O consumo médio de mel no Brasil é de 120 gramas por pessoa ao ano, enquanto o consumo de açúcar chega a 52 quilos por brasileiro no mesmo período. Com propriedades que garantem benefícios à saúde, o mel poderia substituir o consumo de açúcar, porém, grande parte da população desconhece que o mel, diferente do que ocorre com o açúcar, não é prejudicial à dentição e, além disso, é uma rica fonte de energia.
A fim de traçar o perfil do apicultor e da produção de mel no Planalto Médio e no Alto Uruguai do Rio Grande do Sul, o engenheiro agrônomo e diretor da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (FAMV/UPF), professor Hélio Carlos Rocha, e o engenheiro agrônomo, assistente técnico regional em Apicultura da Emater/RS-Ascar, Ivan Guarienti, realizaram um estudo que envolveu três anos de pesquisa e coleta de 136 amostras de mel em 19 municípios da mesorregião.
Conforme os pesquisadores, o estudo é fruto de um projeto iniciado ainda na década de 1990, o censo apícola, que envolveu a UPF, a Emater e a então Secretaria de Ciência e Inovação do estado. A intenção foi promover o desenvolvimento da apicultura, tendo em vista que a atividade se faz presente em muitas propriedades rurais, especialmente de imigrantes italianos e alemães. Dados da Emater esclarecem que a produção de mel na região do Planalto Médio é de cerca de 350 toneladas, representa em torno de 10% da produção do estado e envolve aproximadamente três mil produtores e 36 mil colmeias.
Os resultados
De acordo com os autores, o Rio Grande do Sul tradicionalmente esteve na vanguarda da apicultura nacional, tanto no aspecto tecnológico quanto na produção, e, a cada ano, o mel brasileiro vem ganhando espaço no mercado internacional. Em 2010, o Brasil exportou 18,6 mil toneladas de mel e, entre 2005 e 2010, o crescimento nas exportações foi de 22,4%. O volume médio nos últimos 10 anos foi de 16 mil toneladas de mel exportadas.
O estudo apontou que os fatores que limitam o crescimento da apicultura são comercialização de mel (28,5%), tempo de dedicação à atividade (16,5%), baixo preço do produto (15,4%), falta de mão de obra (14,7%), escasso potencial melífero (8,2%), alto preço dos insumos (5%), falta de conhecimento técnico do apicultor (4,2%), outros fatores (2,8%), agressividade das abelhas (2,4%) e falta de assistência técnica (2%).
As mesorregiões do Planalto Médio e do Alto Uruguai apresentam diversidade botânica, o que contribui para uma floração abundante e bem distribuída durante o ano. Com isso, o mel produzido na região apresenta espectro de coloração que vai desde o extra branco até o âmbar escuro. A cor, segundo os autores, é a característica mais importante na definição de compra do mel pelo consumidor. Em geral, os de coloração mais escura são mais ricos em minerais, no entanto, o estudo apontou que essa tendência não se confirma com a análise das amostras coletadas na região. A pesquisa constatou que os méis mais escuros apresentaram maior quantidade de pigmentos vegetais, como antioxidantes naturais, o que, além de alimento, os torna um conservante natural.
A partir da pesquisa, foram desenvolvidos diferentes trabalhos, como cursos de capacitação técnica aos apicultores, padronização pela caixa americana, monitoramento sanitário dos apiários, incentivo à troca de cera alveolada e de rainhas, inspeção do mel e implantação de uma laminadora de cera alveolada junto à UPF. Na Universidade de Passo Fundo, a pesquisa também atende aos aspectos pedagógicos de ensino e pesquisa, além de fornecer dados para a extensão rural. A pesquisa foi publicada em um livro que vem sendo distribuído a técnicos e produtores de mel da região, servindo de base para ações que promovam a melhoria da atividade.