Plantas Medicinais de interesse do SUS (Renisus), portanto, utilizada nas unidades de saúde de alguns municípios. “As pessoas precisam retomar o cultivo. Possivelmente faremos novas campanhas incentivando esta prática” prevê.
O prazo de validade da macela é de aproximadamente um ano. Para manter suas propriedades medicinais, a planta deve ser mantida seca e protegida da luz solar e resguardada de poeira, insetos e fungos. “O ideal é acondicionar em um vidro escuro ou em um saco de papel de pão. O ambiente deve ser arejado, mas protegido da luz solar” explica. O chá é recomendado, principalmente, para o combate de doenças hepáticas, azia, e outros problemas digestivos. As flores da planta também são utilizadas em travesseiros e almofadas que servem como calmantes.
Tradição da macela
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