Trump sofre pressão de partido para retirar candidatura

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A menos de um mês das eleições presidenciais dos Estados Unidos, a campanha do candidato Donald Trump entra em sua maior crise desde o início da corrida eleitoral. Dezenas de líderes do Partido Republicano têm retirado o apoio à sua candidatura e fazem pressão para que ele renuncie e dê lugar ao candidato a vice-presidente da chapa republicana, Mike Pence. Donald Trump afirmou que não vai renunciar.

A retirada do apoio ao candidato republicano começou depois que o jornal The Washington Post divulgou, na última sexta-feira (7), um vídeo de 2005 em que Donald Trump faz referências às mulheres usando palavras vulgares e com conotação sexual machista.

No vídeo, ele se gaba de conquistar e fazer sexo com mulheres. O vídeo capta uma conversa entre Donald Trump e o apresentador de rádio e televisão Billy Bush. A conversa dos dois foi gravada dentro e fora de um ônibus que os levou para o local da filmagem de um episódio do Days of Our Lives (Dias de Nossas Vidas), uma das novelas mais antigas da televisão norte-americana.

Donald Trump fez os comentários sem saber que estava sendo gravado. "Você sabe, eu sou automaticamente atraído pela beleza, eu simplesmente começo a beijá-las. É como um ímã. É só um beijo. Eu nem espero". Trump diz ainda na gravação. "E quando você é uma celebridade, elas deixam você fazer isso. Você pode fazer qualquer coisa". A parte mais mais vulgar da gravação é o momento em que Trump se refere ao órgão sexual feminino. "Você pega [as mulheres] pela (...) e pode fazer qualquer coisa".

Retirada de apoio

Entre os políticos que estão retirando apoio a Donald Trump está o senador John McCain, do estado do Arizona, que disputou as eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2008 e perdeu para o então candidato do Partido Democrata (e atual presidente norte-americano), Barack Obama.

Considerado uma das expressões mais conservadoras do Partido Republicano, por suas posições a favor da guerra contra o terrorismo e contra o casamento de gays, John McCain condenou as palavras ofensivas às mulheres feitas por Trump.

Em um comunicado divulgado no sábado (8), o senador John McCain disse que o comentário de Trump foi "humilhante" para as mulheres e que, por isso, não vai mais dar apoio à sua candidatura, nem que esse apoio seja "condicional".

O governador do estado de Indiana, Mike Pence, candidato a vice-presidente pelo Partido Republicano, teve um comportamento surpreendente de condenação a seu próprio colega de chapa. Ele recusou-se a representar Donald Trump em uma reunião do partido no estado de Wisconsin e ainda apresentou um desafio.

Pence afirmou, em um comunicado, que se sente "ofendido pelas palavras e ações descritas por Donald Trump" no vídeo. Ele desafiou Trump a convencer o eleitor que ele pensa o contrário do que disse, no debate de hoje à noite com a candidata do partido democrata Hillary Clinton.  "Eu não desculpo suas observações e não posso defendê-las", disse Pence. E acrescentou: "Oramos por sua família e estamos ansiosos para a oportunidade que ele tem [hoje à noite] de mostrar o que está em seu coração quando for à frente da nação [nesse debate]".

Outros republicanos criticam Trump

Entre os republicanos que pedem, em entrevista à imprensa, para que Trump retire sua candidatura estão Ben Sasse (senador por Nebraska), Mike Crapo (senador por Idaho), Jeff Flake (senador por Arizona), Mike Lee (senador por Utah) e o apresentador de TV e simpatizante do Partido Republicano Hugh Hewitt. O senador Ben Sasse disse, em um comentário no Twitter, que a renúncia de Trump seria um "um movimento honroso". Hugh Hewitt, que tinha anunciado em junho que apoiaria Trump, disse no Twitter: "Para o benefício do país, do partido e de sua família, e para o seu próprio bem, Trump deve se retirar".

A empresária Carly Fiorina, filiada ao Partido Republicano, pediu que Trump saia da corrida presidencial e disse que ele "falhou" no exercício de sua competência como candidato do partido. "Donald Trump não me representa nem a meu partido", disse no Facebook. "Eu entendo a responsabilidade dos republicanos em apoiar seu candidato. Nosso indicado tem pesadas responsabilidades também. Donald Trump manifestamente falhou em suas responsabilidades ", acrescentou.

A senadora republicana pelo estado de West Virgínia, Shelley Moore Capito, também sugeriu que Trump não represente o Partido Republicano. "Como mulher, mãe e avó de três meninas, estou profundamente ofendida pelos comentários de Trump, e não há desculpas para suas palavras repugnantes e degradantes", disse em um comunicado. "As mulheres têm trabalhado duro para ganhar a dignidade e o respeito que merecem. O próximo passo apropriado para ele é reexaminar a sua candidatura", acrescentou.

A senadora republicana pelo estado do Alaska, Lisa Murkowski, disse que Trump perdeu, ao longo da campanha, o direito a representar o Partido Republicano.

Já a deputada republicana pelo estado de Utah, Mia Love, escreveu um post no Facebook lembrando que não apoiaria Hillary Clinton para presidente dos Estados Unidos, mas que também não apoia Trump. "Para o bem do partido e do país, ele deve se afastar", disse.

Debate presidencial

Em debate realizado ontem (9) à noite pela televisão, transmitido para mais de 80 milhões de pessoas, os candidatos Donald Trump, do Partido Republicano, e Hillary Clinton, do Partido Democrata, adotaram as posturas mais agressivas da história recente em eleições presidenciais dos Estados Unidos. Donald Trump chamou Hillary Clinton de "demônio" e ameaçou levá-la à prisão, se eleito. Hillary, em resposta, fez referência a um vídeo divulgado recentemente pelo jornal The Washington Post em que Trump usa palavras ofensivas em relação às mulheres. A candidata democrata disse que esse insulto às mulheres não é um fato isolado e se soma a outros já protagonizados pelo candidato republicano.

Donald Trump chegou ao debate, feito na Universidade de Washingotn, em Saint Louis, no estado de Missouri, em meio a um clima de desânimo entre os próprios líderes do Partido Republicano. Muitos integrantes da cúpula do partido tinham anunciado que não mais apoiariam Trump, depois que foi divulgado o vídeo em que ele aparece numa gravação de 2005 conversando com um apresentador de televisão, se gabando de conquistar mulheres e usando palavras vulgares para se referir às mulheres. Ele disse ainda, no vídeo, que as mulheres sentem atração por celebridades e que, por isso, fica fácil conquistá-las. "Basta pegá-las pela (.....), disse Trump na gravação, usando uma palavra vulgar para se referir ao órgão sexual feminino.

Trump chegou ao debate de ontem disposto a mudar de assunto. Foi logo acusando Hillary Clinton de mentirosa e ameaçou prendê-le, se for eleito. Ele disse que Hillary tem ódio no coração e levou para o debate um assunto muito delicado. Ele acusou o marido de Hillary, Bill Clinton, de ter assediado várias mulheres enquanto era presidente dos Estados Unidos. São acusações antigas, mas ele fez essas afirmações para constranger a candidata. Acrescentou que Hillary Clinton deveria ter vergonha disso.

Durante o debate, o moderador Anderson Cooper, apresentador da rede de televisão CNN, perguntou a Donald Trump sobre sua afirmação no vídeo em que se gaba de conquistar as mulheres. Em resposta, ele disse que a gravação foi uma conversa de "vestuário" e que não agrediu mulheres. Pediu desculpas ao povo americano pela linguagem do vídeo, mas mudou logo de assunto, adotando uma estratégia de colocar Hillary na defensiva. Trump disse que o assunto mais urgente da política externa americana é derrotar o Estado Islâmico e que isso não vem sendo feito pelo atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, do Partido Democrata, o mesmo de Hillary.

O clima de agressividade foi demonstrado logo no início do debate. Eles não apertaram as mãos. Em vários momentos, a menos de 2 metros um do outro, os candidatos prosseguiram com as acusações mútuas, mas Hillary adotou um comportamento mais sereno em comparação a Trump. E foi nesse clima que ela mencionou que Donald Trump deixou de pagar o Imposto de Renda durante 18 anos, conforme matéria publicada há duas semanas pelo jornalThe New York Times. Segundo a matéria, o bilionário americano deixou de pagar depois de alegar prejuízos em suas empresas de quase US$ 1 bilhão, em 1995. "Claro", disse Trump, ao admitir que fez isso. Ele acrescentou que deixou de pagar porque aproveitou benefícios fiscais previstos na legislação. Disse ainda que paga muitos impostos estaduais.

Nesse momento, Trump atacou novamente Hillary. Ele disse que muitos bilionários, que são doadores da campanha do Partido Democrata, "que são ricos, mas não são famosos", adotaram o mesmo comportamento, deixando de recolher impostos porque encontram brechas na legislação que os autorizam a fazer isso.

Em outro ataque a Hillary Clinton, Trump disse que a candidata democrata usou um servidor privado para enviar e receber mensagens oficiais. Foi nesse momento que Trump disse que, se eleito presidente, vai mandar prender Hillary depois que um um procurador especial examinar o caso. A respeito dessa acusação, que já  foi feita em momentos anteriores da campanha, a candidata respondeu que está comprometida em lidar de forma séria com informações classificadas como reservadas ou secretas.

Sobre a política externa, Trump vou a criticar a posição dos Estados Unidos na guerra do Iraque. Ele disse que a guerra foi um erro e que Hillary Clinton apoiou o envio de tropas americanas.

Agência Brasil

 

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