Pelo quarto ano consecutivo a produção de pinhão está abaixo da normalidade na região. Nesta safra a redução pode chegar a 60% em relação a períodos normais e a 25% a menos em relação ao ano anterior que já teve queda na produção. Os motivos são variados e incluem o clima e o ataque por pragas. Ao contrário de anos anteriores em que a queda na produtividade era variável, neste ano atingiu praticamente todas as áreas produtivas. Os dados são da Emater Regional de Passo Fundo.
Os fatores que justificam a menor produtividade são variados. Quem os explica é o agrônomo da Emater Regional Ilvandro Barreto de Melo. Segundo ele, a situação registrada nos últimos quatro anos pode estar relacionado a problemas com a polinização já que houve anos com volumes de chuva acima e abaixo do ideal. “Quando há excesso de chuva o pólen fica pesado e há dificuldade de polinização e quando faz estiagem o pólen fica leve demais e o vento o levanta numa altura acima das árvores dificultando o processo”, explica.
Da polinização até a finalização do ciclo da pinha com o amadurecimento do pinhão, há um intervalo de tempo de aproximadamente dois anos. Melo explica que em função disso a árvore fica exposta na natureza por um longo período às variações climáticas que podem ser benéficas ou não. Esse fator também pesou nos últimos anos para a queda na produção. Um terceiro fator que reduz a produtividade é o esgotamento da árvore, principalmente no aspecto nutricional. “A árvore vem de safras subsequentes produzindo, então ela precisa de uma parada fisiológica para se recuperar e voltar a produzir normalmente ou com quantidade significativamente maior”, complementa.
Ataque da broca
A broca do pinhão é uma das principais pragas e também é responsável por desencadear um mecanismo de defesa nas araucárias. Quando os ataques são intensos e sucessivos, a árvore reduz o número de pinhas que acaba diminuindo também a população da praga. Nesta safra, é registrado um ataque intenso da praga, chegando a cerca de 70% dos pinhões. A broca ataca as plantas todos os anos, mas há anos em que a intensidade é maior, como neste.
A menor oferta da semente também pode ser responsável por uma mudança no comportamento das aves que se alimentam dela. Melo explica que neste ano os pássaros estão comendo as sementes ainda verdes ao contrário de anos normais em que se alimentavam das pinhas que caiam espontaneamente.
Produtividade
A queda na produção não ocorreu de forma pontual, como é registrado normalmente, mas atingiu a maior parte dos municípios que têm área produtiva como Caseiros, Lagoa Vermelha, Soledade, Fontoura Xavier, Muitos Capões, Lajes, Barracão e São Francisco de Paula. Uma pinha produz cerca de um quilo de pinhão, em média. Isso equivale a cerca de 130 a 140 pinhões, dependendo do ano de produção e do tamanho das sementes. A redução neste ano varia entre 55% e 60% em relação a safras normais. Em relação ao ano passado, a queda é de aproximadamente 25%, sendo que a safra passada já foi menor.
Preço
Apesar da diminuição na oferta, o preço do produto tem se mantido estável em relação ao ano anterior. Melo destaca que este é um fator interessante e que pode ser comparado ao que aconteceu com a erva mate. “Tivemos uma alteração muito grande no preço até que ele se estabilizou. No caso da erva mate, por exemplo, o consumidor não pagou mais do que cerca de R$ 15 o quilo e o preço se manteve. Isso também está ocorrendo com o pinhão. O valor está semelhante ao ano passado, entre R$ 6 e R$ 7 o quilo no ponto final de venda”, compara.
Experimento
Melo destaca ainda que hoje a maior parte do pinhão colhido na região provém de atividade extrativista. Ele explica que há um trabalho de pesquisa da Embrapa Florestas que desenvolveu uma técnica para permitir que a araucária possa produzir mais rapidamente e com plantas de porte menor, por meio da propagação vegetativa. Geralmente a araucária demora entre oito e 12 anos para produzir e com essa técnica é possível reduzir esse início de produção e também o porte da árvore facilitando a colheita. “Pode passar a ser uma referência para cultivos comerciais de araucária. No entanto dentro da cadeia produtiva como um todo temos característica de extrativismo e não se costuma fazer plantios comerciais”, finaliza.