A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou recentemente que o número de crianças obesas, com menos de cinco anos de idade, saltou de 31 milhões em 1990 para 41 milhões em 2014, um crescimento de 30%. Segundo o relatório, os países em desenvolvimento têm os piores indicadores. No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que uma a cada três crianças entre cinco a nove anos está acima do peso e que o número de crianças com excesso de peso mais que triplicou desde 1974. A previsão, se as tendências atuais continuarem, é que o número de crianças com excesso de peso em todo o mundo aumente para 70 milhões até 2025.
A obesidade infantil, segundo a médica endocrinologista, Paula Stefenon, é caracterizada por acúmulo de gordura localizado ou generalizado provocado por desequilíbrio nutricional associado ou não a doenças genéticas ou endócrinas. “Para fazer o diagnóstico pesamos e medimos a criança e calcularmos o seu IMC colocando os resultados nas curvas de crescimento. Sobrepeso é definido como IMC entre os percentuais 85-95% das curvas e obesidade acima de 95%”, explica.
De acordo com o relatório da OMS, as causas do crescimento vertiginoso da obesidade infantil estão diretamente relacionadas à adoção de um modelo alimentar que privilegia a alimentação desbalanceada, alto consumo de produtos processados consequentes de hábitos e estilo de vida, por conta da crescente concentração populacional nos centros urbanos - distantes das áreas de produção de alimentos - e da industrialização, que persegue a economia de escala. Além disso, fatores biológicos, menor atividade física nas escolas e à desregulamentação do mercado de alimentos contribuem para esse aumento.
Para Paula, os fatores genéticos também são muito importantes, já que uma criança que os dois pais são obesos possui 80% de chances de desenvolver a obesidade. “Essa situação cai para 40% se apenas um dos pais for obeso, e se nenhum dos pais possuírem tal enfermidade essa criança terá apenas 7% de chances de se tornar uma pessoa obesa. Além disso, algumas doenças e algumas medicações também podem interferir no aumento de peso”, destaca.
Tratamento simples
A boa notícia é que com alguns cuidados simples, principalmente dos pais, a obesidade é fácil de ser tratada, já que é feito basicamente com reeducação alimentar. “Reduzir o tempo com atividades sedentárias, como assistir televisão e uso do computador, e estímulo para realização de atividades físicas também é muito importante. Além disso, devemos tratar outras doenças que podem estar causando o excesso de peso ou alguma alteração que possa decorre dele (hipertensão, diabetes)”, ensina a endocrinologista. Nessa caso, a tarefa maior é dos pais, que devem ajudar os filhos a manterem uma dieta equilibrada sem que a criança sinta os efeitos das restrições. Para isso, a médica recomenda evitar alimentos bebidas açucaradas como doces refrigerantes e sucos industrializados, assim como os ricos em gordura, como frituras e salgadinhos. Em contrapartida, estimular o consumo de frutas, vegetais e alimentos in natura. “Se a criança tem uma alimentação saudável desde o inicio não sentirá falta destes alimentos calóricos no seu dia a dia, podendo ser consumidos apenas em situações especiais. É muito importante que os pais também tenham uma alimentação saudável, pois as crianças aprendem mais com os exemplos que veem em casa do que com o que falamos”, enfatiza.
Entrevista
Medicina&Saúde - Como os pais podem saber se a criança está acima do peso?
Paula Stefenon - Nas consultas com o pediatra a criança deve sempre ser pesada e medida, assim é possível fazer a avaliação se a criança está acima do peso ou não.
Medicina&Saúde - Quais os riscos para a saúde que uma criança acima do peso sofre?
Paula Stefenon – O excesso de peso na infância predispõe a várias complicações de saúde, como: problemas respiratórios, diabetes melito, hipertensão arterial, dislipidemias, elevando o risco de mortalidade na vida adulta.
Medicina&Saúde - Que tipos de atividades físicas as crianças podem praticar?
Paula Stefenon- Crianças podem praticar esportes, dança, luta desde que em aulas adequadas para sua idade. Também deve ser estimuladas brincadeiras como pega-pega, andar de bicicleta. O importante é encontrar alguma atividade que a criança ache prazerosa para não virar uma obrigação.
*Colaborou
Paula Stefenon - médica endocrinologista, integrante do corpo clínico do Hospital da Cidade de Passo Fundo.