Viajar para outros países e conhecer novas culturas é um desejo que acompanha a vida de muitas pessoas, especialmente os jovens. Mas deixar seu país de origem, fugindo de situações adversas, entre elas a miséria, deixando para trás toda uma história, deve ser uma difícil decisão. Imagine viver tudo isso aos 8 anos de idade. Esta é a realidade da pequena Tajin Akter, que chegou ao Brasil no dia 25 de janeiro deste ano e há algumas semanas está morando em Passo Fundo, junto com o pai, que já está na cidade há quase três anos, e a mãe e o irmão, que somente conseguiram entrar no país este mês.
A situação, que poderia causar medo até mesmo em um adulto, está sendo encarada de forma tranquila por Tajin, que já está matriculada no 1º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Arlindo de Souza Mattos. Junto com a língua falada, que ela entende ainda muito pouco, está sendo alfabetizada na Língua Portuguesa. Apesar de ter frequentado a escola na cidade de Sylhet, no Bangladesh desde os dois anos de idade, Tajin não conhecia o alfabeto latino, por isso está sendo praticamente alfabetizada novamente.
“Estamos aprendendo junto”, comenta a professora da turma, Rafaella Possa Dilda. Ela conta que Tajin já consegue escrever em Língua Portuguesa, mais ainda não lê. Quando perguntada sobre o que mais gosta na escola, ou na cidade, a resposta dela é sempre a mesma: “é grande”. Já sobre a hora do lanche, a novidade preferida experimentada por ela foi a sopa oferecida na escola. “A Tajin é uma menina muito comunicativa e está se dando muito bem com os colegas. Ela é muito tranquila e bastante caprichosa com o caderno”, destaca a professora. Apesar de já estar se familiarizando com as letras do alfabeto latino, o sobrenome, que se escreve Akter, ela ainda grafa em sua língua nativa, o bengali. Na relação com os colegas, quando as palavras não expressam o que querem dizer, eles se entendem pelos gestos.
Situação da família
O pai de Tajin, Golam Robbani, está em Passo Fundo há quase três anos e já consegue falar bem o português. Atualmente ele trabalha de operador de máquinas em uma empresa da cidade, apesar de ter declarado que fala quatro línguas e possui formação superior. Somente este ano ele conseguiu reunir o restante da família e alugou uma casa logo em frente à escola. A esposa, Shamaj Akter Hena e o filho menor, de quatro anos, foram os últimos a chegar e voltaram a morar com Tajin e Golam somente desde o último final de semana. De acordo com Rosane Vieira Fernandes, diretora da escola, todos os trâmites para a matrícula na escola foram mediadas por uma amiga da família, que está servindo de intérprete.