No Brasil vivemos hoje uma situação de incerteza angustiante na área da saúde por conta de um cenário sui generis, circulam concomitante três doenças causadas por vírus: dengue, zika e chikungunya, e transmitidas pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes aegypti. Estas enfermidades, além de causarem o desconforto devido as manifestações clínicas, apresentam o potencial de complicações graves e risco de morte. Destas doenças, destaca-se a causada pelo virus zika, recentemente introduzido no país e apontado como causador de complicações neurológicas graves como a Síndrome de Guillain-Barré (doença que inflama os nervos e causa fraqueza muscular) e a microcefalia, que acomete récem-nascidos de mães infectadas. Esta última complicação não havia sido descrita nos surtos ocorridos previamente, em outros países, portanto é mais um agravante. estamos lidando com uma situação pouco conhecida e da qual não sabemos quais as futuras repercussões.
Em termos de números destas doenças, neste ano foram registrados 1.566.510 casos prováveis de dengue no país (casos notificados). E foram registrados 2.401 casos suspeitos de microcefalia, em 549 municípios de 20 unidades da federação.Outro número preocupante é o de municípios brasileiros que foram classificados como em situação de risco para surto de dengue, zika vírus e chikungunya. Até o início do mês de dezembro de 2015, 199 municípios brasileiros foram definidos como estando em situação de risco, isso significa que mais de 4% das casas visitadas nessas cidades continham larvas do mosquito.
E como está a nossa região? Na cidade de Passo Fundo em 2015 foi registrado apenas um caso autóctone doença, e nas cidades vizinhas ocorreu número pequeno de casos. Mas, por outro lado, neste ano tivemos um número crescente de criadouros do mosquito transmissor, no último levantamento na cidade foram encontrados 798 focos de mosquito, distribuídos nos mais diversos pontos da cidade. E, ainda teremos vários meses de estação quente e possivelmente chuvosa.Neste contexto devemos salientar algumas características de nossa região, como: o de ser um importante entrocamento rodoviário; possuír um histórico de volumosa migração para as regiões do centro-oeste e sudeste (áreas com incidência elevada destas doenças); ser um grande centro universitário e de referência em saúde. Além disto estamos num período de férias. Todos estes fatores implicam num fluxo de pessoas muito intenso.
Quando questionado sobre o que precisamos para ter casos de dengue (e zika), costumo responder, existe uma receita com os seguintes ingredientes:
1. pessoas suscetíveis aos vírus (quase toda a nossa população);
2. mosquito transmissor (vide acima);
3. pessoas doentes portadoras do vírus (circulam ainda poucos casos).
Fica claro que temos todos os ingredientes da receita. Felizmente tivemos a sorte de não tê-los todos juntos para a “mistura”. Resta a dúvida: por quanto tempo este encontro vai ser prorrogado??
Portanto, apesar de hoje não ficar caracterizado uma situação de alto risco, estamos sim numa situação vulnerável para ocorrência de casos e de surto destas doenças nos próximos meses, com repercussões de difícil previsão, mas que podem ser muito graves.
O que precisamos fazer para que esta receita não se concretize, e para que possamos ficar fora do mapa da epidemia?
A única forma de evitar as três doenças é com o combate do mosquito, através da eliminação dos criadouros do mosquito nas casas, no trabalho e nas áreas públicas. Para chamar atenção sobre a importância da limpeza para a eliminação dos focos do Aedes aegypti, o Ministério da Saúde lançou a campanha "Sábado da faxina – Não dê folga para o mosquito da dengue". A ideia é que toda a população dedique um dia da semana para verificar todos os possíveis focos do mosquito, fazendo uma limpeza geral em sua residência e impedindo a reprodução do mosquito. Vamos fazer, cada um a sua parte, atue na sua casa, no seu condomínio, no seu bairro, no seu trabalho. Dedique 15 minutos do seu sábado para fazer uma faxina contra a dengue (ver figura). Divulgue esta ideia na sua comunidade. Participe da campanha e convença seus vizinhos a participarem do Sábado da faxina – Não dê folga para o mosquito da dengue".
Precisamos de uma ação forte dos órgãos públicos nas suas funções de vigilância e ação preventiva, atuando nos espaços públicos e espaços privados que são criadouros crônicos de mosquitos. Mas, mais importante, precisamos da participação de forma maciça da população, através da ação de cada indivíduo, da atuação coletiva de instituições e de empresas atuando nos vários ambientes de trabalho. Não é tarefa fácil, precisa de ação conjunta e persistente. Faça sua escolha. Como sugestão, recorte a figura 1, e de uma volta no ambiente externo mais próximo (residência ou trabalho) e faça a sua parte. Vamos mudar o final desta história.
Gilberto Barbosa é infectologista coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Vicente de Paulo e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo-RS
Dengue, zika e chikungunya: estamos em risco de termos uma epidemia na nossa região?
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