(*) Jonas Liasch
Quem realmente inventou o avião? A resposta a esta pergunta provavelmente jamais será inquestionável. Para qualquer cidadão brasileiro, quem inventou o avião foi Alberto Santos Dumont, e ponto final; para um cidadão norte-americano, no entanto, foram os irmãos Wilbur e Orville Wright. Em geral, a maior parte do mundo aceita os irmãos Wright como inventores do avião. Todavia, pairam muitas dúvidas sobre a legitimidade dessa primazia. Ninguém questiona os voos de Santos Dumont em 23 de outubro e 12 de novembro de 1906, pois os mesmos foram feitos em local público, com dezenas de testemunhas, presença de especialistas e amplamente documentados e noticiados na imprensa. Mas, e os voos dos Wright?
Alguém viu?
Wilbur e Orville Wright alegam ter voado em uma aeronave a motor, pela primeira vez, em 17 de dezembro de 1903. Após ganharem certa experiência em voos planados colocaram um motor no planador, que recebeu o nome de Flyer I, o qual teria decolado de Kill Devil Hills em 17 de dezembro de 1903, pilotado por Orville Wright, contra um vento de proa de 20 MPH. Mas aqui começam os problemas: o Flyer I tinha um peso vazio de 274 Kg, e era limitado a 338 Kg na decolagem. Isso dá uma relação peso-potência de meros 0,04 Hp/Kgf. Levando-se em consideração a enorme área alar de 47 metros quadrados e o arrasto resultante disso. Não é preciso ser engenheiro aeronáutico para se afirmar que tal motor, com seus 12 HP, era totalmente incapaz sequer de manter a aeronave em voo, e muito menos para fazer decolar a aeronave por seus próprios meios. Quem testemunhou? É interessante notar que uma testemunha independente, o Sr. Alpheus Drinkwater, jamais foi arrolado pelos Wright como testemunha do suposto voo de dezembro de 1903. Os Wright comunicaram por telegrama, após o pretenso voo, o "sucesso" a seu pai, Milton Wright, para que o mesmo iniciasse o processo de patentear o aparelho.
Falta de evidências
Esse processo de patente foi bastante esclarecedor nessa questão: foi simplesmente recusado pelo U.S. Patent and Trademark Office, por falta de evidências concretas do real funcionamento da máquina. Somente em 22 de maio de 1906, o escritório de patentes concedeu a patente de uma "Máquina Voadora" (U.S. Patent 821393) para os Wright, embora tal patente se referisse claramente ao planador Wright de 1902, e não ao suposto avião Flyer I. Ávidos por lucrar com seu invento, como é natural na cultura norte-americana, os Wright procuraram preservar de olhos alheios e invejosos sua máquina. Sem conseguir a desejada patente de um avião a motor, tentaram vender seu invento ao Exército dos Estados Unidos. Os militares não ficaram convencidos e exigiram uma demonstração da máquina voadora. Os Wright somente conseguiram demonstrar o primeiro voo efetivo ao Exército dos EUA em 1908. Vale dizer que as fotos dos voos alegados de 1903 a 1905, foram todas tiradas pelos próprios Wright. Todos os artigos publicados sobre as experiências dos Wright nesse período foram publicados na imprensa não especializada e baseados somente em relatos e entrevistas dos próprios irmãos Wright. Nenhuma comissão científica de respeito ou especialistas jamais assistiu a uma dessas façanhas, e todas as pretensas testemunhas eram leigas no assunto. A "guerra" de patentes que envolveu os Wright e Glenn Curtiss somente terminou com o envolvimento dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial, em 1917, quando as patentes de ambos foram virtualmente "quebradas" para o bem do desenvolvimento da aviação militar americana, então muito atrasada em relação à aviação européia. Em 2003, para comemorar o pretenso primeiro voo dos irmãos Wright, o piloto Kevin Kochersberger tentou decolar com a aeronave, tentando reproduzir o "voo original" do Flyer I. O avião correu pelo trilho da catapulta e nem sequer esboçou um esforço de sustentação, caindo de lado na lama.
Santos Dumont
Após os bem documentados voos de Santos Dumont na França, os Wright foram à Europa demonstrar suas máquinas voadoras. Chegaram à França em meio ao descrédito total, mas conseguiram voar, cumprindo todos os requisitos científicos de comprovação, em 8 de agosto de 1908, quase dois anos depois do primeiro voo de Santos Dumont e depois dos inventores Henry Farman e Louis Blériot realizarem seus voos nos anos anteriores. A imprensa francesa foi claramente hostil aos Wright: em 1906, o jornal Herald Tribune publicou um ácido artigo intitulado "Flyers ou Liars?" (Voadores ou mentirosos?), com chamada na primeira página. Questionados no resto do mundo, nem em seu próprio país os Wright eram acreditados, inicialmente, como inventores do avião. A "reabilitação" dos Wright, nos Estados Unidos, na verdade fez parte de um extenso esforço do governo em resgatar a autoestima na ideológica "Guerra Fria". Já Alberto Santos Dumont decolou do Campo de Bagatelle em 23 de outubro de 1906, utilizando unicamente a potência do motor para alçar voo sem qualquer auxílio externo. Sem comprovação científica de qualquer feito anterior semelhante, cabe a ele o único e verdadeiro título de "Pai da Aviação". Os irmãos Wright só serão considerados inventores do avião enquanto os Estados Unidos forem a maior potência política e econômica mundial, mas todos os grandes impérios do mundo acabaram um dia, e os Estados Unidos certamente não serão exceção.
NÃO DECOLOU
- Ausência de registro de patentes, ainda que a mesma tenha sido solicitada ao departamento competente;
- Necessidade de auxílio para decolagem, com o uso de catapultas. Mesmo o voo do Flyer I com esse auxílio não pode ser comprovado;
- Incapacidade de realizar demonstrações públicas ou perante potenciais compradores, como o Exército;
- Falta de potência suficiente do motor;
- Necessidade de vento em alta velocidade para efetuar o voo;
- Ausência de publicação de artigos em jornais e revistas especializados;
- Ausência de testemunhas com credibilidade científica comprovada;
- Apresentação de pseudoprovas, que não satisfazem os critérios de avaliação científica dos pretensos feitos.
(*) Piloto, bacharel em Direito e Mestre em Geografia e Meio Ambiente, professor dos cursos de Piloto Privado, Comissário e Mecânico de Manutenção Aeronáutica, por 15 anos foi professor do Curso de Ciências Aeronáuticas da Unopar e por quatro coordenador do curso, é presidente do Aeroclube de Londrina.