Vítimas de acidentes ocupam 30% dos leitos hospitalares

Percentual chega a dobrar em caso de acidentes graves. A complexidade do atendimento é apontado como um dos fatores que contribuem para a lotação das emergências nos hospitais

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O médico Rodrigo Latuada definiu como calmo o dia de trabalho na Emergência do Hospital da Cidade na sexta-feira, 20 de junho. Mesmo assim, em sete horas de expediente, o chefe do setor já havia recebido quatro vítimas de acidentes de trânsito em Passo Fundo. Esse tipo de paciente ocupa 30% dos leitos nos hospitais brasileiros, segundo dados da Associação Brasileira de Medicina no Tráfego (Abramet). O percentual dobra quando analisadas as UTIs, que recebem as vítimas em estado grave. Os dados apresentam uma média nacional, que é parecida à realidade do HC. Segundo Latuada, um terço dos atendimentos na emergência do hospital tem origem nesse tipo de acidente. Isso quando o tempo ajuda. “Em dia chuvoso, que era para o pessoal ficar mais atento, acaba não ficando. Nesses dias, dá pra dizer que dobra o número de acidentes”, explica.

No Hospital da Cidade, uma vítima de acidente de trânsito considerado leve permanece na emergência entre seis e 12 horas, dependendo da gravidade dos ferimentos. Durante esse período, a pessoa ocupa um dos 25 leitos do setor. Há, ainda, outras 25 macas para atendimento, que ficam nos corredores. E essa internação custa caro. O atendimento a uma vítima de acidente de trânsito com ferimentos leve custa, em média, entre R$ 80 e R$100 ao HC. O SUS repassa ao hospital R$ 10 por paciente atendido. Se o atendimento custa mais que o valor recebido, o que geralmente ocorre, o HC paga a diferença. Nesse modelo, o hospital tem prejuízo, que é coberto com o dinheiro que a instituição recebe dos convênios particulares.

Por que lota a emergência?
A equipe da emergência Hospital da Cidade atende diariamente 100 pessoas. Mas esse número aumenta em um terço com a chegada do inverno, porque, segundo Rodrigo Latuada, cresce a procura por tratamento de enfermidades relacionadas à estação. Além disso, o atendimento às vítimas de acidente de trânsito requer tempo e é a prioridade dos médicos. Assim, ao chegar um acidentado, os outros pacientes têm de esperar. O resultado é a emergência lotada. “Noventa por cento dos atendimentos são dor de cabeça, amidalite, dor de ouvido”. A solução, de acordo com o médico, é investir no atendimento nos bairros. “Passo Fundo tinha que ter uma Unidade de Pronto Atendimento para atender essas pessoas. Se o caso fosse grave, aí sim teria que trazer o paciente para a emergência”, sugere. Com esse modelo proposto por Latuada, as emergências seriam destinadas apenas a pacientes em estado grave de saúde, o que não ocorre atualmente. Já o gasto de um paciente internado em estado grave muda de acordo com a necessidade de exames, medicação e internação, mas é, da mesma maneira, considerado caro para o hospital.

HSVP
O Hospital São Vicente de Paulo atende 1.800 acidentados por ano. Desse número, segundo um dos médicos responsáveis pela emergência cirúrgica do hospital, Dr. Jorge Anunciação, mais de 60% tem origem no trânsito. O hospital recebe uma média de cinco atendimentos relacionados a acidentes desse tipo por dia. O HSVP não é destino apenas das vítimas de acidentes ocorridos em Passo Fundo. “Nos hospitais da região, nós não temos condições de atender politrauma grave nenhum”, afirma Anunciação. É comum o HSVP receber acidentados também de outras localidades do Estado. “Nós atendemos pacientes de 509 cidades, porque somos um hospital de referência no trauma. Muitas vezes acontece de recebermos pacientes de Rio Grande, Uruguaiana, que deveriam ir para cidades mais próximas. Isso acontece porque os leitos de lá estão saturados”, explica. Mas não sobram leitos no HSVP: são apenas 33 na emergência. “Se dobrasse o número de leitos, mesmo assim não seria o suficiente, porque atendemos muita gente”, afirma a facilitadora do hospital, Cristiane Roveda. Além de receber os acidentados, há, a exemplo do Hospital da Cidade, o atendimento àqueles pacientes com doenças leves. Emergência lotada é rotina. “A gente tem que se virar para receber os doentes”, explica o doutor. 

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