Ocupação da Annoni completa três décadas

Assentamento com cerca de 480 famílias é considerado símbolo da luta pela terra no Brasil

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Programação dos 30 anos teve ato político e apresentações culturaisProgramação dos 30 anos teve ato político e apresentações culturais
Programação dos 30 anos teve ato político e apresentações culturais
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A primeira ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), completou ontem 30 anos. No dia 29 de outubro de 1985, cerca de 7,5 mil famílias de 33 municípios, entraram na Fazenda Annoni, entre os municípios de Pontão, Sarandi e Ronda Alta. A data foi celebrada com um ato político no Assentamento Novo Sarandi e apresentações culturais durante a manhã e tarde. Presidente nacional do MST, João Pedro Stédile  definiu a  região norte  do Rio Grande do Sul como  um marco na luta pela terra no Brasil. “É um povo que lutou muito pela terra, para levar educação ao meio rural. Tanto que a Annoni foi o primeiro assentamento com escolas. A primeira a ter uma faculdade de agronomia. Muitos sonhos foram realizados aqui, o sonho de uma vida boa. A maior conquista do MST nesta região foi devolver a dignidade para o povo” afirmou.

Integrando a  programação comemorativa aos 30 anos, iniciou ontem, o Acampamento Estadual da Juventude Sem Terra. Para a edição deste ano o tema escolhido foi “Somos filhos e filhas de uma história de lutas”. O evento, que segue até domingo,  deve reunir cerca de 800 jovens do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Morador do assentamento Simon Bolívar, no município de Jóia, Igor Valsoler, 17 anos, disse ser gratificante poder conhecer as experiências desenvolvidas na Annoni. “Ainda mais numa data tão especial para a história do MST como esta” definiu.

Primeiro prefeito assentado no Brasil, Nelson José Grasseli cumpre seu terceiro mandato como chefe do executivo no município de Pontão.  Segundo ele, a ocupação na Annoni foi determinante para a emancipação de Pontão, em 1992. “Foi o que criou as condições de desenvolvimento. Aqui temos uma bacia leiteira importantíssima, uma produção diversificada, frigorífico, entre tantos outros produtos. Tanto que no dia 29 de outubro é feriado em nosso município” comenta. Grasseli lembrou  dos tempos difíceis dentro do assentamento, quando uma família com seis ou sete integrantes tinha de passar o dia com uma xícara de arroz. “Muitas vezes eu mesmo fazia esta distribuição, era muito difícil” afirma.

A programação aconteceu no Assentamento Sarandi, pertencente ao município de Sarandi. Prefeito da cidade, Paulo Kasper contou ter lecionado  para as séries iniciais  dentro do assentamento. Convivi  uns seis anos aqui dentro. A educação sempre foi prioridade para os assentados” comenta.

Bem estruturada na área de educação,  a Annoni oferece aos filhos dos assentados, três escolas de ensino fundamental e médio, curso técnico e uma faculdade de Agronomia. “Temos trabalho, estudo, lazer, tranquilidade e paz, aqui dentro. É um lugar maravilhoso para se viver” comenta Darci Maschio, 58 anos. Na madrugada de 29 de outubro de 1985, conduzindo um fusca, ele liderou o comboio de aproximadamente 30 caminhões, trazendo cerca de 2,5 mil pessoas, das regiões de Palmeira das Missões, Santo Ângelo e Erval Seco até a Annoni. “Uma noite inesquecível.  Depois ficamos quatro meses cercados pela Brigada Militar” recorda.  Para reunir os cerca de 7,5 mil agricultores das regiões norte e noroeste, foram necessários pelo menos dois anos de organização.

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