A manhã cinza e a chuva que caiu sobre Chapecó, SC, na manhã do sábado davam o tom de que o retorno da equipe que tanto orgulhou aquele município não era como o esperado. Pelas ruas da cidade, toda a comunidade homenageava os heróis. Na Arena Condá as arquibancadas estavam cheias como em dia de uma final importante, infelizmente não era. As milhares de pessoas queriam apenas dar o último adeus às vítimas do acidente aéreo ocorrido na Colômbia, na última terça-feira.
Naquela manhã aterrizaram no Aeroporto Serafim Bertaso, de Chapecó, dois aviões Hércules da Força Aérea Brasileira que traziam os corpos das vítimas. Com a presença do presidente Michel Temer, do governador Raimundo Colombo e do prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, a breve cerimônia no local contou com honras militares às vítimas. Os caixões seguiram, na sequência, em um cortejo em caminhões abertos pelas ruas da cidade até à Arena Condá.
Comoção geral
Em uma cerimônia que durou mais de duas horas, os torcedores, amigos e familiares se despediram dos jogadores, membros da comissão técnica, dirigentes da Chapecoense e jornalistas que morreram no acidente aéreo. A chuva e a emoção não deram trégua a quem acompanhou o velório coletivo no estádio onde a Chapecoense viveu tantas alegrias.
Os corpos entraram na Arena por volta das 12h20. Os caixões entraram um a um, recepcionados por lanceiros do Exército e pelos gritos das pessoas que diziam “o campeão voltou”. Primeiro, entraram os jogadores, seguidos dos membros da comissão técnica, diretoria e jornalistas. Ao lado do prefeito Buligon, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Gelson Merisio (PSD), recebia os corpos.
Eles voltaram como uma lenda
Em todos os pronunciamentos, o agradecimento ao povo da Colômbia pela demonstração de solidariedade aos chapecoenses. Luciano Buligon vestiu uma camisa do Atlético Nacional, que seria adversário da Chapecoense na final da Copa Sul-Americana. Dirigentes do clube colombiano receberam placas de agradecimento, assim como o embaixador da Colômbia no Brasil, Alejandro Borba. "A Chapecoense veio para Meddelín com um sonho e voltou como uma lenda. Lendas não morrem, lendas deixam para nós heranças de uma administração transparente, futebol feito de um jeito antigo", disse o prefeito.
O papa Francisco encaminhou mensagem, lida pelo bispo de Chapecó, dom Odelir José Magri. A mensagem do pontífice pedia ao céu conforto e restabelecimento para os sobreviventes e coragem e consolação para todos os atingidos pela tragédia. O apresentador Cid Moreira leu trechos da Bíblia em homenagem às vítimas. O presidente da Fifa, Gianni Infantino, foi econômico e preciso em seu rápido discurso. Lembrou que aquele era um momento para consolar as famílias. Ele veio ao Brasil acompanhado do zagueiro espanhol Puyol e o meia holandês Seedorf. O técnico da Seleção Brasileira, Tite, também marcou presença.
Emoção
Foram vários os momentos tocantes durante a cerimônia. O menino Carlos Miguel, vestido de indiozinho, mascote da Chapecoense, chamou a torcida para cantar "Vamos, Vamos Chape!", quando a cerimônia já se encaminhava para o final, marcado, também pela reunião dos familiares das vítimas no centro do gramado, cada um com a imagem do ente querido, em agradecimento aos torcedores.
Colaboradores da Chapecoense também puderam prestar sua homenagem. Vestidos com camisetas estampadas com os nomes das vítimas, eles soltaram balões brancos no céu, à medida que o nome de cada homenageado era citado.
Após o término das homenagens, que contaram ainda com salva de tiros e toque de silêncio, os caixões foram retirados, novamente um a um. Dos corpos, 16 foram sepultados em Chapecó. Os demais foram levados para suas cidades de origem.
Os corpos de parte dos jornalistas e jogadores foram velados e sepultados em municípios do interior paulista. Os corpos de três jogadores da chapecoense foram levados para o estado de São Paulo após a cerimônia na Arena Condá.
Os jornalistas André Podiacki, Djalma Araújo Neto, Bruno da Silva, Giovane Klein e Laion Espíndula, todos da RBS em Santa Catarina, mortos no trágico voo da LaMia, foram velados pelos familiares, colegas e amigos na manhã de sábado, na Catedral Metropolitana, em Florianópolis.
Agradecimento ao povo colombiano
Em várias partes do estádio viam-se faixas em agradecimento ao povo da Colômbia, país onde ocorreu o acidente e que prestou atendimento e fez o resgate das vítimas. Na quarta-feira, uma cerimônia muito emocionante em homenagem às vítimas foi realizada no estádio de Medellín, exatamente no horário em que seria disputada a final da Copa Sul-Americana.
Alguns torcedores levaram à Arena Condá, inclusive, a bandeira colombiana. "Colombia, gracias por todo" (Colômbia, obrigado por tudo), dizia uma das faixas. Outra, em inglês, dizia:"A todo mundo, o que nos resta é agradecer".
"O carinho que eles [colombianos] tiveram com todo o povo chapecoense, com todos os brasileiros, foi muito comovente. Por mais que a gente queira demonstrar o quanto estamos gratos, não há palavras para dizer o quanto estamos honrados por tê-los como irmãos, vizinhos. Eu acho que Deus colocou uma nação muito nobre, muito educada e cheia de princípios para ensinar para todo mundo a fraternidade e a solidariedades. Esses professores são os colombianos", disse Gustavo Braun, corretor de seguros que levava uma das faixas.
A mãe do goleiro Danilo, Ilaídes Padilha, emocionou o Brasil ao falar de sua dor pela perda do filho e inverter papéis ao perguntar a um repórter como vivia a perda de colegas. Na sequência ela o abraçou e o consolou em nome de todos os jornalistas que perderam seus colegas de trabalho. Na cerimônia do sábado ela recebeu todo o carinho dos torcedores que acompanhavam o velório coletivo na Arena Condá.