Para destinar os cerca de 200 mil quilos de lixo produzidos diariamente em Passo Fundo, aos aterros sanitários de Minas do Leão, região central do estado, a prefeitura desembolsa mensalmente cerca de R$ 500 mil. Somado ao valor que o município deixa de arrecadar com a venda dos resíduos devidamente separados, em torno de R$ 693,8 mil, o desperdício sobe para R$ 1, 1 milhão, nos mesmos 30 dias.
Os números integram dois estudos gravimétricos realizados pelo químico, mestre em engenharia – Área e Concentração: Tecnologia Mineral, Ambiental, Metalurgia Extrativa, e professor da rede pública, Rudimar Pedro. Além do levantamento minucioso, avaliando todo o processo, desde o momento em que os resíduos sólidos são depositados nos contêineres, até a chegada na Usina de Reciclagem, passando pela separação, Rudimar dá um passo adiante. Ele apresenta uma alternativa inédita no Rio Grande do Sul para aproveitamento de 100% do lixo produzido pelos passo-fundenses.
Denominado de Gestão pública dos resíduos sólidos urbanos de Passo Fundo – usina de reciclagem e compostagem, o projeto prevê ampliação de vagas de trabalho e um investimento em equipamentos que gira em torno de R$ 6 a R$ 7 milhões.
Seguindo os critérios determinados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), NBR 10004, que trata dos resíduos sólidos, nos dois estudos gravimétricos, um elaborado em 2014 e outro em 2016, Rudimar separou os resíduos em três itens: recicláveis, orgânicos e inertes/perdas. Logo em seguida, desmembrou cada um deles dentro de seus respectivos grupos para identificar o volume que representam no montante do lixo produzidos diariamente em Passo Fundo. Com base nos preços praticados pelo mercado no período do estudo, ele somou o valor por quilo de cada item, e constatou que o desperdício mensal em razão da falta de separação dos resíduos é de R$ 693,8 mil.
“A gestão dos resíduos sólidos em Passo Fundo é um problema antigo. Principalmente pela falta de continuidade dos setores competentes, por priorizarem a resolução mais fácil e não a definitiva, com destinação e transformação dos resíduos. O problema foi se cronificando e se tornando aparentemente insolúvel. O lixo é uma fonte de recursos que pode gerar emprego e renda para dezenas de pessoas” observa Rudimar.
Usina
Para dar conta da separação de 200 toneladas/dias, o professor elaborou um escopo sobre a estrutura da usina de resíduos sólidos urbanos. Ele descreveu passo a passo, como deve ser montado o sistema e quais equipamentos necessários para a destinação correta dos mais variados resíduos, como papelão, plásticos, vidros, eletrônicos e metais.
“Atualmente temos na Usina de Reciclagem uma área de transbordo. De todo o lixo depositado lá, apenas 3% é separado. Numa estimativa bastante otimista, podemos dizer que apenas 30% dos resíduos são separados. Boa parte pelos catadores e que são levados diretamente para os galpões de reciclagem nos bairros da cidade. O restante segue para Minas do Leão. Com a implementação deste projeto, alcançaríamos os 100%” avalia.
O novo modelo prevê entre 50 a 60 vagas de trabalho, durante um turno. A estimativa dos custos operacionais, incluindo salários, encargos trabalhistas, energia, e manutenção dos equipamentos ficou em torno de R$ 166,5 mil.
Durante a elaboração do estudo, Rudimar chegou a avaliar como alternativa, a possibilidade da construção de uma usina para geração de gás a partir do lixo, mas constatou a inviabilidade, principalmente em razão dos altos custos, cerca de R$ 30 milhões, por não ser uma produção de energia limpa, e também pela baixa capacidade de energia gerada.
Por outro lado, entre as vantagens do modelo proposto, o professor aponta os custos reduzidos para aquisição de equipamentos como, carregador hidráulico, moegas, esteiras, prensas e peneiras, que podem ser produzidos na região de Passo Fundo, com exceção do moinho triturador. O fato da área da atual usina ter as dimensões necessárias para o projeto (cerca de dois hectares), disposição de um fosso de concreto com capacidade para receber simultaneamente seis cargas de resíduos, ampliação das vagas de trabalho, e uma economia de aproximadamente R$ 1,1 milhão aos cofres públicos. “A ideia é indestrutível. Pode se discutir detalhe do projeto, mas a ideia como um todo não” defende o professor.
Como funciona o sistema
Para dar a destinação correta dos resíduos sólidos, com zero de desperdício, cada item (recicláveis, orgânicos e inertes/perdas) segue um roteiro dentro da usina, passando pelas máquinas apropriadas para determinado tipo de produto.
- Fosso de concreto recebe os resíduos sólidos.
- Logo em seguida o material é transportado por carregadores hidráulicos (tipo pólipo) para a triagem em duas moegas metálicas
- Na sequência, os resíduos são distribuídos de forma ordenada por dois transportadores mecânicos (espécie de esteira)
- O sistema de triagem é feito manualmente por quatro pessoas em duas esteiras de separação
Papel/ plástico/pet
Após a separação, o material é levado para as prensas. A prensa hidráulica vertical recebe papel, papelão, plástico fino e pet. Cada fardo pesa 150 quilos.
Latas/alumínios
A prensa hidráulica horizontal será responsável pelo enfardamento de latas e alumínios.
Vidros
Os vidros são separados por cores e levados para um dos moinho triturador.
Todos os resíduos orgânicos são submetidos a trituração. De lá, passam pelo transportador mecânico e são depositados nas caçambas metálicas.
Na sequência, passam pela peneira rotativa cilíndrica para mais uma seleção.
Material orgânico
O material orgânico que sobrar será levado para o campo das leiras de compostagem. Num prazo de 30 dias, dependendo do processo, a matéria orgânica poderá ser utilizada para adubação, destinada para projetos sociais, como agricultura familiar entre outros.
Linha-branca
Produtos da chamada linha-branca, serão destinados ao moinho triturador multi função. Considerado o equipamento mais caro, ele tem condições de eliminar geladeira, fogão, restos de motor, além de móveis, madeira grossa, metais, sofás, guarda-roupas e pneus.