Atendimento interdisciplinar como auxílio

UPF desenvolve dois projetos, ligados a Vice-Reitoria e Extensão e Assuntos Comunitários

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Equoterapia é uma das atividadesEquoterapia é uma das atividades
Equoterapia é uma das atividades
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Uma tríade de características comportamentais que incluem atividades restrito-repetitivas, dificuldades de comunicação e de interação social definem o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O autismo é uma síndrome que atinge quase dois milhões de brasileiros. No mundo, a Organização Mundial da Saúde estima em 70 milhões o número de pessoas com autismo. No dia 02 de abril, Dia Mundial de Conscientização do Autismo, o grande desafio é a compreensão por parte da sociedade acerca dessa síndrome que tem características específicas e necessitam ser melhor compreendidas para que se diminua preconceitos que são relacionados à ela.

Com atuação multiprofissional, a Universidade de Passo Fundo (UPF) desenvolve dois projetos, ligados a Vice-Reitoria e Extensão e Assuntos Comunitários, que auxiliam no desenvolvimento de pessoas com essa síndrome: Educação Inclusiva Equoterapêutica e Atividades Motoras para pessoas com Síndrome de Autismo. Vinculados à Faculdade de Educação Física e Fisioterapia, as atividades integram outros cursos da Instituição, em um atendimento interdisciplinar.
De acordo com a psicopedagoga e professora da UPF, Maria Celia Rossetto, que também atua como vice-presidente da Apae, a falta de conhecimento sobre o autismo é um grande entrave. “Profissionais e sociedade facilmente se apropriam de estereótipos, no sentido da incapacidade total do autismo. Diferentemente disso, sabe-se que a pessoa não pode ser definida pelo autismo, pois o sujeito acometido pela síndrome não se reduz a ela. Pelo contrário, são pessoas com talentos que precisam ser trabalhados, desenvolvidos através dos processos inclusivos, pela competência e atenção profissional”, explica.
Educação e relações sociais

Conforme a psicopedagoga, no mundo, a cada 150 nascimentos, em média um é autista. A síndrome, segundo Maria Célia, tem origem genética e se manifesta nos primeiros três anos de vida alterando seu desenvolvimento, especialmente as relações sociais, as interações entre ele e o seu contexto, e a comunicação interpessoal. “A síndrome é percebida pelo seu comportamento, onde o autista pode ter dificuldade de compreender o contexto externo, de fazer uma leitura do que percebe sensorialmente. Ele faz uso insatisfatório dos sinais sociais, emocionais e de comunicação, além da falta de reciprocidade afetiva.  Tendo a comunicação não verbal fica bastante comprometida pelo fato dele não atribuir valor simbólico às expressões gestuais. Isso é o que o particulariza, na forma como processa informações, estímulos e a necessidade de conhecimento.Para a professora, no que tange a educação, o conhecimento por parte dos educadores é importante, até mesmo porque existem diferentes níveis de autismo, o que diferencia a forma de intervenção. “Se fala em Espectro Autista, o que demonstra que existem vários tipos, inclusive de alto desempenho, que tem altas habilidades e facilidade de compreender uma área específica. O conhecimento é fundamental para que a escola, por exemplo, possa buscar uma estratégia, para poder trabalhar a inclusão”, define.

O autista, conforme Maria Célia, requer um professor que tenha preparação para que haja inclusão dessa pessoa no grupo. De acordo com ela, a intervenção da escola se aplica à situações e não ao indivíduo. “Quando se organiza uma atividade eventualmente o autista pode ter uma conduta fora do padrão, cabe ao professor fazer uma intervenção no sentido do contexto da ação e não na responsabilização do indivíduo”, afirma

Amor acima de tudo
Há 18 anos, a colaboradora do Laboratório de Análises Clínicas Escola do curso de Farmácia da UPF, Salua Younes, convive com o desafio diário de trabalhar com o autismo. Mãe do Vinícius, ela conta que a descoberta nem sempre é fácil, mas que, inicialmente, é preciso encontrar as pessoas certas para diagnóstico e tratamento. “O maior desafio é encontrar profissionais que atendam e saibam trabalhar com o autismo, que precisa de atendimento multiprofissional em psicologia, psicopedagogia, medicina fonoaudiologia, educação física, fisioterapia e pedagogia. É preciso desbravar um mundo diferente, buscar informação e, principalmente, oferecer amor e carinho”, comenta. Segundo ela, como o comportamento dos autistas é mais agitado, muitas vezes as pessoas acabam por não entender determinadas situações, principalmente em locais públicos.

Equoterapia
Tendo em vista promover bem estar e desenvolvimento para pessoas como Vinícius, a UPF desenvolve atividades multiprofissionais com autistas. Uma das iniciativas com é o projeto Educação Inclusiva Equoterapêutica, uma atividade de extensão da FEFF que tem por objetivo disponibilizar recursos terapêuticos e pedagógicos para potencializar qualidade de vida de pessoas com deficiências ou em situação de vulnerabilidade social. Seu idealizador e coordenador até o ano de 2012 foi o professor Dr. Péricles Saremba Vieira (in memoriam), com início em 2003. O projeto trabalha em parceria com o Grupo Tradicionalista Cavaleiros do Planalto Médio, a Brigada Militar, a Prefeitura Municipal e Centro de Assistência Socioeducativa (CASE).

A psicóloga Maira Meneguzzi comenta que a equoterapia é uma terapia complexa que exige uma equipe multidisciplinar. “O projeto conta com estagiários dos cursos da área da saúde e educação, como Fisioterapia, Educação Física, Psicologia, Pedagogia, Fonoaudiologia, Enfermagem, Medicina Veterinária entre outros”, explica. Segundo ela, o Centro de Equoterapia tem sua metodologia de trabalho planejada para atender pessoas com problemas neuropsicomotores, tais como Espectro Autista, Síndromes Neuropsicomotoras, Distúrbios Osteomusculares e Paralisia Cerebral. “Para Espectro Autistas a Equoterapia é indicada para a melhora do equilíbrio, da marcha, concentração, atenção. A sociabilidade é muito trabalhada, já que o autista passa a conviver com colegas e grande equipe de pessoas desconhecidas à primeira vista”, destaca. As atividades em Equoterapia ocorrem nas segundas e quartas-feiras à tarde nas dependências da Fazenda da Brigada Militar na BR 285.

Atividades Motoras
Além da Equoterapia, a UPF desenvolve o projeto Atividades Motoras para pessoas com Síndrome de Autismo, coordenado pelos professores Cleiton Chiamonti Bona e Paulo Cesar Mello. Atendendo espectro do autista dos 5 aos 12 anos de idade que pertencem à Escola Municipal de Autistas Prof.ª Olga Caetano Dias, o projeto estimula a parte motora e social dos participantes, além de auxiliar na aprendizagem de ambientação ao meio líquido, desenvolvendo habilidades na água, recreação e relaxamento e, também, reverte em benefício para saúde e qualidade de vida.

As atividades com os jovens de 20 a 38 anos de idade acontecem nas quintas-feiras pela manhã, com 45 minutos de caminhada orientada na pista. “Com esse exercício, corrigimos postura e treinamos a paciência do aluno de continuidade. Hoje em dia caminhamos em torno de 2800m a 3300m na pista. Já com a turma das crianças de 5 aos 13 anos, as atividades acontecem nas quintas-feiras, com participação de acadêmicos da Fisioterapia e Educação Física. “As atividades são parecidas com do grupo do adulto, porém voltado para a recreação aquática, desenvolvendo um domínio corporal na água e trabalhando com o nado para aqueles que possuem capacidade. São atividades somente na piscina”, explica, que destaca que o projeto só é possível graças ao auxílio dos acadêmicos dos cursos de Educação Física, Fisioterapia e Fonoaudiologia. Segundo Bona, o parecer dos pais é positivo e, para eles, a atividade melhora a qualidade de vida, equilíbrio corporal, vontade de exercitar-se e o domínio na água.

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