Vinte e nove de novembro sempre foi sinônimo de festa na família Machado. É o aniversário de seu Osmar – representante comercial, morador de Porto Alegre e pai do zagueiro Filipe José. Neste ano, no entanto, algo mudou. O seu Osmar, que sempre costumava receber ligações na madrugada de seu dia, optou por deixar o celular desligado. “De manhã cedo, por volta das 8h, um amigo me ligou. Ele disse: Osmar, você já viu o que aconteceu com o avião da Chape? Eu disse que não. Ele respondeu: então liga a televisão”.
Que angústia – relatou Osmar, sentado na beira do campo onde o filho jogava há um ano. Felipe veio do Irã no ano passado para compor a equipe do Chapecoense. Começou a carreira aos nove anos no Grêmio. Ficou no clube por 24 meses e migrou para o Internacional, onde vestiu a camisa por outros nove anos. Jogou mais tarde na Europa, por uma década. E neste tempo todo, sempre foi zagueiro.
“No momento que vi tudo aquilo achei impossível ele estar vivo. Depois surgiu o boato de que teria um zagueiro vivo. Imaginei que pudesse ser ele”, lembra. O zagueiro resgatado com vida era, na verdade, o craque Neto, que chegou a jogar no lugar de Filipe na zaga. “Quando isso aconteceu eu perguntei: e aí Filipe, [sic] tu vai para o banco?! [sic]. Ele respondeu: pai, vou sim. O Neto é um cara muito legal. Ele sempre falava comigo quando eu estava no banco, que tal centroavante jogava de um jeito, que o zagueiro jogava de outro, que era para eu marcar”, conta Osmar. “E você vê: o Neto sobreviveu. Quando eu ver ele, vou ter que dar um abraço e dizer tudo o que meu filho gostava dele”.
A vinda de Temer
O pai de Filipe criticou a posição tomada pelo presidente Michel Temer de permanecer no Aeroporto de Chapecó para receber os corpos das vítimas. Para ele, a figura presidencial devia ir para a Arena do Condá – e não os familiares ao aeroporto, como foi sugerido. “Ele que venha a nós. A estrada está boa, não tem buraco nem está interrompida. Não tenho interesse nenhum em cumprimentar o presidente da minha nação”, declarou.