Um problema que virou produto

Resíduos de beneficiamento de minerais são nocivos ao meio ambiente e à saúde das pessoas. Pesquisa confere novos e seguros usos a eles

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Experimentos de campo têm apresentado resultados positivos quanto à fertilização de solos e à produção de massa em campo nativo com o uso do basalto resíduo da exploração de geodos de ametistaExperimentos de campo têm apresentado resultados positivos quanto à fertilização de solos e à produção de massa em campo nativo com o uso do basalto resíduo da exploração de geodos de ametista
Experimentos de campo têm apresentado resultados positivos quanto à fertilização de solos e à produção de massa em campo nativo com o uso do basalto resíduo da exploração de geodos de ametista
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O beneficiamento de pedras preciosas como ágata e ametista permite diferentes possibilidades de aplicação, como em joias, artesanato e decoração. A atividade garante renda para uma grande quantidade de famílias da região do Alto da Serra do Botucaraí, no entanto, todo o processo acaba gerando milhares de toneladas de resíduos que podem causar danos à natureza e à saúde de quem tem contato com eles. O projeto de pesquisa Transformação de resíduos da mineração para uso como artefato de concreto e remineralizador de solo, desenvolvido na Universidade de Passo Fundo (UPF), estuda duas novas alternativas de destinação.

 

A pesquisa, coordenada pelo professor Dr. Maciel Donato, está em andamento desde fevereiro de 2015 e já tem um registro de patente em andamento. Os acadêmicos do sétimo nível do curso de Engenharia Civil Rafael Tonello e Raul Artusi são bolsistas do projeto e explicam que uma das metas é utilizar os resíduos do beneficiamento da pedra ágata na produção de concreto. Os resultados demonstram que quando o resíduo substitui algum agregado confere alguns ganhos nas características finais do concreto. Além disso, pode ser usado para substituir uma porcentagem de cimento, mantendo o desempenho necessário. “O que chama a atenção é que se tirou um material mais caro, se incorporou um resíduo e se ganhou em resistência”, pontua Tonello. 

 

Esse tipo de resíduo mineral, quando inalado, pode causar silicose, uma doença que atinge os pulmões e compromete a capacidade de respiração de pessoas e animais. Conforme explica Artusi, o resíduo geralmente é depositado em montes ou utilizado em estradas de chão, o que não é eficiente, uma vez que a chuva pode lavar o pó e levá-lo até corpos hídricos. “O projeto visa constituir uma atividade ambientalmente sustentável. Queremos que as pessoas vejam que estão descartando algo que pode ser aproveitado”, completa Artusi.

 

Uso na agricultura

O projeto de pesquisa também avalia a possibilidade de uso do basalto resíduo da exploração de geodos de ametista na remineralização de solos. Os experimentos de campo têm apresentado resultados positivos quanto à fertilização de solos e à produção de massa em campo nativo. A pesquisadora bolsista DOC FIX da Fapergs Clarissa Trois Abreu destaca que já está finalizada a caracterização química e mineral de produto oriundo de basalto hidrotermalizado de Ametista do Sul.

 

Neste ano, o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou duas instruções normativas regularizando o estudo de materiais minerais na categoria de “remineralizadores de solo”. Com isso, o trabalho desenvolvido pela UPF ganha visibilidade no setor mineral. Empresas do setor têm procurado o grupo para a realização de testes de viabilidade agronômica.

 

Cursos e oficinas

Dentre as atividades previstas pelo projeto, está a realização de cursos sobre “Uso de resíduos para a remineralização de solos e seus impactos no solo e nas plantas”, partes I e II, com duração de oito horas cada módulo, e sobre “Produção de artefatos de concreto: metodologia e custos”, também divididos em duas partes. Por meio do projeto, também são realizadas as oficinas de formação de agentes dinamizadores nas áreas da saúde, educação e meio ambiente. Para a vice-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários, professora Bernadete Maria Dalmolin, que integra essa parte do projeto, é fundamental pensar em toda a cadeia produtiva, incluindo aí a prevenção e a redução de risco de adoecimento dos trabalhadores decorrente da inalação de poeiras contendo sílica livre.  A silicose é uma doença pulmonar crônica e incurável que pode ser prevenida e controlada por programas eficientes nos locais de trabalho, aspectos abordados nas oficinas de formação.

A iniciativa é desenvolvida pela UPF, por meio do Centro Tecnológico de Pedras, Gemas e Joias do Rio Grande do Sul (CT-Pedras), no Polo de Inovação Tecnológica do Alto da Serra do Botucaraí, com recursos do Banco Mundial, por meio da antiga Secretaria de Ciência, Inovação e Tecnologia (SCIT), atual Secretaria de Desenvolvimento Econômico Ciência e Tecnologia (SDECT). O projeto viabilizou a compra de equipamentos de ponta que permitem realizar a caracterização e a identificação de minerais presentes em amostras de rochas, solos e resíduos de vários tipos.

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