A colheita da soja em diferentes regiões produtoras já em andamento, a alta do dólar em relação ao real e o enfraquecimento do PIB chinês são fatores que interferem no mercado nacional e internacional da commodity. Os indicativos até o momento são de que o preço continue estável, sem alterações significativas no curto prazo. O consultor da New Agro Commodities João Pedro Corazza avalia as situações de mercado neste momento crítico para o desenvolvimento da soja na nossa região. Confira abaixo:
O Nacional - Como os últimos dados relacionados a economia chinesa tem interferido nos preços da soja no mercado internacional?
João Pedro Corazza - O maior consumidor mundial da oleaginosa influencia diretamente na cotação da bolsa de Chicago. O enfraquecimento de dados referentes ao crescimento do PIB, somados com a derretida no preço do petróleo, acarreta numa fuga de capital especulativo das bolsas, migrando para o dólar. Essa debandada também ocorre na soja, que não demonstra força em superar a barreira dos nove dólares por bushel. Com a economia do gigante asiático mais frágil, os principais participantes do mercado apostam em uma menor demanda, aumentando assim, os estoques mundiais do grão.
ON - Como isso vai interferir nos valores a serem pagos aos produtores gaúchos, especialmente da nossa região?
JPC - A descapitalização da cadeia produtiva em virtude da péssima safra de inverno fará com que o produto colhido seja logo faturado. Os dados referentes à próxima safra indicam uma colheita de cerca de 100 milhões de toneladas no Brasil. O Rio Grande do Sul deverá demonstrar novos números recordes de colheita e já é, novamente esperado um caos logístico. A firmeza da moeda americana frente ao real, ainda possibilita uma formação extraordinária do preço do grão. O cenário que se desenha atualmente, mostra preços firmes, já que a demanda interna também continua muito aquecida. Salientando novamente, que a saca de 60 kg só está nesses patamares de preço em virtude desvalorização do real.
ON - Como a alta do dólar vai interferir no mercado da soja?
JPC - A valorização da moeda norte-americana frente ao real é o fator que mais influencia na cotação final. Ele é multiplicador direto no preço da soja na paridade exportação. Quanto mais desvalorizada for nossa moeda, mais favorável fica para exportar. Mas nem tudo são mil maravilhas. Os insumos necessários para compor uma lavoura tem seus custos dolarizados, e é aí que a margem fica diminuída. O equilíbrio entre o custo final de produção e o preço para comercialização deve ser equilibrado para garantir a margem necessária para o produtor continuar na sua atividade.
ON - E a produção das outras regiões brasileiras, como vão interferir na lucratividade da nossa safra?
JPC - Como um todo, a safra brasileira deverá ter uma boa produtividade. Problemas pontuais são observados. Já tivemos seca no norte do Mato Grosso e Bahia em períodos de enchimento de grão e agora a chuva está atrapalhando a colheita em boa parte de Minas Gerais e de Goiás. Produzindo menos, os números finais brasileiros podem interferir numa futura cotação na Bolsa de Chicago, o que poderia fazer aumentar a lucratividade da safra gaúcha.
ON - O produtor deve pensar nesse momento em já fechar negócios ou deve esperar o fim da colheita para buscar preços mais favoráveis?
JPC - O produtor deve ter o seu custo de produção sempre em mãos para assim decidir o melhor momento de travar sua operação. Com o grão na mão, ou seja, colocando-o no mercado disponível, o poder de barganha é maior, uma vez que a liquidez é mais alta e o pagamento é a curto prazo. No momento não observa-se nenhum fator que faria a cotação da oleaginosa despencar. O que pode prejudicar o preço final durante a safra é a questão logística (fretes caros em virtude de tributos, óleo diesel, etc) e a formação do prêmio nos portos, já que o escoamento da safra será voltado quase que diretamente para exportação.