Com o início do período de plantio do milho, a densidade de semeadura deve ser um dos pontos ao qual os produtores devem dar atenção especial. Para esclarecer as principais dúvidas sobre o processo, o pesquisador da Embrapa Trigo de Passo Fundo Mauro César Celaro Teixeira elaborou artigo de orientação. O material pode ser conferido abaixo:
Ao contrário de outros cereais, como trigo, cevada ou aveia, por exemplo, que possuem grande plasticidade em termos de densidade de semeadura devido a capacidade de compensação existente entre os componentes do rendimento, o milho possui a faixa ótima de densidade de semeadura estreita. Ou seja, qualquer erro na densidade de semeadura pode comprometer o rendimento de grãos. Dessa forma, para milho, além da escolha adequada do cultivar, a densidade de semeadura está entre os fatores de manejo que terão grande influência no sucesso da lavoura.
Explicando melhor, quando variamos a densidade de semeadura, para mais ou para menos em cereais de pequenos grãos, estes conseguem através da alteração de componentes do rendimento, compensar até certo limite a produção de grãos, sem perda significativa do rendimento. Isso é feito em grande parte através do aumento ou diminuição do número de estruturas reprodutivas, representadas principalmente pela variação do número de espigas. O aumento e/ou diminuição do número de espigas, característica que confere plasticidade a esses cereais, é resultado da capacidade de afilhamento, característica essa reduzida ou quase eliminada no milho durante as gerações de domesticação e melhoramento.
Se formos comparar os materiais recém lançados com materiais de milho cultivados há algumas décadas podemos constatar que existem grandes variações no manejo empregado bem como nas características fenotípicas da planta. Nota-se, principalmente, que diminuiu a estatura de planta, o tamanho e o peso do pendão; melhorou o ângulo da lâmina foliar e a prolificidade ou capacidade da planta em apresentar múltiplas espigas.
Também é notável a melhoria de sincronismo reprodutivo, ou seja, a diminuição do intervalo entre o pendoamento e o espigamento (emissão da boneca), resultando em aumento do número de grãos e também, a melhoria da resistência do colmo, que propiciou a diminuição do acamamento de plantas. Tudo isso sem mencionar as grandes mudanças ocorridas em características não visíveis e que dizem respeito à melhoria de absorção/translocação de nutrientes, no metabolismo de compostos orgânicos; resistência a moléstias, tolerância a estresses, aumento da eficiência fotossintética e competitividade. Todas essas alterações fenotípicas provocaram mudanças em indicações de manejo para os diferentes cultivares. Hoje, cada cultivar de milho liberada para cultivo, híbrido ou variedade de polinização aberta, deve vir acompanhada de indicação da faixa de densidade de semeadura mais adequada para atingir elevados tetos de rendimento.
De um modo geral, os híbridos de milho recentemente lançados, suportam aumento significativo do número de plantas por hectare, quando comparados aos materiais mais antigos, com reflexo positivo no rendimento de grãos. No entanto, o que deve ficar bem claro é que existem sérias limitações ao aumento de densidade de plantas. Assim como pode vir a aumentar o rendimento, também pode levar a perda, dependendo das condições de ambiente. Pois quando aumentamos a quantidade de indivíduos em uma determinada área, também aumentamos a competitividade e a busca por recursos do meio (água, nutrientes, luz, entre outros). E, nesse sentido, a disponibilidade hídrica ou quantidade de água disponível para as plantas, durante ciclo e principalmente no período crítico, que envolve o florescimento, é de fundamental importância. Dessa forma, é importante quando for considerado o aumento da densidade de semeadura em milho que o produtor semeie na época indicada para a sua região, fique atento às previsões meteorológicas e use de irrigação suplementar quando for necessário.