Uma pesquisa entre instituições gaúchas e paulistas busca monitorar a chegada de uma espécie europeia de abelha ao Estado. A Bombus terrestres, chamada popularmente de mamangava da cauda branca, deve chegar ao Rio Grande do Sul pela região sudeste, mas é possível que ela já esteja por aqui. A espécie já invadiu a Argentina e segue em direção ao Uruguai e a chegada do inseto poderá resultar em riscos ambientais para a agricultura e espécies nativas. Os pesquisadores pedem o apoio de produtores rurais no monitoramento. A orientação dos cientistas do Núcleo de Apoio a Pesquisa em Biodiversidade e Computação (NAP-BioComp) da USP, sediado na Escola Politécnica (Poli) dos pesquisadores é para que apenas sejam avisados da chegada do inseto, não é preciso capturar ou matar as abelhas.
A partir das características ambientais do habitat de origem da Bombus terrestris, o modelo desenvolvido na pesquisa levantou os locais do planeta que apresentam condições similarmente adequadas à espécie. A autor da pesquisa, o ecólogo André Luis Acosta, estima que ela poderá chegar ao Brasil, a partir de locais invadidos na Argentina, entre 10 e 20 anos. “Isso se considerarmos o histórico da progressão desta abelha em países já invadidos, como o Japão e a Nova Zelândia”. Todavia, devido à falta de informações sobre importações de colônias da espécie pelo Uruguai, a Bombus terrestris já pode estar invadido áreas muito próximas ao Brasil.
A espécie é uma excelente polinizadora. Por este motivo, suas colônias são amplamente comercializadas para polinização agrícola. Na década de 1970, agricultores chilenos adquiriram colônias de Bombus terrestris para melhorar a produção de tomates em estufa, mas as abelhas escaparam do confinamento e invadiram ambientes naturais naquele país. Em 2006 foi reportado que a área de invasão na América do Sul estava se expandido rapidamente e que a espécie já havia alcançado a Argentina, cruzando, para isso, a cordilheira dos Andes.
Abelha grande
Uma das principais características da espécie é que as abelhas, por seu grande tamanho e modo de trabalhar, conseguem transferir mais pólen entre flores do que muitas outras superando, inclusive, a Apis mellifera (abelha melífera comum), que também é uma espécie invasora europeia comumente utilizada para polinização agrícola. “Além de acumular grande quantidade de pólen sobre seus pelos, a espécie é capaz de vibrar seu abdome em alta velocidade, o que gera o aprimoramento da captura e transferência de pólen”, descreve Acosta.
Mesmo sendo uma excelente polinizadora e favorecendo plantas selvagens e agrícolas, quando invasora a Bombus terrestris é altamente competitiva com espécies nativas. “Elas começam a trabalhar mais cedo que outras abelhas, esgotando os recursos alimentares disponíveis nas flores, como o néctar, gerando impactos às espécies nativas que também dependem destes recursos para sobreviver”, explica o cientista. “E dependendo do tipo de flor, se esta abelha não consegue acessar o néctar pela abertura natural, ela abre buracos na base da flor, gerando danos que levam a sua queda prematura”, exemplifica. Isso reduz a taxa de frutificação da planta e gera uma série de impactos, tanto para a própria planta como também para outras espécies. “Além disso, a invasora poderá trazer consigo doenças e parasitas exóticos que podem contaminar plantas e outras abelhas nativas”, complementa.
Benefício
O pesquisador destaca que, por outro lado, algumas culturas agrícolas poderão se beneficiar pela presença de Bombus terrestris. “Ela pode ser favorável à polinização de culturas como a do tomate e da berinjela, mas também plantas agrícolas europeias, como a do mirtilo, cuja produção de frutos se concentra no sul do Brasil”, avalia o pesquisador.
Além do desenvolvimento do modelo computacional, o cientista percorreu a área susceptível à invasão no extremo sul do Brasil, um trajeto de cerca de 2.600 km durante um mês. Ele averiguou se a espécie já teria invadido o País, mas não a encontrou.
Acosta coordena uma campanha que vem sendo realizada junto aos agricultores, meliponicultores e apicultores do Rio Grande do Sul, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e com o suporte de instituições rio-grandenses, como Emater-RS e a PUC-RS.
Como ajudar
Quem encontrar esse tipo de abelha pode fotografá-la e encaminhas às imagens aos pesquisadores envolvidos pelo site www.abelhaprocurada.com.br. “Orientamos que a fotografem e nos envie a imagem e a localização para que possamos confirmar se de fato é a invasora ou outra espécie nativa; em seguida, se ela foi avistada, iremos até o local para estudá-la”, explica o pesquisador. No mesmo endereço eletrônico estão disponíveis outras informações sobre a espécie, como identificá-la e como reportar seu avistamento.