As lavouras de soja já estão praticamente todas colhidas. Faltando apenas entre 1% e 2%, está confirmada a produtividade histórica, com uma média de 65 sacas por hectare, até o momento, conforme dados da Emater Regional de Passo Fundo que abrange 40 municípios. Mesmo com o excelente resultado, os produtores seguem cautelosos na comercialização. Os preços estão muito abaixo dos praticados no ano passado, o que tem feito muitos agricultores venderem apenas o necessário para o pagamento de dívidas mais urgentes.
O engenheiro agrônomo da Emater Cláudio Dóro explica que o clima colaborou muito com o andamento da colheita e agora estão faltando algumas áreas plantadas mais tardiamente, principalmente na região de Lagoa Vermelha. O resultado médio de 3,9 mil quilos por hectare é proveniente de dois fatores principais: o clima e a condução tecnológica das lavouras. ?EURoeChoveu desde a implantação da lavoura até a metade de março, chuvas sequenciais e de baixa intensidade. Depois, o nível de tecnologia das lavouras, o produtor investiu pesado, usou sementes de alto potencial genético, uma boa adubação, fez manejo correto de pragas e doenças e o resultado foi essa safra muito boa com os armazéns entupidos de soja?EUR?, complementa.
Nos 40 municípios da região de Passo Fundo foram cultivados 575 mil hectares e o volume total deve chegar a 2,240 milhões de toneladas. Dóro pontua que esse volume representa 13% da safra do Estado, que deverá ficar em torno de 17 milhões de toneladas. ?EURoeIsso deverá gerar cerca de R$ 2,240 bilhões para a região. Devido aos preços baixos a comercialização está lenta e os produtores estão vendendo apenas para pagar as despesas. O agricultor está retendo ao máximo a soja esperando que algum fato novo aconteça para melhorar esse preço?EUR?, analisa. No ano passado foram fechados contratos para o mercado futuro a valores em torno de R$ 90 e, mais tarde, próximo a R$ 80 a saca. Com isso, muitos produtores não querem vender o produto nos preços atuais, que estão próximos de R$ 57 a saca.
Problemas logísticos continuam
No final da colheita ainda estão sendo enfrentados problemas com a armazenagem. Isso decorre da boa colheita de trigo no ano passado, entre outubro e novembro, depois o milho em fevereiro e início de março, e agora com a produtividade recorde da soja. ?EURoeSão três safras abundantes que vieram se acumulando nos armazéns porque os preços baixos atrapalharam a comercialização. Tivemos dificuldade de armazenamento, muitos produtores tiveram se usar silos bag improvisados. Muitos armazéns tiraram as máquinas para colocar soja e para abrir espaço teve muita soja destinada à industria e ao porto para abrir espaço?EUR?, destaca Dóro.
O Rio Grande do Sul está colhendo uma safra de cerca de 32 milhões de toneladas enquanto a capacidade estática de armazenagem está em torno de 28,5 milhões de toneladas. ?EURoeTemos um déficit em torno de 3,5 milhões de estocagem de grãos. Crescemos muito em produtividade, mas não acompanhamos na infraestrutura de armazenagem e logística?EUR?, alerta Dóro destacando que é necessário planejamento nesta área, tendo em vista que o Estado continuará tendo boas safras.
Próxima safra
A questão logística, os custos de produção e os baixos preços praticados no mercado para as diferentes culturas também têm retraído os produtores no planejamento da safra de inverno. Dóro explica que o trigo ainda deve ocupar o maior espaço, frente à aveia, cevada e canola. Mesmo assim, a sensação é de que deverá ocorrer uma pequena redução na área, que deve ser confirmada no final do mês quando a Emater lançar a estimativa oficial de safra. ?EURoeA definição da área está bem incerta. O preço do trigo está baixo e o custo de produção está alto e o produtor está avaliando se vale a pena ou não?EUR?, conclui.