Do 8 de março de 1857 que contabilizou centenas de operárias mortas em razão de uma greve à queima de sutiãs de 1968, o pontapé inicial na luta feminista foi dado. Hoje, o olhar da mulher vai além: passa pela revolução feminista do século XX, emaranha-se pelas conquistas de direitos trabalhistas e sociais e almeja um espaço único que vem sendo construído por mãos delicadas e mentes abertas. Hoje, o movimento feminista se constrói entre manifestações públicas, reivindicações de direitos femininos e posicionamentos críticos em relação à realidade das mulheres. No entanto, não é suficiente: ainda que os avanços sejam evidentes, a mulher ainda carrega uma espécie de medo e um pouco esperança. No dia em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Jornal O Nacional ouviu delas a beleza e a angústia de carregar consigo não apenas um nome, mas o estigma de um gênero.
Sueli Marini, presidente do Sincomércio
“O ponto positivo, no decorrer da conquista da mulher, se dá em torno das lutas, do reconhecimento. As mulheres começaram a ocupar espaços reservados especificamente para os homens. Então, através dessas lutas que tão bem conhecemos, as mulheres passaram a ter uma maior expressão buscando a igualdade de reconhecimento e, principalmente, de respeito às diferenças que naturalmente existem entre homens e mulheres. Essa nova realidade insere as mulheres no mercado de trabalho nas mais diversas áreas de atuação e, inclusive, em postos de comando cada vez mais temos mulheres independentes, com voz ativa na sociedade, com liberdade e direito de expressão, enfim, mulheres cidadãs. Dentro do Sincomércio, por exemplo, quando assumi o primeiro mandato, a entidade já existia há 62 anos, e eu fui a primeira mulher a ocupar esse cargo. Foram longos 62 anos até que, a partir do trabalho, a mulher começou a ocupar esses espaços. Não quero dizer que as desigualdades deixaram de existir, mas, podemos dizer que estão mais amenas, porque a mulher soube sair em busca das suas realizações.”.
“Apesar de a mulher ter vencido e de dar a sua contribuição à família e à sociedade, essa mulher ainda tem sido considerada uma força de trabalho que é menos valorizada. Ou seja, ela ganha menos que o homem se analisarmos os dois em um mesmo cargo. Outro ponto negativo que não se pode deixar passar despercebido é, ainda, a violência contra a mulher. Os dados ainda nos deixam tristes. Mulheres sofrem agressões diariamente. Apesar de a Lei Maria da Penha nos deixar mais esperançosas, temos certeza que nesta caminhada, que é longa, só se dará um resultado efetivo através do investimento em educação. É preciso que o homem aprenda a reconhecer e a valorizar a mulher que tão bem se dedica com tanto afinco e atenção a seus pares, à sociedade e ao campo de trabalho.”.
Claudia Furlanetto, vereadora
“Positivo é que nós hoje nos empoderamos dos nossos direitos e valores e assim, estamos ocupando espaços que historicamente foram ocupados por homens.”.
“Negativo é que ainda estamos, mesmo com avanços, sendo discriminadas, julgadas, assassinadas pelo que vestimos. A questão cultural ainda pesa muito e precisamos seguir buscando o respeito. Quiséramos nós não termos passado por tanta violência e discriminação. Como única mulher no parlamento passo-fundense tenho o dever e a responsabilidade de trabalhar este tema cotidianamente”
Bernadete Dalmolin, Vice-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários da UPF
“Eu penso que, ao longo das últimas décadas, tivemos uma série de avanços em relação à ampliação do papel da mulher na sociedade. Tivemos uma possibilidade da mulher diminuir a questão da desigualdade entre homens e mulheres. Tivemos, sim, um conjunto de ganhos no trabalho, na saúde, na inserção da mulher em determinados espaços, na diminuição das diferenças salariais. Ao mesmo tempo, eu acredito que esses avanços precisam continuar.
“Ainda temos muitos problemas relacionados ao preconceito da mulher no trabalho, na vida social e ainda vivemos em uma sociedade que coloca diferenças e que tem um olhar de superioridade ao homem. Então eu vejo que, ao mesmo tempo em que tivemos avanços importantes, ainda não estamos em condições de igualdade em muitos espaços. Precisamos continuar a luta para diminuir esse tipo de preconceito. Temos diferenças que nos enriquecem e precisamos nos completar nessa diferença, mas não pode haver discriminação de determinados espaços, pelo fato de ser mulher. Temos muitos ganhos nas últimas décadas, mas ainda existem muitos problemas inerentes às questões de gênero.”.
Marlise Lamaison Soares, Secretária de Administração de Passo Fundo
“A mulher já conquistou muitas coisas na sociedade, mas a nossa maior conquista é que mostramos que podemos ser um sujeito ativo na sociedade, ou seja, a mulher deixou de ser submissa, para ser mãe, dona de casa, esposa e ativa no mercado de trabalho. Em muitos casos a mulher passou a ser o chefe da família, o que antes era um papel exclusivo do homem.”.
“Ainda falta consciência, ainda podemos conquistar mais. Temos o poder transformador na sociedade. Ainda existe uma desigualdade salarial em empresas privadas. Além do preconceito contra a capacidade intelectual da mulher, ela ainda é vista como um ser frágil. Já quebramos vários paradigmas patriarcais, mas podemos fazer muito mais.”.
Thaise Nara Graziottin, Advogada, Professora de Direito na IMED
“A mulher tem assumido na sociedade um lugar de destaque, depois da Revolução Francesa. Atuante economicamente, como uma pessoa de poder dentro da família, sociedade e do estado. Eu acredito que o ponto positivo é esse: a posição de igualdade que existe do ser humano na sociedade; igualdade econômica, financeira, política e social. Outro ponto positivo é que a mulher sabe trabalhar em equipe. Desde a origem, quando a mulher dominava o trabalho doméstico dentro da casa, ela administrava a casa com bastante destreza. Quando a mulher saiu para o mercado de trabalho essa habilidade também se desenvolveu. Vivemos em um mundo machista e a mulher tem alcançado cada vez mais um papel de destaque que é fundamental para a sociedade.”.
“A mulher não precisaria ter ‘dia’, até porque só tem direito a ‘dia’ quem está em minoria ou precisa de algum respaldo político ou jurídico. Acredito que a liberdade da mulher é um ponto positivo, porque fez com que o mundo se transformasse em um lugar mais humanizado. Eu acho que a mulher tem um grande momento para recordar valores como ética, solidariedade e, principalmente, honestidade. Como a mulher assumiu vários papéis na sociedade e não deixou de fazer o papel familiar, então toda a ansiedade e toda a carga que ela tinha dentro de casa ela continua carregando. Na verdade o que pode ser melhorado é essa responsabilidade parental. A aceitação da sociedade para isso não está tão simples, porque a sociedade muda muito devagar, enquanto o direito e as necessidades estão muito mais rápidos. É preciso uma igualdade que não seja apenas maquiagem, mas que seja real. Não baste ter leis de igualdade, temos que nos considerar iguais. Homens e mulheres não vivem para competir e sim para somar.”.
Ingra Costa e Silva, Jornalista
“Tivemos muitos avanços, não podemos esquecer. Hoje podemos votar, nos divorciar, não somos mais obrigadas a casar com quem nos estuprou e temos uma lei, ainda que deficiente, que nos ampara quando somos vítimas de violência. Avançamos pouco, perto de tudo que precisamos para vivermos dignamente e sem sofrer violência de gênero, mas o pouco que avançamos devemos às que vieram antes de nós e lutaram por isso. E é por isso que o feminismo é uma pauta tão atual: porque ainda temos muito a conquistar para sermos tratadas com dignidade.”.
“Ser mulher por si só é um desafio diário. Nascemos com um fardo bem grande pra carregar. Cuidar da casa, ter filhos, “se dar ao respeito”. Nascemos com o fardo de ganhar 30% a menos para exercer a mesma atividade que os homens com a mesma graduação, ao menos no Brasil. País esse que ocupa o sétimo lugar no ranking mundial de violência contra a mulher e que registra um estupro a cada 11 minutos. Ser mulher é não poder viajar com a amiga porque consideram que vocês “estão sozinhas” (adivinha o que falta?) e podem ser mortas, vide mochileiras assassinadas no Equador. Ser mulher é ser tratada como pedaço de carne ou objeto decorativo pela publicidade.”.
O Dia da Mulher na vitrine
O Dia da Mulher ganhou as vitrines das lojas Paquetá Calçados, do Bella Città e do Bourbon. A proposta é celebrar, sim, a data, mas, também, manifestar repúdio às formas de violência que persistem contra as mulheres. A ideia surgiu a partir da obra da artista plástica Elina Chauvet que, através da exposição de sapatos usados e de cor vermelha, em uma praça, denunciou o alto índice de mortes de mulheres no México. “O Brasil tem números inacreditáveis e vergonhosos de mulheres assassinadas. Pode ser singela e muito pequena nossa forma de demonstrar repúdio. Contudo, se olharmos os sapatos vermelhos e pensarmos que já não existem os pés que os calçavam, porque alguém, violentamente, decidiu, quem sabe as mortes deixem de ser vistas em números e passem a ser sentidas como vidas que foram roubadas”, explicou a empresária Miriê Tedesco.
Programação do Mês da Mulher
A Prefeitura de Passo Fundo iniciou, no dia 1º de março, uma programação alusiva ao mês da mulher, lembrando lutas e conquistas das mulheres no decorrer da história. As atividades são realizadas por meio da Coordenadoria Municipal da Mulher e do Conselho Municipal de Direitos da Mulher – COMDIM, com o tema “Mulher, mostra o teu valor”. Confira:
08 de março,13h30
Blitz nos ônibus
Tema: "O sentido do 8 de março hoje"
8 de março, 19h30
Cine Mulher, com o filme: "As Sufragistas" - debate sobre as conquistas e lutas das mulheres
Teatro Múcio de Castro, entrada gratuita
9 de março
Oficina de Arteterapia na Casa da Mulher, com a professora Mariane Sbeghen
10 de março, 19h20
Apresentação do curso de Serviço Social da UPF e conferência com a Promotora de Justiça: Ivana Battagli
Salão de Atos da Faculdade de Direito/UPF
12 de março
Durante toda tarde acontecerão várias atividades proporcionadas pelos colaboradores do Mês da Mulher, à todas as mulheres - Praça Capitão Jovino (Sta. Terezinha)
18 de março, 14h
Debate com adolescentes em atendimento no CRAS III - Planaltina
Tema: Gênero, uma construção Humana e Social
19 de março, 8h30 às 11h30
Painel: "A participação da mulher nos espaços de poder",
Conselho Municipal de Direitos da Mulher - Sin. dos Metalúrgicos
28 de março, 14h
Atendimento de cortes de cabelo, escova e hidratação e massoterapia - Universidade Popular, nas faculdades Ideau , Av. Rui Barbosa - Bairro Petrópolis
Agendamento: 3315-6997
29 de março, às 14h
Atendimento de manicure e estética facial (limpeza de pele e sobrancelhas) - Universidade Popular, nas faculdades Ideau. Av. Rui Barbosa - Bairro Petrópolis
Agendamento: 3315-6997
Durante todo o mês
Exposição de fotos - Projur Mulher - Faculdade de Direito/UPF