Ela costuma dizer que aprendeu a sambar antes mesmo de caminhar. Quem a viu na passarela disputando a coroa e defendendo as cores da escola de samba Unidos da Operária, não duvida disto. A tradicional família do carnaval passo-fundense está novamente representada no posto mais nobre da corte. Há exatos 30 anos, Naiadjy repetiu o feito da mãe, Magda, e tornou-se a quarta integrante do clã dos Cavalheiros a conquistar a faixa de rainha. Uma dinastia que deve seguir, pelo menos, até 2017. Com o cancelamento do desfile deste ano, a corte eleita no concurso realizado dia 30 de janeiro, no Clube Recreativo Juvenil, será mantida na próxima edição.
Criada no reduto de sambistas, Naiadjy Cavalheiro da Silva, 20 anos, acadêmica da faculdade de Direito, já havia chamado a atenção do público na avenida Sete de Setembro, quando desfilou, durante três anos consecutivos, como rainha da escola mirim Semente do Samba. Um projeto desenvolvido pela secretaria municipal de cultura na administração anterior. Na capital, ajudou a defender o vermelho e branco da Imperadores do Samba por quatro carnavais. Em 2012 e 2013, foi eleita rainha do Clube Juvenil.
O sorriso largo, o carisma e, principalmente, o samba no pé, logo despertaram a atenção das escolas de samba. Nos últimos anos não foram poucos os convites para participar do concurso. “Eu achava que ainda não era o momento, que não estava preparada. Este ano resolvi aceitar” comenta.
Por pouco ela não fica de fora. Faltava apenas uma semana para o evento quando topou o desafio e aceitou o convite feito pela direção da Unidos. Rapidamente, a tia, produtora e carnavalesca, Naiara Cavalheiro, montou a coreografia e o figurino. Foram apenas cinco dias de ensaio, ao lado de quatro dançarinos do Clube da Dança de Passo Fundo.
Ao som do samba enredo da Academia do Salgueiro deste ano, Naiadjy aproveitou cada segundo dos três minutos da apresentação para ganhar a nota dos jurados e os aplausos do público. “É uma sensação indescritível. Fiquei muito nervosa durante a semana, mas no dia estava mais calma” revela, destacando que todas as candidatas escolheram o mesmo samba-enredo. “Foi uma coincidência muito grande. Ainda teve uma candidata que entrou com o mesmo figurino meu” conta sorrindo.
Família contribuiu para a inovação do carnaval
Quem passa pela rua Moron, esquina com a 20 de Setembro, no Boqueirão, quase não percebe um pedaço de parede em pé, como sinal de resistência ao tempo. A ruína é o único resquício do prédio onde durante vários anos funcionou o clube Visconde do Rio Branco.
Foi lá que os cavalheiros gravaram suas digitais no carnaval de Passo Fundo a partir de uma série de inovações. A primeira delas, veio justamente com a matriarca da família em 1959. Diva Cavalheiro tinha apenas 14 anos, quando transformou-se na primeira mulher a 'puxar' uma escola de samba na cidade. “Fui cantando ao lado de uma Kombi até a praça central. Este foi o carnaval da minha vida”, recorda. Hoje, aos 71 anos, ela mantém a mesma paixão pelo samba e não esconde o orgulho de ver a neta comandando a corte. “ Estava lá acompanhando.