Crise deve afetar política de garantia de preço mínimo

Alta do dólar, aumento de impostos e dos juros causam efeitos negativos aos agricultores

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João Pedro Corazza, sócio-diretor da New Agro CommoditiesJoão Pedro Corazza, sócio-diretor da New Agro Commodities
João Pedro Corazza, sócio-diretor da New Agro Commodities
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As medidas econômicas adotadas pelo governo federal e a alta do dólar têm deixado o cenário pouco otimista para os produtores rurais. O encarecimento dos custos de produção e as dúvidas sobre a manutenção de políticas de garantia de preço mínimo estão entre os principais problemas. Em entrevista, o sócio-diretor da New Agro Commodities, João Pedro Corazza, explica os efeitos da crise na agricultura.

O Nacional - A crise vivenciada pelo Brasil e o rebaixamento da nota de crédito para investimentos pode, de alguma forma, comprometer as exportações brasileiras?
João Pedro Corazza - Estamos passando pelo pior momento econômico da história moderna do nosso país. A supervalorização do dólar perante o real faz com que nossa reputação frente aos demais países do mundo siga ladeira abaixo. Está difícil encontrar algum aventureiro que arrisque colocar o mínimo de investimento no nosso país. A crise político-econômica não permite a visualização de uma luz no final do túnel. As exportações brasileiras, de certa forma são favorecidas perante essa valorização cambial, porém, não devemos esquecer a turbulência interna, uma vez que os custos de produção estão nas alturas com impostos cada vez maiores. A indústria interna está se deteriorando. Juros altos e falta de controle nos gastos públicos afetam diretamente o setor produtivo. Com isso, exportamos muita matéria-prima in natura, deixando escapar pelo ralo os benefícios que uma transformação poderia trazer ao país.   

ON - Quais os impactos que a valorização do dólar tende a causar nos custos de produção?
JC - Felizmente nosso país é extremamente rico em matérias-primas naturais. Apesar disso, muita coisa ainda é importada. Temos como exemplo o trigo argentino, produtos farmacêuticos, derivados de petróleo e equipamentos eletrônicos. Com a alta do dólar a importação fica encarecida. O resultado disso é o aumento da inflação diminuindo violentamente o poder de compra do consumidor. Assim, vimos estoques altos, comércio vazio, inadimplência cada vez maior e o semblante de tristeza e indignação afeta toda a sociedade. Resultado disso se reflete na popularidade de nossa presidente.   

ON – E qual o efeito da valorização do dólar na venda das commodities?
JC - No mercado global as commodities não estão nos recordes de preços, como já foi observado (petróleo acima dos 100 dólares o barril, soja a 15 dólares o bushel, etc). O momento atual é de preços bem mais fracos, com soja na casa dos 8 dólares o bushel. Portanto, vale ressaltar que o preço só é recorde em virtude da desvalorização do real. Em contrapartida o custo de produção aumenta, já que os insumos são todos dolarizados. A atenção deve ser redobrada, já que o momento é de planejamento da próxima safra.

ON – Com relação aos subsídios destinados a programas de garantias de preços como vai afetar os produtores, especialmente os menores?
JC - Afeta diretamente na renda do produtor. O governo está falido. Falta dinheiro para educação, para segurança, para saúde. É um absurdo o que estamos enfrentando no país. Dificilmente haverá uma política de garantia de preço mínimo capaz de suprir a necessidade básica do produtor. Políticas de escoamento de produção com garantias de auxílio no frete, como Pepro (Prêmio equalizador pago ao produtor), Pep (Prêmio para Escoamento de Produto), também serão diretamente afetados. O sistema será atingido como um todo.

ON - Quais outros impactos as medidas econômicas adotadas pelo governo devem ter no setor agrícola?
JC - O aumento de impostos atinge diretamente o setor agropecuário. Fica mais caro produzir e consequentemente a margem de lucratividade diminui. A dificuldade enfrentada pelas empresas resulta em muitos pedidos de recuperação judicial, o que arrasta para o fundo do poço desde o produtor até a indústria de transformação. Todo cuidado é necessário e a atenção deve ser muito grande para não botar a perder todo o trabalho de uma vida.  

ON - Mesmo com toda essa situação, é possível aproveitar a próxima safra para garantir um bom ganho, mesmo frente ás adversidades?
JC - É na crise que aparecem as oportunidades. Não podemos deixar o cavalo passar encilhado e devemos tirar o melhor proveito do momento. Sabemos que não está nada fácil e a desconfiança é total. Mas preços como 80 reais a saca de 60 kg de soja, ou 30 reais a saca de milho já garantem uma boa margem para o produtor se manter na atividade. Ninguém sabe até quando vai durar o momento, ou se vai ou não piorar, portanto, toda essa turbulência ainda pode ser benéfica para o setor.

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