Soltando os cachorros

Voluntário investe cerca de R$ 3 mil para manter estrutura de canil e quase desiste da atividade

Por
· 2 min de leitura
Parte dos animais solto pela manhã permaneceu nas imediações do canilParte dos animais solto pela manhã permaneceu nas imediações do canil
Parte dos animais solto pela manhã permaneceu nas imediações do canil
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Após soltar aproximadamente 100 cães e anunciar a demolição do canil que mantinha há cerca de um ano, o empresário João Andrade voltou atrás ontem à tarde. Ele decidiu manter a estrutura e continuar com o trabalho voluntário. Proprietário de uma oficina mecânica na Avenida Rio Grande, no bairro Valinhos, Andrade começou em 2012 a tratar os animais abandonados em frente ao seu estabelecimento. Para dar conta da demanda, há cerca de um ano decidiu construir um canil, distante cerca de 100 metros de seu local de trabalho, em um terreno da prefeitura municipal. O investimento foi de aproximadamente R$ 12 mil. De abril deste ano até o mês de setembro, o número de cães saltou de 19 para 100. “O canil virou ponto de abandono. As pessoas largam os animais sobre a tela e fogem” afirma. 

Para tratar os cães de maneira adequada, Andrade investe mensalmente cerca de R$ 3 mil, entre ração, medicamento e veterinário. Os animais ficam separados entre machos, fêmeas, filhotes, e também por tamanho. O próprio empresário se encarrega da higiene no local. Na manhã de ontem, Andrade chamou a atenção ao abrir os portões do canil e literalmente soltar os cachorros. A decisão, segundo ele, ocorreu em função das constantes reclamações de vizinhos em relação ao barulho e também porque alguns cães ficam soltos na rua. “Eu venho à noite aqui. Eles não incomodam. Como não tenho espaço para todos, uma pequena quantidade permanece do lado de fora. Este é um dos motivos das queixas. Tudo é mantido com muita higiene. Uma pessoa chegou a dizer que a solução era envenenar os bichos para resolver o problema. Isso me causou muita indignação. Meu ato de hoje serviu como protesto” desabafou.

Além de abrir os portões, o empresário anunciou a demolição do canil para o início da tarde de ontem. A decisão movimentou as redes sociais. Diversas entidades se manifestaram favoráveis à continuidade do trabalho. A partir de uma conversa com o coordenador de fiscalização e licenciamento ambiental, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Rafael Colussi, Andrade resolveu voltar atrás em sua decisão. Segundo Colussi, a Sema já havia recebido uma notificação do Ministério Público para averiguar o canil. “Estivemos aqui no mês de abril e constatamos que as condições dos animais eram adequadas” afirma. Segundo ele, a prefeitura vai manter parceria com o empresário em projetos de castração e doação. “Também o alertamos de que o ato de soltar os cães se configura em abandono de animais, uma vez que ele é o responsável” afirma, dizendo que iria conversar com o responsável pela ameaça de envenenamento dos cães.

Segundo ele, o índice de abandono de animais em Passo Fundo é bastante elevado. “As pessoas se mudam e deixam os bichos para trás. Recentemente encontramos 32 gatos abandonados em uma residência. Isto é crime e estamos fiscalizando” alerta. No início da tarde, Andrade pediu aos funcionários que instalassem novamente os portões no canil, no entanto, boa parte dos cachorros já havia fugido do local. “Vou continuar cuidando deles, mesmo que para isso tenha que ‘apanhar’ dos vizinhos” declarou o empresário.

Gostou? Compartilhe