As lavouras de soja da região já começam a dar sinais do déficit hídrico em função da falta de chuva há mais de 10 dias. Antes dominadas pelo verde intenso agora a coloração das plantações fica mais cinzenta durante as horas de sol mais intenso. O mecanismo de defesa é natural para diminuir a perda de água. Ainda é cedo para se falar em perdas econômicas, mas o sinal de alerta já está aceso e os produtores começam a ficar apreensivos enquanto a chuva não vem.
Nos meses de outubro, novembro e dezembro as condições eram de chuva acima da média. No entanto, em janeiro isso se inverteu e, até o momento, choveu apenas 52mm, que representa somente 34,8% da média esperada para o mês. Este é um período crítico no desenvolvimento das lavouras em que as plantas necessitam entre quatro e cinco milímetros de água por dia. O engenheiro agrônomo da Emater Regional de Passo Fundo Cláudio Dóro destaca que o déficit hídrico já é superior a 100mm em janeiro.
A situação se complica ainda mais em função dos dias de sol, com temperaturas que oscilam entre 20ºC a 32ºC. Nessas condições a evapotranspiração - que é a evaporação da água do solo e a transpiração da planta – tem sido intensa, especialmente nos últimos 11 dias. “Um sinal de que a planta está bastante estressada é que ela começa a virar as folhas durante as horas de sol mais intenso e ao invés de serem verdes, as lavouras ficam mais cinzas ou prateadas”, reforça.
Fase crítica
As lavouras da região encontram-se em diferentes fases de desenvolvimento, a maior parte delas está no período crítico. Dóro explica que 10% ainda está em desenvolvimento vegetativo, 60% em floração e 30% formando vagem. “Ainda não dá pra avaliar danos econômicos, mas acendeu a luz amarela da preocupação”, reforça.A preocupação do produtor tem diversos motivos. Neste ano os agricultores fizeram altos investimentos na compra de sementes de alto potencial produtivo, boa adubação e tratos culturais. “Esse investimento precisa de retorno para pagar os compromissos e ter lucro. E quando tem uma estiagem como essa a preocupação é inerente”, ressalta. Caso a estiagem permaneça por pelo menos mais uma semana os danos econômicos já poderão começar a ser registrados. Por outro lado, se chover, a cultura tem condições de se recuperar, tendo em vista que é uma leguminosa rústica.
Situação geral
Algumas lavouras tiveram alguns problemas causados pelo excesso de chuva no início do ciclo. Em alguns locais houve a compactação do solo, perda de nutrientes pelo excesso de água, além de erosão. No entanto, depois que as chuvas se regularizaram as plantas apresentaram um bom desenvolvimento. E agora houve uma inversão do clima que causou a falta de água.
Ainda em dezembro, muitos agricultores tinham calendarizado a aplicação de defensivos, mas como chovia demais não conseguiam entrar com as máquinas na lavoura. Conforme Dóro, mesmo assim, entre uma chuva e outra, a maioria fez aplicação e protegeu as plantas contra pragas e doenças. “Apesar disso, em janeiro, encontramos focos de ferrugem asiática. Temos lavouras monitoradas e em diversas amostras que coletamos e levamos aos laboratórios de Fitopatologia da UPF e Embrapa Trigo foi constatada a presença da ferrugem asiática”, explica. Essas lavouras já foram tratadas e os focos controlados.
Com relação às pragas, até o momento não foram identificados grandes problemas na região. Como o mês de dezembro teve dias quentes, bastante umidade e noites com queda nas temperaturas, as pragas não se desenvolveram e ainda não foi constatado nenhum surto, de acordo com o engenheiro agrônomo. Ele alerta que caso o clima continue quente e seco isso pode mudar e pode haver a incidência de pragas nas lavouras. Com a umidade relativa do ar em torno de 48% a 50% não se recomenda a aplicação de produtos, mesmo assim os produtores devem monitoras as plantações e pelo menos duas vezes por semana percorrer de ponta a ponta e verificar sinais de pragas ou doenças.