Uma tragédia. É o que traduz o acidente com o avião que levava a equipe do Chapecoense para o primeiro jogo da final da Sul Americana, em Medellín, na Colômbia, no começo da madrugada desta terça-feira. O acidente ocorreu a poucos quilômetros da cidade colombiana, onde seria realizado o jogo nesta quarta-feira. Até o fechamento desta edição, as equipes de resgate haviam retirado 72 corpos dos destroços do avião. As equipes conseguiram resgatar sete pessoas com vida e seis sobreviveram.
O prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, disse que o time da Chapecoense estava em seu melhor momento. “Nós vivíamos um sonho, eu nunca cansei de dizer isso. Uma cidade do interior, três vezes na série A do Campeonato Brasileiro, disputadíssimo”, disse Buligon, em entrevista a jornalistas de São Paulo, onde estava ontem. Ele afirmou que acredita ter uma missão a cumprir, após o acidente. “Estou agradecendo a Deus. O que me fez chorar foi a minha filha, que me ligou agora, disse que está feliz. Eu acredito que fiquei para cumprir a missão de resgatar a nossa autoestima”, disse.
O prefeito embarcaria junto com a equipe, mas decidiu ficar na capital paulista para uma reunião na manhã de ontem que trataria de parcerias público-privadas para Chapecó e pediu para que o presidente do Conselho Deliberativo da Chapecoense, Plínio David de Nes Filho, também ficasse.
Segundo o prefeito, os dois embarcariam num voo comercial às 15h50 de ontem e chegariam à 1h (horário de Brasília) em Medellín para assistir a primeira final da Copa contra o Atlético Nacional. Depois do acidente, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) adiou a partida. Uma nova data só deverá ser definida a partir do dia 21 de dezembro.
O governo federal liberou duas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) para levar autoridades, além de médicos e a equipe do jurídico da Chapecoense para auxiliar os sobreviventes e fazer o translado dos corpos.
Luto
A cidade de Chapecó decretou 30 dias de luto e a suspensão das aulas. As festividades de Natal estão canceladas. A equipe médica do time embarcou às 9h40 em Chapecó com destino a Medellín. “Estamos preocupados com a dor das famílias, todas aquelas pessoas que estavam naquele avião são conhecidos íntimos nossos. Uma cidade de 210 mil habitantes não é tão grande assim, a gente conhece todos eles. É muito dolorido”, disse o prefeito.
Feridos
O prefeito disse que o zagueiro Hélio Zampier Neto sofreu traumatismo craniano e que os médicos pediram tempo apara avaliar a gravidade do estado do atleta. O lateral-esquerdo Alan Ruschel, que também foi resgatado, sofreu lesões que não o deixaram falar no momento do socorro. “Em estado de choque, ele tirou a aliança e pediu para entregar para a mulher”, contou. “Essas pessoas estão dando um fio de esperança para nós. Vamos cuidar deles. Os médicos da Chapecoense são profissionais gabaritados, com longo histórico de dedicação.”
Avião fretado
Segundo o prefeito de Chapecó, o avião foi fretado para reduzir o desgaste dos jogadores. Ele disse que a aeronave já atendeu às seleções da Bolívia e Argentina. Buligon afirmou ainda que já havia voado com a tripulação, incluindo o piloto, que também era proprietário da empresa venezuelana LaMia, sigla para Línea Aérea Mérida Internacional de Aviación.
Os voos ocorreram durante os últimos jogos da Copa Sul-Americana. “Foi um voo tranquilo, o piloto acabou virando torcedor da Chapecoense, assistiu o jogo. Era uma pessoa tranquila, bom piloto”, disse Buligon.
Ele explicou que a aeronave deveria ter partido de Guarulhos ontem, o que não ocorreu já que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não autorizou. Existe um regulamento internacional que só permite que empresas aéreas façam fretamento com origem no próprio país. “Não é do nosso cotidiano [fretamento de voos internacionais], a gente só ficou sabendo no domingo à noite. A Chapecoense redimensionou a logística”, explicou. Dessa forma, a equipe partiu em avião comercial de Guarulhos para Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. De lá, partiram em avião fretado com destino a Medellín. O avião deveria ter chegado à 1h da manhã (horário de Brasília) na cidade colombiana. A aeronave caiu a 30 km da cabeceira do aeroporto. “Houve pane elétrica”, disse o prefeito.
Torcedores fazem vigília
Cerca de 700 torcedores da Chapecoense se reúnem nos arredores do estádio Arena Condá, em Chapecó (SC), após o acidente envolvendo o avião que transportava a delegação do clube para Medellín, na Colômbia. Os torcedores fazem uma vigília e acompanham a chegada dos jogadores que não viajaram para a final da Copa Sul-Americana. Com os portões do estádio fechados, os chapecoenses se aglomeram no estacionamento do Centro de Eventos, onde entoam cânticos de apoio e realizam rodas de oração pelas vítimas. Os jogadores que não viajaram com a delegação também chegam à Arena Condá em busca de mais informações. Todos visivelmente emocionados, chorando muito com a perda dos colegas e amigos. Parentes das vítimas permanecem na Arena Condá à espera de informações.