Ao longo do ciclo de evolução tecnológica em que a sociedade vive na atualidade, a preocupação contínua com o meio ambiente e sua preservação tem se tornado bastante discutida por cientistas, engenheiros e civis.
A indústria de construção civil é a que mais tem responsabilidade quando a questão é produção de entulho e grande geração de lixo, claramente visível em grandes centros. As primeiras tentativas de reciclagem de entulho tiveram início após a Segunda Guerra Mundial, nos países da Europa. Em função da escassez financeira e de matérias-primas, alguns países optaram por reutilizar o entulho na reconstrução de suas cidades.
Atualmente no Brasil, 98% das obras utilizam métodos tradicionais e ainda existe grande preconceito com as novas tecnologias, por uma questão cultural e por falta de informação. Frente a isso, estão sendo desenvolvidas cada vez mais estratégias que tem como objetivo a diminuição da geração de lixo, resultando numa considerável economia de gastos ao final dos projetos.
A partir de uma consciência de respeito com o meio ambiente natural e construído, experiências sustentáveis em maior escala vêm sendo realizadas por algumas prefeituras brasileiras e vêm apresentando dados favoráveis, como o caso de São Paulo, Santo André, Londrina, Belo Horizonte, São José dos Campos, Ribeirão Preto e Ilha de Paquetá. A conscientização da população somado ao interesse e engajamento da administração pública, certamente tente a aumentar o número de projetos implantados.
Quem fala mais sobre o assunto é a professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da IMED, Me. Aline de Oliveira Mendes.
De que forma a Arquitetura e a Construção Civil utilizam materiais recicláveis?
Aline Mendes: Existem várias formas de associar materiais recicláveis na construção civil, um exemplo seria a utilização de ecotelhas ou telhas de polialumínio, produzidas a partir de embalagens tetra-pak recicladas. A reutilização de materiais pode oferecer, além de benefícios ecológicos, vantagens técnicas, porém o que mais chama a atenção do cliente que prefere a utilização de um material ecologicamente correte, geralmente é a consciência ambiental, pois ao reciclar e reutilizar, estamos desviando o fim desse produto que seria lixão ou aterro sanitário, minimizando assim a poluição do meio ambiente.
Quais são os principais materiais utilizados e para que finalidade eles são empregados?
AM: Alguns materiais têm sua reutilização consagrada na construção civil, a partir de sua reciclagem. É o caso da areia reutilizada, que pode ser usada para assentamento de tubulações de esgoto, em argamassas de assentamento de alvenaria de vedação, contra-pisos, blocos e tijolos de vedação. Atualmente as garrafas PET, são utilizadas na fabricação de tijolos PET e se associadas a areia, cimento e isopor reciclado, compõem Blocos Isopet. Além disso, temos as embalagens tetra-pak e tubos de pasta de dente que podem servir de base para a confecção de telhas ecológicas.
Quais as principais novidades nessa área?
AM: No Brasil são gerados 0,55 ton/ano/habitante de entulho na construção. Temos como alternativa para esse problema ambiental, a reciclagem dos resíduos sólidos da construção civil. Esses materiais são oriundos de restos de tijolo, argamassa, concreto, madeira, aço e outros materiais advindos da construção, reforma e/ou demolição de estruturas diversas como residências, pontes e prédios, servindo de base na recomposição de novos elementos construtivos ou de aterro para obras. Apesar de ser uma novidade promissora, a adesão a esse tipo de tecnologia ainda é muito baixa, sendo necessária maior atenção dos órgãos fiscalizadores e a conscientização de empresários do setor que detêm o grande poder de tomar a decisão de mudança. Além disso, por ser um processo relativamente caro, o resíduo sólido, que chega a representar 50% do desperdício de material no setor da construção, segundo a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição, geralmente, tem sido rejeitado clandestinamente em terrenos vazios, áreas de preservação permanente, vias e logradouros públicos.
Realmente a utilização de materiais recicláveis é viável economicamente?
AM: Com relação aos custos, existe uma relação de equilíbrio que pode resultar na viabilidade de investimentos na gestão ambiental da obra. As empresas que desejam ter um desenvolvimento sustentável e utilizar a reciclagem como tecnologia, têm que adotar em seus meios de produção medidas de eficiência e de melhor aproveitamento de todos os recursos usados em sua produção. Muitas vezes o produto pode ser mais caro a princípio, porém em uma avaliação a longo prazo o custo compensa, isso também deve ser considerado e esclarecido para o cliente final.
Em relação à realidade da população, quais são os materiais que podem ser utilizados e de que forma eles podem ser aplicados em casa ou/e no dia a dia?
AM: Em nosso dia a dia podemos reutilizar objetos que seriam descarados para auxiliar na organização de nossas casas ou até mesmo como utensílios de decoração. Além de um toque original, sempre devemos pensar que a iniciativa de minimizar o lixo produzido pela população pode e deve se iniciar dentro de casa e esse incentivo e consciência tende a reverberar para todos os âmbitos de nossa sociedade.
Existem alternativas que podem ser exploradas no futuro?
AM: Sistemas como Dry Wall e Llight Stell Frame são utilizados em cerca de 95% das casas americanas. O Brasil está em último lugar no consumo de chapas de gesso. Sendo assim, seria necessária a exploração dessas novas alternativas em âmbito nacional. A utilização dessas novas tecnologias é importante não só para a dinamizações do processo construtivo, como também pelo seu ótimo desempenho térmico e acústico, mas principalmente por ser uma construção que produz baixíssima quantidade de entulho e os materiais utilizados são 100% recicláveis.
Apenas 2% das obras brasileiras utilizam materiais reciclados
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