Ter uma rotina de trabalho intensa que exige muitas horas viajando e pouco tempo para ter uma alimentação balanceada. Essa acabou se tornando a realidade da psicóloga e empresária Angélica Possebon. Com o tempo, o corpo foi dando sinais de que algo estava errado. “Eu viajava bastante e comecei a ter muitas dores nas costas. Eu tinha 33 anos e me dei por conta que parecia uma pessoa com muito mais idade reclamando daquelas dores”, comenta. A dor constante fez com que a empresária buscasse ajuda médica e o diagnóstico mostrou que, uma das causas do problema foi a falta de atividade física. “Eu aprendi que as minhas dores eram derivadas também pela falta do exercício, da vida sedentária. Meu médico me alertou que eu precisava fortalecer os músculos do abdômen para sustentar minha coluna. Além disso, eu tinha dores também nas pernas, problemas de inchaço. Por causa das viagens, eu me alimentava mal. Chegava em casa e comia o que podia e o que não podia. Às vezes passava o dia inteiro sem comer e me alimentava só à noite. Eu vi que era hora de mudar”, afirma.
O exercício físico começou a estar presente na vida de Angélica na forma da prática do vôlei, do ciclismo e do treino funcional. Paralelo a essa mudança, uma alimentação balanceada também se tornou fundamental para o processo de uma melhor qualidade de vida. Ela salienta que sempre teve interesse no assunto, inclusive, realizando cursos na área funcional. “Pesquisei muito, conversei com amigas nutricionistas, e fui me organizando conforme o meu hábito de vida. Substituí a farinha branca por outros tipos mais saudáveis, assim como o açúcar e a redução do sal na alimentação. Comecei a fazer treinos funcionais, ingerir mais proteína, reduzir o carboidrato. É engraçado, porque o corpo da gente vai se habituando a isso. No início eu não gostava, mas você vai aprendendo”, comenta.
E, passados dois anos, o que mudou na vida da empresária? “Eu acho que o que mudou na minha vida em primeiro lugar foi a qualidade de vida. É totalmente diferente. A gente se sente mais disposta, não tem mais dores, não tem problema com inchaço ou metabolismo lento. E a estética veio junto. Me sinto melhor com meu corpo, me sinto bem para fazer as coisa, muda a autoestima. No meu caso, não procurei o exercício pela estética, mas ela foi uma consequência”, alega Angélica.
Mudança de hábito
A falta da atividade física e de uma alimentação balanceada pode ocasionar diversos problemas de saúde. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 3,2 milhões de mortes todo ano são atribuídas à atividade física insuficiente. O sedentarismo é o quarto maior fator de risco de mortalidade global responsável por pelo menos 21% dos casos de tumores malignos na mama e no cólon, assim como 27% dos registros de diabetes e 30% das queixas de doenças cardíacas. Ainda, ele está relacionado ao aparecimento de outras doenças crônicas como a hipertensão e a obesidade. Até 2030, segundo a OMS, o número de óbitos causados pelo sedentarismo pode chegar a 23,3 milhões.
A boa notícia é que, assim como Angélica, a população brasileira está mais atenta aos hábitos saudáveis. É o que demonstra a pesquisa “Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico”, o Vigitel. A avaliação é realizada pelo Ministério da Saúde e consiste em entrevistar, através de inquérito telefônico, pessoas com mais de 18 anos que vivem nas capitais de todos os estados do país e do Distrito Federal. Entre fevereiro e dezembro de 2014, foram entrevistadas 40.853 pessoas. Através dela, foi possível perceber um aumento no número de pessoas que se exercitam regularmente e daquelas que mantém uma alimentação adequada, com maior presença de frutas e hortaliças e menos gordura.
Divulgado em abril deste ano, o Vigitel 2014 mostra que o 35,3% dos entrevistados afirmaram se dedicar pelo menos 150 minutos do seu tempo livre na semana com exercícios. Na região Sul, o índice é ainda mais positivo, 37,7%. Apesar do dado positivo, ainda é alto o índice da população fisicamente inativa, ou seja, que afirmam não ter feito nenhuma atividade nos últimos três meses: 15,4% dos entrevistados. Os mais inativos são os idosos com 65 anos ou mais (38,2%), mas 12% dos jovens de 18 a 24 anos disseram também não ter feito esforços físicos.
Se o número de idosos inativos segue alto, o aposentado Giovaldo Pinto Moraes é um exemplo que foge das estatísticas. Aos 73 anos e cheio de disposição, ele caminha todos os dias durante uma hora. Após o seu trajeto diário, ele dedica um tempo para se exercitar na academia ao ar livre. “Se a gente se aposentar e ficar no sofá, deitado, comendo e vendo televisão, ai sim que ficamos velhos”, afirmou. Foram 35 anos de trabalho onde Giovaldo precisava estar em forma para aguentar o dia a dia. “Meu exercício sempre foi o meu serviço. Tinha um bom preparo físico, subia e descia naquelas torres de alta tensão. Eu também jogava muito futebol. Quando me aposentei, comecei a caminhar e correr para não ficar parado, porque, minha idade pode ser velha, mas minha cabeça continua muito nova”, falou.
A busca pelo exercício físico
Tão importante quanto realizar a atividade física é ter um profissional capacitado da área lhe auxiliando. Embora não haja restrições para a prática, o excesso e a execução do exercício de forma errada pode ser um risco para a saúde. “As pessoas começam a realizar sozinhas o exercício e pensam ‘vou começar devagarinho’. Mas o quanto é isso? O profissional vai prescrever o melhor programa de exercício de acordo com o biotipo de cada indivíduo, levando em consideração suas capacidades e incapacidades. O exercício precisa ser adequado para cada sujeito, respeitando o principio da individualidade biológica. Porque, um treino que é bom para mim não quer dizer que seja bom para você. As pessoas devem começar a entender que, sem orientação, elas estão dando um tiro no escuro”, esclarece o Coordenador do Curso de Educação Física Bacharelado da UPF, Nelson Tagliari.
A atividade física, como qualquer outra, exige tempo, dedicação e disciplina. É comum ver pessoas buscando obter resultados em um curto espaço de tempo. Em alguns casos, acabam buscando remédios e fórmulas milagrosas para perder os quilinhos a mais de forma rápida, colocando em risco sua saúde. “Muitas pessoas querem um produto milagroso que as façam perder gordura mais rapidamente assim como ganhar mais massa. Não existe medicamento que garanta uma boa qualidade de vida e combata as doenças por falta de movimento. As pessoas precisam entender que, o exercício físico exige dedicação, disciplina e um tempo para se dedicar a atividade. Além disso, é necessário um tempo para alcançar os resultados desejados. Não adianta a pessoa se exercitar por um ou dois meses, se sentir bem e parar de praticar. Tudo o que você adquire através do treinamento irá desaparecer no momento em que você parar de fazê-lo”, comenta Tagliari.
Alimentação balanceada
A pesquisa Vigitel 2014 apresentou outro hábito positivo para a saúde do brasileiro, relacionado com a alimentação. As frutas e hortaliças estão presentes na rotina da população. Do total de entrevistados, 36,5% disseram consumir esses alimentos cinco ou mais dias da semana. Já o consumo de carnes com excesso de gordura caiu para 29,4%. Outro dado importante diz respeito ao consumo de doces e refrigerantes. Cerca de 20,8% da população toma refrigerante cinco vezes ou mais na semana, menor índice desde 2007.
Independente do objetivo, uma alimentação balanceada deve ser um costume diário. É o que afirma a nutricionista Patrícia Folle. “Para aqueles que praticam alguma atividade física com regularidade, a alimentação é um fator fundamental para garantir um bom resultado. Por isso, ela deve ser equilibrada e completa, permitindo que o corpo realize todas as suas funções adequadamente e alcance um bom desempenho. Uma correta nutrição ajuda a evitar a fadiga, otimiza o período de recuperação, diminui o risco de lesões, além de garantir a correta reposição dos estoques de energia. Não atingir as demandas nutricionais adequadas pode prejudicar a recuperação pós-treino e comprometer a saúde dos indivíduos” esclarece a nutricionista.
Para Tagliari, as questões nutricionais são importantes, independentemente se a pessoa gostar ou não. É uma questão de saúde. “Se você realmente está preocupado com a tua qualidade de vida, você tem que mudar. Hoje, a nível nutricional, não é deixar de comer um monte de coisa. É deixar de comer um monte de coisa que te prejudica, e que você pode substituir por outros alimentos igualmente saborosos, que vão te nutrir super bem sem te trazer danos”, conclui.
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Na edição de segunda-feira, confira algumas dicas para a prática de atividades físicas e alguns locais da cidade onde você poderá se exercitar com acompanhamento de um instrutor.