Os cortes no orçamento federal, anunciados pelo governo na última sexta-feira (22) devem ter impacto quase imediato na vida da população, especialmente nos serviços de saúde, que sofreram o maior aperto nas contas. “O corte foi muito grande em vários setores. Somente na saúde foi de R$ 30 bilhões e isso significa que o acesso vai ficar ainda pior no Sistema Único de Saúde, vai ser mais difícil conseguir exames e atendimento”, comenta o economista Julcemar Zilli.
Além da saúde, o corte é substancial na educação, que já está gerando impacto na vida do cidadão, especialmente no que se refere ao Fies. “O corte na educação é superior a R$ 9 bilhões e já estamos vendo o impacto, principalmente no Fies, onde a disponibilidade para novos alunos diminuiu muito e, automaticamente, aquelas pessoas que precisavam desse auxílio para permanecer na universidade podem ter problemas”, salienta Zilli. Ele ressalta ainda que é o consumidor que vai ficar ainda mais desassistido.
Para o economista Vitor Dalla Corte, quem planejou estudar com o Fies saiu bastante prejudicado. “Direta ou indiretamente, todas as medidas terão algum tipo de impacto sobre o cidadão. Um exemplo claro está relacionado à política de acesso ao financiamento estudantil, especificamente, o Fies. Os cortes impactaram diretamente o planejamento dos estudantes que ainda não conseguiram novos contratos. Outras medidas adotadas, como a alteração na CIDE dos combustíveis, maior rigor de acesso a alguns benefícios previdenciário e contenção de crédito, também têm reflexos no cotidiano da população, mas seus efeitos reais só poderão ser mensurados com o passar do tempo”, destaca.
Medidas necessárias?
Os dois economistas acreditam que eram necessárias medidas para tentar mudar a situação que o país vem vivendo, mas uma das alternativas poderia ser a proposta de corte nos gastos governamentais e não mais uma vez fazendo com que a população pague a conta. “As medidas são de ajustes das contas. Como o próprio ministro Joaquim Levy já mencionou '...não existe almoço grátis...', isso quer dizer que todo serviço público gratuito, na realidade, é bancado com dinheiro pago pelo contribuinte. Esses recursos não são infinitos e o que existe é um desajuste entre a arrecadação e os gastos. Para contornar esse problema, emergem algumas alternativas: o país se endivida cada vez mais para pagar esta conta, aumenta impostos, e continua gastando mais do que arrecada, ou tenta equilibrar as suas contas. Sempre existem alternativas econômicas, mas os ajustes são necessários devido a uma série de sinais que indicam uma relativa sensibilidade da economia nacional, como o PIB, inflação e desemprego. Este momento de fraqueza pode se transformar num cenário para oportunidades, principalmente para análise da melhor forma de empregar o dinheiro pago pelo contribuinte, e para o início de um processo de profundas e necessárias reformas” argumenta Dalla Corte.
Segundo Zilli, era preciso fazer alguma coisa para conter o avanço do nível de inflação e tentar restruturar o caixa do governo, “que está descoberto justamente porque foram feitos gastos pré-eleição em volumes significativos sem condições de ter esse dinheiro e agora, automaticamente, vem a conta para o consumidor. Precisava ser feita alguma coisa e essa era uma das alternativas. Mas o que mais indigna é que o corte é do consumidor, e o poder público está conseguindo aumentar seus salários, as suas verbas. O consumidor mais uma vez vai pagar a conta da bobagem que foi feita pelos governantes”, avalia.
Momento é de evitar gastos
De acordo com Zilli um dos efeitos que ainda pode ser esperado é uma restrição ainda maior na concessão de crédito. “Vai dificultar o acesso das pessoas as crédito. E o momento para o consumidor é de segurar qualquer tipo de consumo, de preferência aquele consumo que envolve dívidas, porque fazer alguma compra para pagamento de médio e longo prazo, sendo que teoricamente não teria necessidade, é extremamente perigoso, porque não se sabe quais são as novas estratégias que o governo vai utilizar para tentar sanar todo o problema”, alerta.
Sem boas previsões para este ano
O ano de 2015, sob esta perspectiva, pode ser considerado nulo para o crescimento econômico. “É difícil fazer qualquer previsão. Este ano a economia vai diminuir em torno de 1,5% e os efeitos acabam refletindo diretamente nessas variáveis. Para o ano que vem, existe uma previsão de crescimento de cerca de 0,5%, mas crescimento em cima de uma queda. Então, na verdade, vai crescer quase nada. São apenas tendências e projeções baseadas numa possível melhora da economia ainda este ano o que, na minha opinião, dificilmente vai acontecer. Então é difícil fazer qualquer tipo de previsão para este ano. Ano que vem vamos ver o que vai acontecer”, enfatiza Julcemar Zilli.