O mercado de biodiesel é relativamente novo no Brasil. A primeira exportação aconteceu há três anos e foi realizada pela BSBios, mas o setor ainda depende de muitos avanços para poder ser competitivo no mercado internacional. Enquanto isso, cerca de 60% da soja comercializada no exterior sai do Brasil in natura, quando poderia ser vendida em forma de produtos com valor agregado, como é o caso do biodiesel, cuja matéria prima principal é a oleaginosa.
O diretor presidente da BSBios, Erasmo Carlos Battistella, explica que a empresa recebe pedidos de cotação vindos do mercado internacional, especialmente o europeu, semanalmente. No entanto, apesar do interesse do mercado, falta uma matriz tributária que dê competitividade ao setor o que acaba inviabilizando a exportação.“No que diz respeito à matéria-prima, isso não é problema. O Brasil hoje produz biodiesel a base de soja, em torno de 80 a 85% da matéria-prima é oriunda da soja e temos muita soja produzida no Brasil que é exportada em grão, quase 60% in natura. O problema é tributário”, reforça.
Comparando com a Argentina, que exporta muito biodiesel, Battistella destaca que há uma perda de competitividade na ordem de 14% para o produto brasileiro em função da carga tributária. Europa, Estados Unidos e países da América demonstram interesse no produto que atende aos padrões internacionais de qualidade, o que falta são condições de mercado que poderiam ampliar a comercialização do biocombustível. O mercado internacional hoje poderia comprar de três a quatro bilhões de litros de biodiesel do Brasil, caso o preço fosse competitivo. “Poderíamos facilmente dobrar o mercado se o Brasil fosse competitivo na exportação”, argumenta.
Crise brasileira
Apesar da crise enfrentada pelo Brasil, no mercado interno o preço do biodiesel está equilibrado, mantendo a variação conforme a principal matéria prima que é o óleo de soja. “O preço está equilibrado, rentabilizando as empresas não tão bem quanto já foi no passado, mas razoável nesse momento”, avalia o empresário.
Canola e outras matérias-primas
Outro grande desafio está relacionado ao desenvolvimento de outras culturas que sirvam como matéria-prima, como a canola. A oleaginosa é produzida no inverno e poderia ser uma alternativa para ampliar ainda mais a produção do biocombustível. Ainda em 2008, a BSBios iniciou um trabalho de fomento ao grão na região. Mas para consolidar essa cultura é necessário o investimento em pesquisa para o desenvolvimento de cultivares mais adequadas ao clima e às condições locais. “É isso que temos conversado e cobrado do governo federal, que faça investimento em pesquisa para desenvolvermos qualidades aqui do Brasil. O investimento em pesquisa é fundamental”, salienta.
Além da canola, o desenvolvimento de outras matérias-primas adequadas às diferentes regiões do Brasil poderia alavancar o setor. Entre essas culturas, o girassol no Centro Oeste e a palma no Norte.
Agregar valor
Para o empresário, o Brasil também precisa mudar o modelo de exportação de produtos de origem agrícola. E isso se faz dando condições para que os produtores rurais possam produzir cada vez mais. A partir disso, ao invés de se vender grãos in natura, o país poderia vender produtos com valor agregado a partir do beneficiamento e do uso das matérias-primas de origem agrícola como a carne, por exemplo, produzida utilizando-se o farelo de soja na alimentação dos animais.
APL Biodiesel
Recentemente, a BSBios e a Universidade de Passo Fundo (UPF) entregaram ao governador do Estado, José Ivo Sartori, um projeto para a criação do Arranjo Produtivo Local de Biodiesel (APL Biodiesel). Conforme Battistella, o trabalho em parceria entre empresas, universidade e governo estadual deverá possibilitar a criação de uma base de estudo científico a fim de explorar o potencial que o biodiesel tem no Rio Grande do Sul, da cultura da canola, e mobilizar novos investimentos no setor