Em frente a parede de homenagens, a mãe Lucelia e os filhos João Victor (10) e Lívia (6) Betoni acendem suas velas. De mãos dadas, fazem uma oração. “É pelos filhos dos jogadores”, conta Lucelia. A relação entre eles e João e Lívia não é de hoje: são todos colegas de escola, jogam bola e brincam juntos. “Quando fiquei sabendo que o que aconteceu... [sic] tudo ficou triste”, interrompeu João Victor, que joga na categoria sub 10 com o filho de Neto. A comoção geral da cidade pode ser explicada pelo carisma que os jogadores tratavam os chapecoenses. “Não tinha distinção. Eles iam na padaria da esquina, iam nos bairros. Eram realmente muito queridos”, diz Lucelia.
Foi por este motivo, também, que a enfermeira da rede pública Maria Bernadete Cadore sentou-se sozinha nas arquibancadas na tarde dessa sexta-feira (2). Não importou-se com os termômetros beirando os 30 graus: estava ali para homenagear as vítimas da tragédia. Contou que na semana passada o atacante Thiaguinho visitou o posto de saúde onde trabalhava para fazer uma conscientização sobre o Novembro Azul. “Eles eram queridos por todos. Era fácil chamar a atenção com a presença deles”, lembra. O envolvimento de Maria Bernadete com o clube começou cedo. Em 1984 entrava com um grupo de outras cinco amigas no estádio. “Éramos jovens, mulheres e estávamos entrando num ambiente que até então apenas os homens frequentavam. A Chapecoense vai estar sempre no meu coração”. Este sentimento reforça o carisma que a Chapecoense tem diante da cidade. “Fazíamos rifa para ajudar o time de natação que meu filho participava e pedíamos camisetas autografadas para o prêmio. Só compravam os números por causa delas”, conta.
Do lado de fora
Gilmar de Quadros é policial militar, mas nas horas de folga acompanha o pai na venda de artigos da Chapecoense. “Estamos vendendo bem, mas a dor é enorme. Desde terça meu pai não sai de casa. Ele vive pelo time há mais de 40 anos”, conta, enquanto atende clientes que não param de chegar.
Cocar da sorte
O aposentado Paulo Ianoski usa o conhecido por ele como “cocar da sorte” desde que o time brigava para sair da Série C. Agora, no entanto, pensa em aposentar o adereço. “Vou colocar o quadro da Série A na parede e isso do lado. Não tenho coragem de usar nunca mais”, emociona-se.