Engajamento pedagógico para melhorar índices

Coordenador regional de Educação avalia que mudança na metodologia é fundamental para impulsionar os dados das séries finais, que mais uma vez não alcançaram a meta do Inep

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Enquanto as séries iniciais do ensino fundamental da rede pública (até o 5º ano), de Passo Fundo, mantêm a média dentro da meta proposta, as séries até o 9º ano diminuíram a média e não alcançaram a meta do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb). Os dados foram divulgados, nesta quinta-feira (8), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O Ideb é um indicador de qualidade dos ensinos fundamental e médio. O índice avalia a qualidade do ensino no país, com base em dados sobre aprovação e desempenho escolar, obtidos por meio de avaliações do MEC. Desde a criação do indicador, foram estabelecidas metas que devem ser atingidas a cada dois anos por escolas, prefeituras e governos estaduais.
Apesar de estar dentro da meta pública, a média das séries iniciais (5.3), não demonstra avanço, uma vez que o índice se manteve igual ao de 2013. A média é composta pela nota da rede municipal e pela estadual, no caso do município. Durante toda a série histórica, iniciada em 2005, a rede pública apresentou avanço nos índices de ensino das séries iniciais, saltando de 4.0 para 5.3 em dez anos. A meta é que em 2021, a média do Ibed chegue a 6.1 para essas séries.
À medida que os alunos avançam e chegam às séries finais do fundamental, os índices apresentam declínio. Desde 2011, último ano que a meta foi alcançada (4.1), a nota das turmas até o 9º vem caindo. Em 2013, o índice foi de 4.0 e no ano passado, 3.9. Na rede estadual, o desempenho das séries finais é mais baixo do que o da rede municipal. Ambos apresentam oscilação de notas.
A maior dificuldade que há hoje para os alunos dos anos finais, é que muda de um professor, nos anos iniciais, para vários professores, de acordo com o coordenador da 7ª Coordenadoria de Educação (CRE), Santos Olavo Misturini. “Entre esses professores não existe uma relação harmônica de planejamento e propostas de trabalho para que aquilo que eu uso na linguagem, seja elemento indicador na ciência, na matemática. Não temos esse planejamento coordenado, isso faz com que o aluno fique perdido e não construa a dimensão necessária de cada saber”, argumenta.


Rede municipal
Sobre os índices das séries finais da rede pública municipal, o secretário de Educação de Passo Fundo, Edmilson Brandão, explica que como a rede pública municipal é formada por escolas pequenas, o sistema do Ideb exclui de seus dados as que possuem menos de 20 alunos. “O município tem suas notas calculas por menos escolas, o que acho injusto. Para nós, menos de 20 alunos em sala de aula não é prejuízo, é qualidade. Então, as escolas que tem menos de 20 alunos nos anos finais, são prejudicadas, pois elas saem do calculo”, explica.
Brandão ressalta que é importante analisar a meta traçada para o ano para não interpretar a nota de maneira errada. Ele afirma que as avaliações da rede pública municipal foram muito positivas. “Tivemos escolas com desempenho muito acima do esperado, tendo em vista a superação das metas que eram projetadas para 2015. A avaliação do Ideb em Passo Fundo é resultado de um projeto que as escolas estão desenvolvendo que são exitosos na sua prática cotidiana. Foi muito importante saber que quando apostamos em uma escola, em seus projetos, professores e alunos, vemos um avanço”, explana.


Rede estadual
As notas das séries iniciais da rede estadual de Passo Fundo são maiores do que as da rede municipal, com exceção de 2007, quando ambas registraram 4.4 no Ideb. Nas séries finais, as escolas estaduais não corresponderam às estimativas nem uma vez. Quando comparada com a média pública do Estado, Passo Fundo tem notas quase iguais. Por exemplo, em 2015, a rede pública (estadual e municipal) do município pontuou 5.3 enquanto o RS pontuou 5.5 nas séries iniciais. Para as séries finais, o RS (4.2) tem notas melhores que Passo Fundo na rede pública (3.9).
Santos avalia que o Ideb é, dentro das normas de educação, uma avaliação externa que adota metodologia de trabalho diferente daquela trabalhada nas escolas. Antes que haja uma adaptação ao método externo, de acordo com o coordenador, “é preciso primeiro discutir toda concepção que eu tenho de homem, de mundo, de sociedade e preciso discutir os conceitos que tenho de alfabetização. Pois para nos aproximarmos da forma com que o Inep se organiza para fazer as avaliações externas, temos que construir em nós um conjunto de conhecimentos”, complementa.
Para o coordenador, é necessário questionar quais são as habilidades necessárias para que um aluno construa um conhecimento horizontal, para que, de ano em ano, esse conhecimento seja de maneira ascendente e com profundida. “Isso demanda um grande tempo para que o professor desconstrua aquele currículo que ele aprendeu na academia, para que a própria academia tente envolve-los em uma nova dinâmica, nesse processo”, explica.


Os desafios
Quando empossado coordenador da 7ª CRE, em janeiro de 2015, Misturini disse que o compromisso era elevar índices da Educação. Ainda há o desafio de melhorar os números que apontam para o conhecimento dos alunos, de acordo com ele. “O primeiro desafio foi melhorar o Ideb. Para isso, durante 2015, todas as escolas trouxera o material para discussão para entender como são organizadas as avaliações externas. Agora, em 2016, estamos trabalhando um mês com os diretores e um mês com os supervisores em que discutimos a compreensão na qual cada sujeito precisa entender como o aluno aprende”. Já foram realizadas três reuniões com os supervisores, mas “é um processo gradativo. São mudanças por ideias, e toda mudança por ideia até que ela se construa e se estabilize, leva um tampão”, segundo o coordenador.
Para melhorar as notas das avaliações externas, Misturini prevê a demanda de um conjunto de habilidades e engajamento, além da mudança curricular da licenciatura. “Os supervisores são a alma da escola, pois o supervisor que se compromete com a questão pedagógica, tem um trabalho muito intenso na escola tentando cativar os colegas professores para que façam um planejamento sequencial e mantenham uma relação vertical e horizontal dentro dos conteúdos”, acrescenta.
Mudança na metodologia
Uma mudança de metodologia dentro da universidade, na formação de professores, de modo a estreitar o vínculo prática e teoria, proporcionará melhoras significativas no ensino, segundo o coordenador. “Nosso maior desafio, nesse sentido, é cativar os colegas que estão na academia para que na construção de saberes, desses sujeitos que buscam ser professores, sejam trabalhados para entender que o ponto de partida é o contexto. A grande maioria das pessoas não domina o contexto”.
Santo critica ainda que, além da metodologia, é preciso considerar o contexto em que o professor está envolvido. “O professor sem uma motivação externa forte que faz com que seu elemento interno venha a reagir em função desse estímulo, continuará cada vez mais com limitações. Eu não digo que eles são relapsos, mas que toda motivação intrínseca tem muito a ver com a motivação extrínseca. Por fim, a situação econômica desestabiliza qualquer pessoa, principalmente àqueles que precisam do ganho para sobreviver no seu dia a dia, para pagar o dia de ontem, não para pensar o de amanhã”.


Estado
Não há dados no Ideb para o ensino médio estadual em Passo Fundo. O Rio Grande do Sul, que apresentou nota 3.3, revela a pior média desde 2005, quando a nota foi 3.4 para o ensino médio. O índice é a média das escolas públicas e privadas. Com o declínio, o Estado fica mais distante de atingir a meta, que prevê nota 5.3 para 2021. O único ano que o RS atingiu a expectativa do índice foi em 2009, com 3.6.


Nacional
Nos anos iniciais do ensino fundamental, a meta é cumprida desde 2005, quando o índice começou a ser calculado. Para 2015, a meta estipulada é de 5,2. A etapa alcançou 5,5. Nos anos finais do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano, a meta foi descumprida pela primeira vez em 2013. Em 2015, o índice esperado de 4,7 também não foi alcançado. A etapa registrou um Ideb de 4,5. No ensino médio, a meta não apenas não é alcançada desde 2013, como está estagnada em 3,7 desde 2011. A meta estabelecida para 2015 é de 4,3. "O Brasil está mal e vai se distanciando das metas fixadas pelo segundo Ideb consecutivo, lamentavelmente", disse o ministro da Educação, Mendonça Filho.
Em relação ao cenário brasileiro de toda a educação básica, o ministro afirmou que não se trata de um quadro que se possa celebrar. "As metas fixadas para o ensino fundamental e médio não são metas que possam ser caracterizadas como ousadas ou excesso. Todos sabem que o Brasil está distante de educação de qualidade".

 

 

 

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