"O futuro da educação está no passado da educação"

Pesquisador palestrou para cerca de 700 participantes do 8º Seminário de Atualização Pedagógica para Professores da Educação Básica, realizado pela UPF

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Palestra reuniu professores participantes do Seminário para um momento de reflexão acerca da docênciaPalestra reuniu professores participantes do Seminário para um momento de reflexão acerca da docência
Palestra reuniu professores participantes do Seminário para um momento de reflexão acerca da docência
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Um momento de reflexão e aprimoramento da prática docente foi proporcionado para cerca de 700 professores que participaram do 8º Seminário de Atualização Pedagógica para Professores da Educação Básica. O evento, realizado nesta quinta-feira, dia 2 de junho, é uma promoção da Vice-Reitoria de Graduação da Universidade de Passo Fundo (VRGRAD/UPF), em conjunto com as unidades acadêmicas e com a área de Prática de Ensino e Estágios. 
 
Ação de interlocução entre a Universidade e as redes pública e privada de educação básica, o seminário contribui para a promoção da qualidade da educação nos diferentes níveis de ensino. Em 2016, a temática de debate é “Quem sabe faz. E quem ensina? Dialogando sobre a docência”, e foi abordada pelo professor e pesquisador da área da Educação, Augusto Niche Teixeira na palestra realizada pela manhã no Centro de Eventos da UPF. À tarde, aproximadamente 1.200 professores participam de 44 minicursos em diferentes áreas do conhecimento.
 
O seminário é realizado desde 2009 e reúne professores da educação básica da região de abrangência da UPF e acadêmicos da Instituição, em especial os dos cursos de licenciatura. De acordo com a vice-reitora de Graduação, professora Rosani Sgari, a Universidade já formou muitos professores para a educação básica e o seminário é um dos compromissos que Instituição tem com esses egressos, promovendo espaços de trocas e de estreitamento de laços. “A educação básica está sofrendo profundas mudanças e, nesse cenário, somos demandados a discutir, refletir, repensar e renovar as nossas práticas educativas e nossas metodologias”, define ela, ressaltando que é preciso construir uma consciência crítica com relação à educação e essa é uma das necessidades dos professores.
 
Coordenadora geral do seminário, a professora Luciane Spanhol Bordignon destaca que muitos dos professores participantes são egressos da própria Instituição, que retornam para essa formação continuada. “O seminário foi criado pela necessidade de uma articulação estreita entre a Universidade e as escolas, a partir da percepção de que os alunos se inserem nos sistemas educacionais e essa aproximação se faz necessária. O objetivo é articular os saberes da Universidade com os da escola, em um processo de retroalimentação”, aponta, enfatizando que o evento recebe professores de toda a região.
 
Prestigiaram o evento a vice-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários, Bernadete Dalmolin; o vice-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Leonardo José Gil Barcellos; e o vice-reitor Administrativo Agenor Dias de Meira Junior, que compuseram a mesa de autoridades. Também estiveram presentes o secretário municipal de Educação de Passo Fundo, Edmilson Brandão; a presidente do Conselho Municipal de Educação, Carla Garcez; e a representante da 7ª Coordenadoria Regional de Educação, Giovana Mattei. O evento contou com a apresentação cultural do Grupo de Danças da UPF.
 
Em busca de formação
A professora Daiane Mezzalira participa pela primeira vez do Seminário. Docente da escola municipal Irmã Maria Anastasie, da cidade de Paim Filho, ela e outras professoras do município viajaram mais de 120km para participar do evento. “Viemos em busca de conhecimento, de formação para atender melhor aos alunos. Queremos tirar o máximo possível de proveito para, quando voltarmos, aplicarmos esse aprendizado em sala de aula”, comenta ela, que tem formação em educação infantil.
 
Diretor da escola São Luiz Gonzaga, de Passo Fundo, o professor Sírio Chies participa desde os primeiros seminários realizados pela UPF. “É uma prática recorrente do professor estar sempre se reciclando. Esse é um momento especial para buscar novos conhecimentos, aprofundar ideias e trocar de experiências. Se torna uma atividade importante para que o professorado possa levar para o seu ambiente novos conhecimentos e transformar as suas práticas no dia a dia da escola”, avalia o professor, que é graduado em Filosofia, com mestrado em Educação.
 
Entrevista – Augusto Niche Teixeira, professor e pesquisador da área de Educação da Unilassale
 
Quem sabe faz. E quem ensina?
Quem ensina tem naturalmente uma responsabilidade por outrem, por alguém. Quem ensina assume uma relação de alteridade junto a um projeto de vida. Ensinar não é necessariamente só contemplar um currículo ou um programa educativo de unidades curriculares ou ensinar a passar no Vestibular, é ensinar para a vida. A educação para a vida tem que ser o grande objetivo das escolas e das universidades, tendo o currículo como uma ponte para acessar a essa complexidade, para que esses sujeitos possam se colocar como sujeitos críticos, reflexivos, transformadores do tempo em que vivem. E isso perpassa naturalmente por uma relação de compromisso entre docentes e discentes. É um compromisso social. A educação, por natureza é pura responsabilidade social. Para além da sustentabilidade, de que tanto falamos, a educação é uma responsabilidade socioeconômica, cultural, ambiental, portanto, educar, hoje, significa educar para a vida no mundo. Isso, necessariamente, vai perpassar por professores comprometidos com a educação. Então, ensinar ganha um panorama mais amplo e está inscrito em um cenário mais completo do que o de décadas atrás.
 
Quais são os desafios dos professores de hoje diante desse novo cenário?
São diversos, como a questão da linguagem. A linguagem hoje precisa ser ressignificada pelos professores. Não só a linguagem que é produzida na sala de aula na questão metodológica de como eu ensino, mas também a linguagem com a qual eu me relaciono com o mundo. O professor tem de mudar um pouco as lentes com as quais ele enxerga o mundo e permitir que o aluno produza também novas lentes para perceber essa realidade. O termo linguagem é algo a ser estudado pelos professores, em pleno século XXI, em tempo de cultura digital. A outra grande questão se coloca é que o professor e os alunos aprendam a constituir-se observadores do comportamento humano. Para que possa se relacionar com alguém, tem que conhecer pessoas, conhecer os humanos e me parece que hoje há um distanciamento entre professores e alunos, entre professores e professores, alunos e alunos de diferentes gerações e não só gerações distintas, como também com linguagens distintas. Essa não aproximação acontece porque as pessoas não se observam, não se conhecem. Um dos grandes desafios para o professor hoje é se tornar um observador de pessoas e, portanto, um interlocutor e um mediador cultural.
 
O que se visualiza em termos de futuro, como se projeta a educação?
Existem duas vertentes sobre futurismo no que tange à educação. Existe uma caminhada direcionada para as tecnologias aplicadas à educação, que é exógeno. O que está fora da gente é mais fácil de desenvolver, porque é um desenvolvimento natural das áreas que se colocam diante de objetos de estudo como a tecnologia, recursos didáticos metodológicos, coisas que estão fora do professor. Eu diria que a maior preocupação que tenho com relação ao futuro da educação não reside naquilo que está fora da gente, mas no que está dentro: é o processo endógeno de reflexão, do regate de um professor que é muito mais do que um professor, que é um maestro, ao mesmo tempo em que é um mediador cultural e é referência para uma sociedade. Para se tornar referência, tem que ter arcabouço teórico, caminhada. Talvez um dos maiores desafios do professor seja o resgate da leitura. Diria que o futuro da educação está no passado da educação, onde encontraríamos professores melhor embasados teórica e epistemologicamente. Voltar à Grécia, não seria nada mal.

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