Desde a década de 1970, com o lançamento do primeiro console de videogame, o Odyssey, a febre pelos jogos eletrônicos só aumentou. A indústria de games, hoje, é a que mais cresce no mundo, emprega mais de 4 mil pessoas só no Brasil e fatura cerca de R$ 900 milhões por ano. Entretanto, já passou o tempo em que os fãs da tecnologia se contentavam em ficar na frente da televisão, ou do computador, desvendando mundos criados pelas grandes empresas. Hoje, os amantes de videogames passaram de meros espectadores a desenvolvedores. Prova disso é o evento que aconteceu no último final de semana, nos dias 29, 30 e 31 de janeiro. A Global Game Jam é uma maratona mundial de desenvolvimento de games, onde artistas, programadores, músicos, designers, estudantes, professores e desenvolvedores de jogos em geral reúnem-se em locais ao redor do mundo e formam equipes para criar suas próprias obras. Em 2016, foram 6817 jogos produzidos em 632 sedes pelo mundo, uma delas em Passo Fundo. O evento, fruto da parceria da desenvolvedora de games Southbox Studio com a Faculdade IMED, proporcionou troca de experiências e uma prática na área aos interessados, profissionais ou não.
Marcus Braga tem 34 anos e joga desde os 4. Ele mora em Passo Fundo, mas foi em São Paulo que aprendeu a criar sites e sistemas para web. O sonho de Marcus, porém, sempre foi trabalhar com desenvolvimento de jogos e eventos como a Global Game Jam só o deixam mais perto de realizá-lo. “É ótimo para quem tem curiosidade em saber como é trabalhar com jogos, mesmo que não seja profissionalmente. Podemos ter uma boa ideia de como é o processo de desenvolvimento. Além disso, o evento proporciona uma ótima chance de ampliar o seu network com pessoas com o mesmo interesse que você, quem sabe até uma colocação no mercado de games”, afirma. Além de Marcus, outros 26 participantes, que vieram também de cidades como Santa Maria, Tapejara, Erechim e Marau, trabalharam no desenvolvimento de seis jogos. Para o sócio proprietário da SouthBox Game Studio, Daniel Merkel, o evento tem importância por fomentar a indústria de games, que é nova no Brasil, mas bastante consolidada em outros países. “É importante para que as pessoas possam conhecer esse tipo de trabalho, se especializar nisso. Passo Fundo tem um grande potencial de TI, mas é muito mais voltado para desenvolvimento de softwares para sistemas, nada voltado ao entretenimento, à diversão. Seria legal que mais pessoas olhassem para essa área, apoiassem a realização de outros eventos”, explica. O professor da Universidade de Passo Fundo e coordenador do Grupo de Estudo e Pesquisa em Inclusão Digital (GEPID), Adriano Canabarro Teixeira, também acredita que Passo Fundo tem se destacado no Norte do Estado na área de TI, em especial pelos cursos específicos nesta área. “Entretanto, existe uma necessidade de amplificarmos significativamente ações de desenvolvimento de cultura empreendedora voltada à inovação e as iniciativas voltadas ao desenvolvimento da criatividade”. Teixeira cita o projeto Escola de Hackers, da Prefeitura de Passo Fundo, como uma das ações afinadas com as tendências do mundo contemporâneo desenvolvidas no município.
Campus Party
Teixeira fez parte de um grupo de alunos e professores de instituições de ensino superior, representadas pela Universidade de Passo Fundo, a Faculdade IMED e a URI Erechim, que participaram da Campus Party, em São Paulo, de 26 a 31 de janeiro. O evento é o maior da área no Brasil e, segundo o professor, uma oportunidade valiosa para conhecer as principais tendências do mundo contemporâneo para o trabalho, para a formação profissional e para a educação. Ele conta que na última noite teve a oportunidade de assistir a uma palestra com Neil Harbisson, artista, compositor e ativista cyborg catalão mais conhecido por sua capacidade de ouvir e perceber cores fora da capacidade de visão humana. Neil nasceu com acromatopsia, uma condição que só lhe permite ver tons na escala cinza. Em 2013, ele implantou uma antena cirurgicamente em sua coluna que lhe permite perceber a cor como som. “Este exemplo e outros que foram apresentados no evento, somados às informações referentes ao desenvolvimento tecnológico na área de hardware e software apontam para o fato de que as tecnologias podem ampliar sobremaneira nossas possibilidades de viver mais e melhor. A questão que se coloca é: o quão democrático será o acesso a estes recursos e mais, qual a nossa real possibilidade de saber lidar com todos estes avanços?”, questiona.nha, em Bogotá, Colômbia e na Cidade do México. Nos últimos 15 anos, mais de 155 mil campuseiros – como são chamados os participantes do evento – compareceram às 29 edições da Campus Party que aconteceram em sete países, entre toda a Europa e América Latina. Nesse ano, o evento aconteceu entre os dias 26 e 31 de janeiro, em São Paulo.