“O ‘bom dia’ de Paula naquela manhã de 6 de dezembro de 2012 não foi nada agradável. O ex-companheiro, usuário de drogas, arrombou a porta da casa e foi até o quarto onde Paula dormia. Foram quinze facadas. Paula, que não sabia o que estava acontecendo, gritou. Seus filhos assustados foram até o quarto, acenderam a luz e tentaram ajudar. O agressor, não satisfeito, passou então a dar socos na cabeça de Paula. Com os gritos das crianças, o agressor fugiu. Paula então ligou para a mãe e para a polícia. Deu tempo de chamar os dois, e ela perdeu a fala. Uma das facadas foi no pescoço...”. Este é apenas um dos depoimentos expostos juntos com fotografias de mulheres que já foram vítimas de violência de gênero, e que fazem parte do projeto Mulheres Guerreiras.
Casos que, infelizmente, não são incomuns. De acordo com a secretária adjunta de Segurança do Estado, Cláudia Crucius, a violência de gênero é uma criminalidade cuja subnotificação é muito grande. Estima-se que uma em cada quatro mulheres sofreu alguma espécie de violência doméstica, familiar ou sexual durante sua vida. “A face mais grave desses fatos é que são praticadas, no mais das vezes, por homens com quem as vítimas mantêm ou mantiveram alguma forma de relacionamento afetivo”, Cláudia complementa.
Realizado pela fotógrafa passo-fundense Michele Sautner e pela coordenadora do Projur Mulher, Josiane Petry Faria, o projeto tem a intenção de homenagear todas as mulheres que passaram por algum tipo de violência, pelo simples fatos de serem mulheres, e foram capazes de refazer suas vidas, mesmo com tantos traumas deixados. Paula, por exemplo, se recuperou e seguiu em frente, casando-se novamente quatro anos após o episódio de violência extrema. “Quero retratar essa guerreira, essa mulher incrível que passou por todo este processo de aprisionamento e estresse real e hoje está livre. Livre de amarras emocionais, livre de uma relação doentia e principalmente livre de agressões, sejam elas físicas, emocionais ou psicológicas”, conta a fotógrafa.
Daniele e Greice são outras duas mulheres que resolveram compartilhar com Michele episódios semelhantes, de abuso, pelo qual passaram. Uma maneira de, através de belas imagens e de uma estampa de superação, chamar a atenção para a conscientização da causa contra a violência de gênero em todos os sentidos e incentivar que as mulheres não se calem, que busquem ajuda. Outro ponto que une todas essas mulheres fotografadas para a exposição é que elas passaram, em algum momento, pelo Projur Mulher – um projeto de extensão da Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo (UPF), que presta orientação e acompanhamento jurídico a mulheres e filhos em situação de vulnerabilidade.
A exposição “Mulheres Guerreiras – de Michele Sautner” – está aberta para visitação até o dia 23 de março, no 3° andar do Bella Cittá Shopping, no horário das 10h às 22h (de segunda a sábado) e das 11h às 22h (aos domingos).
Denuncie
Para denunciar qualquer tipo de violência de gênero, basta ligar anonimamente na Central de Denúncias, no número 180, ou ainda procurar o Projur Mulher, que fica na Avenida Brasil Oeste 743 no Campus III da Universidade de Passo Fundo. Também é possível ligar para o Projur pelo telefone (54)3316-8576.