O dia é sexta-feira, 17 de março de 2017. A notícia de que um esquema entre frigoríficos e servidores públicos burlavam a fiscalização do Ministério da Agricultura gira o mundo. Anunciado pela Polícia Federal, o processo – que já prendeu 35 pessoas e afastou 33 servidores – passa a ser conhecido como a “Operação Carne Fraca” – e, mais que isso, mostra ao país a fragilidade na segurança do produto que chega na mesa do consumidor brasileiro.
A desconfiança se espalha para além das fronteiras nacionais: até o fechamento desta edição, pelo menos 14 países e a União Europeia haviam suspendido temporária e integralmente a importação de carne brasileira e seus derivados. O Brasil – que sempre esteve no páreo entre os países que mais exportavam produtos de origem animal no mundo – viu seu posto cair pouco a pouco depois das suspeitas de irregularidades virem à público.
Mas o descrédito na qualidade das carnes e a avançada desconfiança da população brasileira são consequências demasiadamente graves quando postas lado a lado de questões extremamente pontuais. A opinião é do médico veterinário e professor da Universidade de Passo Fundo, Elci Lotar Dickel. Ex-inspetor do Ministério da Agricultura, ele garante que a fiscalização não é tão problemática e que as ocorrências de irregularidades são “uma em um milhão” dentro de todo o processo de inspeção acometido no Brasil. Ele – que aposentou-se em 2010 após 37 anos como inspetor do Ministério – acredita que a questão poderia ter sido tratada de maneira diferente. “Ou seja; punir quem fiscalizou errado e as indústrias por não trabalhar dentro dos mecanismos previstos. Mas tudo isso não é condizente para o prejuízo que tivemos no mercado internacional e a desconfiança do consumidor brasileiro”, pontua ele.
De acordo com Dickel, no tempo em que trabalhou no MAPA chegou a certificar, por dia, cerca de 300 a 400 toneladas de frango para os mais variados países do mundo. “Nunca ocorreu uma devolução sequer”, garante ele, que assegura a rigidez dos mecanismos de controle da inspeção. “Nossos regimes de controle são muito rígidos, mas claro – sempre tem as maçãs podres, tanto do lado da indústria quanto do lado de quem fiscaliza”, contrapõe. A falta de informação sobre os processos de inspeção das carnes contribuiu, segundo ele, para a repercussão negativa e abrangente no país – e fora dele. “No volume, não se pode dizer que toda carne brasileira está comprometida. Pontualmente temos falhas”, defendeu o professor. Na busca por entender este processo, ON desmembrou toda a cadeia de fiscalização dos produtos de origem animal; o caminho traçado desde o produtor até a mesa do consumidor.
A matéria completa pode ser visualizada na versão impressa do O Nacional deste final de semana.