Atrasos no plantio da soja, perdas em produtividade e qualidade do trigo. As condições climáticas dos últimos meses não têm favorecido os agricultores gaúchos. Estimativas do escritório regional da Emater de Passo Fundo apontam que as perdas de produtividade no trigo devem ser de aproximadamente 50%, além disso, o produto a ser colhido deverá ter prejuízos na qualidade, o que reflete diretamente no preço pago ao produtor. O número de pedidos de seguro agrícola e Pró-Agro também é elevado para as áreas de trigo. No caso da soja, até o momento os agricultores implantaram apenas 5% do total da área a ser cultivada. No mesmo período do ano passado a área plantada já representava 25% do total.
O engenheiro agrônomo Cláudio Dóro explica que nos 40 municípios atendidos pela regional devem ser cultivados cerca de 525 mil hectares de soja. De acordo com o zoneamento agroclimático o período indicado para a implantação da oleaginosa se iniciou em 15 de outubro e se estende até 10 de dezembro. Apesar de ser um período que permite certa flexibilidade de plantio, o início da lavoura está atrasado em relação ao ano passado. Nesta mesma época, em 2014, já havia sido implantada 25% da área a ser cultivada. Neste ano, apenas 5% já foi semeado devido às condições climáticas adversas, especialmente por causa da chuva. “O agricultor não consegue entrar com as máquinas no campo. Isso que está causando a apreensão dos produtores que estão com tudo pronto, máquinas reguladas e insumos comprados no galpão aguardando para plantar”, relata.
Apesar da apreensão, os produtores precisam manter a calma para aproveitar os intervalos entre as chuvas para fazer a semeadura. “O período bom de plantio é bem elástico. Temos todo o mês de novembro que é muito bom. Assim que abrir o tempo, o produtor não pode esperar muito. Quando tiver condições de plantio, tem que plantar”, alerta enfatizando que é preciso tomar cuidado para não colocar a semente no campo quando houver muita umidade no solo, o que pode prejudicar a germinação. “Se iniciar mal, vai mal até o fim. Vai ser um plantio nervoso, mas não tem o que fazer”, reforça.
Safra cheia x Doenças
Historicamente, os anos de ocorrência de El Niño representam safra cheia para soja e milho, embora as condições sejam favoráveis para a maior incidência de doenças, especialmente a ferrugem asiática, no caso da soja. A doença precisa de temperaturas entre 18ºC a 25ºC e bastante umidade. “Pelo retrospecto de anos anteriores, esse deverá ser um ano que vai ter muita umidade e a doença é oportunista e vai tirar vantagem. Por isso os produtores têm de estar atentos e monitorar a lavoura. Quando for necessário fazer aplicação de defensivos, não se pode negligenciar”, orienta.
Perda de produtividade e qualidade
A colheita do trigo se iniciou lentamente na região e deve se fortalecer a partir da segunda semana de novembro, em função do período de plantio mais tardio praticado na região. A parte colhida representa apenas entre 1% e 2% do total cultivado. Mesmo assim, os indicativos não são bons. Dóro elenca três fatores principais que prejudicaram a safra. “Primeiro tivemos geada em setembro, depois tivemos quedas pontuais de granizo e por últimos tivemos excesso de chuva em setembro e outubro. Esses três fatores são responsáveis por essa frustração de safra que teremos e será bem grande. O trigo tá perdendo qualidade dia a dia e não tem o que o agricultor fazer porque ele não pode entrar com equipamento para aplicar defensivo”, detalha o engenheiro agrônomo.
A queda na produtividade deverá ser de aproximadamente 50%, conforme indicativos iniciais. “A perda é alta e a lucratividade das lavouras desapareceu. E o que for colhido vai perder qualidade e isso significa preço. O trigo 1, classe pão, tem o preço mínimo de R$ 34,98 o saco de 60 quilos. Se vender com PH abaixo de 70%, que não tem valor comercial, vai vender por R$ 19 ou R$ 20 a saca”, analisa.
Pedidos de seguro
Dóro esclarece ainda que muitos produtores rurais estão notificando os bancos para pedidos de seguro agrícola e o Pró-Agro em função das perdas. “Nosso corpo técnico está trabalhando forte nas vistorias de lavouras para periciar para o seguro agrícola e pró-agro. Na região já temos entre 700 a 800 pedidos, apenas na Emater. A tendência é se avolumar ainda mais”, prospecta.
Milho
Conforme o último informativo conjuntural da Emater Estadual, há a constatação de redução no stand de plantas do milho em decorrência das geadas, danos em função dos quais também se observa, em alguns casos, desenvolvimento desuniforme. Houve atraso na aplicação de nitrogênio em cobertura e possíveis perdas desse nutriente pelo excesso de chuvas. O plantio já atinge, em nível estadual, 64% do total previsto para este ano. A partir de agora, o ritmo da semeadura deverá ser mais lento, devendo ser finalizada até fins de dezembro, pois os produtores estão dando preferência à soja.