O processo de industrialização de Passo Fundo mudou a matriz econômica do município. Os resultados têm garantido melhor posição no ranking de crescimento no Rio Grande do Sul. Em 2012, Passo Fundo assumiu a 6ª posição no ranking do PIB gaúcho. A taxa de expansão do PIB, no ano medido, foi de 25%. Com a indústria, cresceu acima da média estadual e chegou a uma produção de R$ 6,2 bilhões. Entre as dez maiores potências do Estado, teve a maior variação nominal da VAB industrial, com crescimento de 29% no período. O desenho da mudança da matriz econômica iniciou em 2005, quando a BSBIOS se instalou no município para produzir biodiesel. Hoje, a indústria é a terceira maior produtora do combustível sustentável do Brasil. Para o secretário de desenvolvimento econômico de Passo Fundo, Carlos Eduardo Lopes da Silva, a empresa tem participação fundamental nesses resultados. “A BSBIOS é muito importante para nós. Contribui para que o PIB se eleve, tem um papel fundamental com relação aos artigos tecnológicos, tornou-se uma empresa exportadora, está gerando riquezas para fora, abrindo mercados e ampliando a sua capacidade de negociação. Além de incentivar a produção de canola e a soja, fazendo com que tenhamos uma maior qualificação dos produtores e uma maior valorização dos preços. Tudo isso impacta positivamente na cidade”.
Biodiesel
O país deve fechar o ano como o 2º maior produtor de biodiesel do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Passo Fundo, por sua vez, tem papel importante nessa colocação, com o fornecimento, desde 2007, de quase 1 bilhão de litros. O combustível começou a ser produzido no Brasil em 2005, com a edição do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, em dezembro do ano anterior. O produto era tido como o mercado do futuro, mas sofreu algumas baixas no decorrer dos anos. A partir de 2008, a mistura de biodiesel puro ao óleo diesel passou a ser obrigatória. Começou com uma porcentagem de 2%, ainda em caráter autorizativo, passou para 3% em 2007 e, em 2010, chegou a 5%, valor que não sofreu alteração até o ano passado. Em consequência, a ociosidade das usinas superava os 60% em 2013, pois a capacidade instalada era de 7 bilhões de litros/ano e a produção e o consumo nacional foi de 2,9 bilhões de litros. Isso levou a quase 30 usinas a fecharem suas portas ou suspender as operações. Esse quadro foi alterado em novembro de 2014, quando o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aumentou para 7% o percentual obrigatório de mistura. A mudança deu fôlego ao setor e deve provocar um crescimento significativo em 2015, um aumento de mercado em torno de 40% em relação ao ano passado.
BSBIOS
Em Passo Fundo, a produção do biocombustível teve início em 2007. A BSBIOS tem capacidade para produzir aproximadamente 424,8 milhões de litros de biodiesel/ano. Desde a fundação, a empresa já produziu mais de 937 milhões de litros e a marca de 1 bilhão deve ser atingida até o final do ano. Além dos mais de 500 empregos gerados, o impacto da indústria é sentido na agricultura, beneficiando cerca de quinze mil agricultores familiares, produtores de soja e canola nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. De acordo com o diretor presidente da empresa, Erasmo Carlos Battistella, a relação com os produtores tem duas frentes. “A primeira é um trabalho direto, onde nós compramos a produção, vendemos para eles fertilizantes e defensivos e prestamos assistência técnica, independentemente se o produtor é pequeno, médio ou grande. A segunda forma de trabalho é mais direcionada aos produtores pequenos, de onde vêm 40% da nossa matéria-prima. Esse produtor vende diretamente para nós ou através de cooperativas de toda a região”, explica. Esse impacto econômico e social na produção agrícola primária é positivo para o município. “A vinda da empresa provocou uma valorização na produção agrícola, principalmente da soja, e uma estabilidade maior de preços. Como a gente processa soja e produz biodiesel o ano todo, há uma demanda o ano todo pelo produto. Quando não havia produção de biodiesel, a demanda era mais focada na safra”, pontua Battistella. Em 2008 o Ministério do Desenvolvimento Agrário criou o Selo Combustível Social (SCS), que prevê benefícios fiscais para as usinas que adquirirem matérias-primas da agricultura familiar organizada em cooperativas. Segundo a Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio), um ano após, o SCS se transformou no maior programa de transferência de renda para o homem do campo, com repasses - só na compra das matérias-primas oleaginosas como soja, canola, girassol, algodão e gordura animal - de quase R$ 11 bilhões até o final deste ano. Para o ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Passo Fundo e diretor do setor indústria da Acisa (Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Agronegócio de Passo Fundo), Marcos Cittolin, a vinda da BSBIOS agregou valor a cerca de 10% da soja produzida no Estado. “Todo o seu faturamento, seja no biodiesel, no farelo ou em outro qualquer subproduto é um novo valor na economia local e regional. A inauguração da empresa foi a grande marca da retomada do crescimento industrial, parece que mexeu positivamente com a autoestima da cidade e depois dela muita coisa boa aconteceu em termos de crescimento industrial em Passo Fundo”.
A força da Indústria
Um investimento de cerca de R$ 4 bilhões para gerar mais de 100 mil empregos em 65 usinas em todo o país. O que começou em 2004 hoje reverbera na sociedade de modo positivo. Só em Passo Fundo, o valor adicionado bruto da indústria ao PIB desde 2007, ano de início da produção, aumentou mais de 100%. “Nós conseguimos aumentar o PIB industrial significativamente. Eu acredito que hoje nós somos uma das maiores empresas da região norte do Estado no que diz respeito a faturamento e geração de impostos, tanto federais como estaduais e municipais. Isso tem um impacto significativo para o município”, explica Battistella. Para ele, a indústria tem papel importante no posicionamento de Passo Fundo como um dos maiores potenciais do Rio Grande do Sul. “Colocamos o município dentro de um novo mapa estratégico na produção de biocombustível. Além de, indiretamente, auxiliar no comércio e na prestação de serviços”. A indústria como um todo passou a ter maior importância no PIB de Passo Fundo, aumentando sua representatividade, a partir do ano 1996. Para o economista e professor da Universidade de Passo Fundo, Marco Antonio Montoya, isso mostra um amadurecimento na matriz econômica do município. “A dependência de poucos setores causa muitas crises, fragiliza a economia. A matriz produtiva mudou seu perfil para melhor, os setores serviço e indústria se fortalecem e fortalecem a economia como um todo”.
Farelo de soja
Com a produção realizada a partir do óleo de soja, além do biodiesel é produzido uma grande quantidade de farelo de soja. O desenvolvimento ocorre não apenas no município da usina, mas nas cidades do entorno, que recebem centros de recebimento de grãos, mais próximos dos agricultores. Apenas a BSBIOS possui 17.
Sustentabilidade
O biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras animais. Estimulados por um catalisador, eles reagem quimicamente com álcool. Existem diferentes espécies de oleaginosas no Brasil que podem ser usadas para produzir o biodiesel. Entre elas estão a mamona, dendê, canola, girassol, amendoim, soja e algodão. Matérias-primas de origem animal, como o sebo bovino e gordura suína, também podem ser utilizadas na fabricação do biodiesel.