O acordo de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) acaba de ser assinado em Cartagena das Índias. O evento reuniu autoridades e chefes de Estado de todo mundo em uma cerimônia de mais de duas horas. Todos os presentes estavam vestidos de roupas brancas, a cor símbolo da paz.
A paz na Colômbia chega após mais de três anos de negociações entre representantes do governo e rebeldes em Havana, capital de Cuba. O acordo põe fim ao último conflito armado da América Lantina e um dos mais longos da história latina. De acordo com a Agência de NotíciasAnsa, o papa Francisco é considerado uma das peças-chave da negociação do acordo de paz.
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou que o acordo de paz é a “melhor notícia em meio de um mundo convulsionado pela guerra e violência”. Santos destacou ainda que o as Farc seguirão como movimento político, sem uso de armas. “Trocar as armas por ideias: foi a decisão mais valente, mais inteligente”.
“O que assinamos hoje é uma declaração do povo colombiano para o mundo de que não aceitamos a guerra para defender nossas ideias. Não mais guerras. Não mais a violência, que gerou pobreza e desigualdade em campos e cidades e que tem sido um freio ao desenvolvimento da Colômbia”.
O líder das Farc, Rodrigo Londoño, conhecido como Timochenko, ressaltou que o acordo foi assinado de forma unânime entre os 207 guerrilheiros que debateram o documento durante a 10ª Conferência da guerrilha, realizado na cidade de El Diamante, sudeste colombiano.
“Esse é o dia que renascemos para entrar numa nova era de construção de paz. Que ninguém duvide que vamos hastear a política sem armas.Preparemos todos para desarmar as mentes e os corações. A chave está na implementação desse acordo e o povo colombiano será o principal responsável por garantir que nós vamos cumprir e esperamos que esse governo cumpra”, acrescentou Londoño.
“Que Deus bendiga a Colômbia. Acabou a guerra, estamos começando a fazer a paz”, completou o líder das Farc.
Após a assinatura, o povo colombiano irá às urnas no próximo domingo, 2 de outubro, para referendar o documento assinado entre governo e Farc. Pesquisas de opinião apontam que a maioria dos colombianos é favorável ao pacto de paz.
Confira cronologia do grupo:
No final dos anos 1940, a Colômbia passou por um período de conflitos entre liberais e conservadores conhecido como La Violencia. Milhares de pessoas morreram e muitos grupos de camponeses se uniram aos comunistas para se armar e se defender; era a origem do grupo.
1964 - Após um ataque militar, é criado oficialmente o grupo guerrilheiro. De orientação marxista, seus militantes defendiam a implementação de um Estado socialista e da reforma agrária.
1978 - É instituído o Secretariado, organizando ainda mais a direção das Farc e abrindo caminho para um crescimento sem precedentes nos anos seguintes. Até os anos 1980, o grupo cresce de forma relativamente lenta, contando com cerca de mil homens. A partir desta década, no entanto, o grupo cresce muito, tornando-se uma das maiores ameaças ao governo, especialmente após seu envolvimento com o narcotráfico para poder financiar suas atividades. O grupo vai perdendo popularidade, no entanto, especialmente após uma onda de sequestros, extorsões, torturas e atentados, que deixaram milhares de civis mortos.
1990 – Morre Jacobo Arenas, de causas naturais. Ele era considerado o principal líder e idealizador do grupo. As Farc continuam a crescer com as atividades ilegais.
2000 – O governo dos Estados Unidos envia bilhões de dólares para financiar operações contra o narcotráfico e as ações insurgentes no chamado Plano Colômbia. A ação ajuda a enfraquecer o grupo e resulta na morte de diversos de seus comandantes.
2008 - As Farc, que costumavam sequestrar fazendeiros, políticos e soldados, que algumas vezes chegavam a ficar presos por anos, liberta a ex-candidata a Presidência Ingrid Betancourt, meses após sua ex-aliada Clara Rojas, que teve um filho durante o cativeiro. O menino, chamado Emmanuel, permaneceu desaparecido por anos, após ser entregue a camponeses. Neste mesmo ano morre Raúl Reyes, número dois do grupo, em ação das tropas colombianas no Equador. Meses mais tarde, morre o líder histórico Manuel Marulanda, conhecido como Tirofijo, após um infarto. Ele é substituído por Alfonso Cano.
2011 - Cano morre em uma operação militar.
2012 - O presidente Juan Manuel Santos, ex-ministro da Defesa, confirma o início das negociações de paz em Havana sob o intermédio de Cuba e Noruega. Morte de líderes e avanços do Exército haviam enfraquecido o grupo.
2013 - Santos ameaça deixar as negociações se não forem apresentados avanços nas conversas. Seis meses após o início dos diálogos, partes envolvidas anunciam acordo sobre primeiro ponto da agenda: a política de desenvolvimento agrário. Até o final do ano, o segundo ponto – a participação política dos membros das Farc –, também seria acordado. Em agosto, pela primeira vez as Farc admitem que, ao longo do conflito, foram deixadas vítimas e pedem a criação de uma Comissão da Verdade sobre os crimes de lesa humanidade cometidos.
2015 - O governo de Bogotá e as Farc anunciam, no final do ano, um acordo sobre a espinhosa questão das consequências judiciais do conflito, o que abre caminho para colocar um fim definitivo ao caso. A questão era um dos principais entraves das negociações de paz entre os dois lados e um acordo é anunciado para o dia 23 de março, seis meses mais tarde.
2016 - Acordo previsto para março é postergado indefinidamente. Meses mais tarde, no entanto, Santos fala em uma nova data, até 20 de julho, que novamente não é respeitada. Em 23 de agosto, as autoridades de Bogotá e os guerrilheiros concluem as negociações de paz, após mais de três anos de conversas. Dias mais tarde tem início cessar-fogo bilateral, algo que não acontecia desde 1984. Assinatura de acordo é marcada para 26 de setembro em Cartagena das Índias em cerimônia que contará com a presença de diversos líderes da região.
É convocado para o dia 2 de outubro um plebiscito em que a população decidirá se aprova o acordo alcançado com os guerrilheiros.
Desde que as Farc foram criadas, no começo dos anos 1960, estima-se que o conflito com Bogotá tenha deixado mais de 220 mil mortos, quase 50 mil desaparecidos e 6,6 milhões de deslocados.
Agência Brasil