Outra forma de viVER

Depois de sentir a morte muito próxima, ao ser alvejado por três tiros durante uma tentativa de roubo, em São Paulo, o passo-fundense, Gustavo Tissot, reorganizou-se. Ele contou para O Nacional sobre a recuperação e sua nova forma de agir

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“Amigos e amigas, acabei de sair do oftalmologista e o diagnóstico foi: sortudo pra carai”. Não apenas sortudo, o publicitário, Gustavo Tissot, que publicou a frase na sua página do Facebook, é considerado um milagre pelos médicos que lhe atenderam e que acompanham a sua recuperação. O passo-fundense, de 38 anos, foi alvejado por três tiros durante uma tentativa de roubo que ocorreu em São Paulo, na véspera do último Natal. 

Ele estava na capital paulista para montar uma filial da produtora de comerciais, da qual é proprietário. Durante a noite saiu para encontrar alguns amigos e, na volta para casa, perdeu-se pelo caminho. “Enquanto procurava a localização, um carro me fechou. Vi uma arma apontada na minha direção e não entendi direito o que estava acontecendo. Engatei a ré e tomei um tiro na testa, que perfurou meu olho. Cai no banco e tomei outro tiro, dessa vez no ombro. Fingi que estava morto”, relata.

Os assaltantes foram até o veículo, abriram o carro, mas, por sorte, não mexeram na vítima, que parecia estar morta. Houve uma discussão entre os envolvidos, presenciada por Tissot, enquanto resistia aos ferimentos. “Meu pensamento era me manter vivo. Eu precisava, pela minha mãe, pela minha família”, conta.
Finalmente, os criminosos resolveram ir embora, momento em que o publicitário reagiu. “Eu sai dirigindo, em busca de ajuda. Cheguei falar pra um amigo no WhatsApp, que eu não passaria daquela noite. Parecia que ele estava pressentindo, pois quando me despedi dele, pediu para eu avisar quando chegasse em casa. Achei um lugar mais aberto durante o caminho, com algumas pessoas e parei. Estive muito próximo da morte”, lembra-se.

Atitude nova, bom humor de sempre
Essa proximidade com a morte não tirou o sorriso no rosto de Gustavo, mas fez com que ele mudasse em si próprio a forma como encarar a vida e, principalmente, a maneira como viver ela. “Eu sempre tive um bom humor que irritava as pessoas. Eu acordo alegre. Óbvio que todo mundo se frustra, se desamina, mas eu não guardo tristeza”, afirma. Otimista, ele encara a realidade de uma forma invejável. “Perdi um olho, beleza! Eu tenho outro. Tudo é uma questão de adaptação”, completa.

Tissot ainda está se recuperando, mas já não fica mais “trancado” em casa. No tempo em que esteve de repouso, não deu espaço para a tristeza ou qualquer pensamento negativo. Ao contrário. Criou ideias que já estão saindo do papel. “Eu estive pensado muito no que aconteceu e no motivo de eu ter ficado”, diz. Para ele, o homem que atirou também é vítima, porém, de uma sociedade cada vez mais ligada ao status social e ao individualismo.
O assaltante, na concepção do publicitário, é vítima de um mundo em que a diferença social está cada vez maior, que não oferece emprego ou condições de vida aos marginalizados. “Enquanto muitos tiverem muito e muitos tiverem nada, vai ter violência, vai ter ódio, vai ter conflito. E isso não vai ser resolvido por governo ou alguma entidade. Tem que ser resolvido pela sociedade”, afirma.

Sem pretensão de mudar o mundo sozinho, mas com vontade de dar um pontapé inicial, o passo-fundense tem desenvolvido um aplicativo, com ajuda de alguns amigos e conhecidos. “Todo mundo quer mudar o país, o estado, sua cidade, desde que não precise mexer uma palha pra isso. Eu entendo. São pessoas como eu, antes de levar os tiros: com vontade de ajudar, mas preocupados demais com as próprias agendas”, explica. A ideia de Gustavo é levar aos bairros onde existe vulnerabilidade social, o acesso à saúde, a educação, um carinho e mais atenção aos moradores. “As pessoas não querem sair de suas casas e ir até um bairro pobre para dar uma oficina profissionalizante. Mas essas mesmas pessoas não se importam em pagar R$ 0,99 para um aplicativo que reverte o dinheiro a esse tipo de atendimento”, conta. 

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