Falta de liquidez e descapitalização das indústrias preocupa mercado agrícola

Baixo fluxo de capitais circulando afeta diretamente a comercialização, uma vez que enxuta as opções do mercado consumidor

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A crise econômica vivida pelo Brasil afeta também o setor agrícola. Embora os bons resultados registrados na última safra, hoje o maior problema é a falta de liquidez no mercado e a descapitalização do setor industrial que não consegue enfrentar as burocracias. A análise é do consultor da New Agro Commodities João Pedro Corazza que enfatiza a necessidade de se aproveitar o momento de crise para se buscar novas alternativas para garantir o sucesso da agricultura brasileira.

Corazza destaca que pode-se observar nos números divulgados pelo governo que o único setor econômico que ainda trabalha no campo positivo é o agropecuário. “Viemos de uma safra recorde de grãos, proporcionada por grandes investimentos na produção e, é lógico, com a colaboração do tempo. O maior problema atual é a falta de liquidez no mercado e a descapitalização do setor industrial que não consegue enfrentar as burocracias: as altas cargas tributárias e, principalmente, a falta de confiança do mercado perante o atual governo. O baixo fluxo de capitais circulando afeta diretamente a comercialização, uma vez que enxuta as opções do mercado consumidor”, inicia.

Segundo ele, as exportações, em virtude da alta do dólar frente ao real, ainda conseguem garantir um maior rendimento e lucratividade ao setor produtivo. “Com isso, grande parte da safra de verão já foi comercializada e já se projeta as lavouras para a próxima temporada. Apesar da alta dos custos, a margem de lucratividade foi boa, garantindo, por pelo menos mais um ano, a permanência na atividade”, pondera.

Reflexos
O consultor explica que os reflexos principais da crise são a falta de confiança e, principalmente, capital de giro no mercado que poderão ser sentidos por vários anos em vários setores da economia. Para Corazza, as consequências vão desde a falta de financiamentos agrícolas até obras de infraestrutura prioritárias, como em portos e rodovias que poderiam ajudar a maximizar os lucros e diminuir os altos custos de produção. “Atualmente, as atividades mais afetadas são as que mais empregam, ou seja, os setores industriais e de serviço. Chegamos a esse terrível momento devido aos gastos descontrolados de nossos governantes, aos inacreditáveis absurdos e inconsequentes atos de corrupções, falta de planejamento, má administração, péssima reputação para atrair investimentos, enfim, não está fácil para sair do fundo do poço. Isso afeta não só o trabalhador, mas o empregador”, avalia.

As consequências poderão ser sentidas em demissões no mercado interno, fazendo com que grandes empresas consumidoras de grãos, entre elas fábricas de rações, esmagadoras de soja, moinhos, empresas de biodiesel, frigoríficos, cerealistas e cooperativas, por exemplo, possam diminuir seus consumos ou até mesmo fechar as portas. Essa situação poderá causar ainda inadimplências no setor, aumentando o número de oferta e, consequentemente, gerando uma nova crise com quedas nas cotações.

Restrição de crédito
Corazza destaca ainda que a falta de confiança e grande número de inadimplências faz com que as principais instituições bancárias restrinjam créditos e financiamentos. “As taxas de juros aumentaram e com certeza o produtor entrará nesse bolo, sofrendo as consequências nos seus custos de produção”, prevê. Por outro lado, ele enfatiza que o setor é muito forte. “Viemos de três excelentes safras e com ótimos preços. Isso fortaleceu o campo. Mais investimentos foram atraídos e podemos afirmar que as tecnologias aplicadas nas lavouras são as melhores da história. O produtor regional está, de certa forma, bem capitalizado”, afirma. Na opinião dele, a recessão no campo só se dará com queda brusca nos preços ou, principalmente, com a falência de setores consumidores para os quais são vendidos os grãos. “Assim, a bola de neve aumentaria afetando diretamente o setor produtivo. Só eficientes ações governamentais salvariam o agronegócio”, argumenta.

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