Agora que você já sabe como se sentem pessoas LGBT que enfrentam preconceito dentro das próprias famílias, é hora de entender por que o apoio familiar é tão importante. Para começar, voltamos aos dados do último Relatório de Violência Homofóbica no Brasil, elaborado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Pelo menos um quarto das vítimas de homofobia sofre violências, físicas ou psicológicas, dentro da própria casa. Na rua está concentrado mais um quarto das ocorrências, seguidos de outros locais, entre eles escolas e locais de trabalho, que, somados, chegam a 37% das denúncias.
A psicóloga especialista em terapia de casal e família Morgana Toson acredita que a dificuldade de aceitação da família se dá por diferentes fatores. Entre eles a questões culturais, históricas e até mesmo religiosas. Para muitas pessoas que tiveram uma educação e criação talvez mais rígidas há maior dificuldade em relação à aceitação da homossexualidade. “Para muitos o sexo é um tabu, imagine entre pessoas do mesmo sexo. Para alguns pais é inconcebível ter um filho gay. O que as outras pessoas vão pensar? Como vamos explicar? Onde erramos? São questionamentos comuns que surgem no momento da descoberta”, enfatiza.
Muitos pais ‘perdem’ seus filhos
Em decorrência destas dúvidas e sentimentos de não aceitação, muitas vezes os pais ‘perdem’ os filhos. “A dificuldade de aceitação, cobrança e até mesmo pelo controle que passam a fazer sobre a vida do filho faz com que ele procure um lugar distante da família onde ele possa desfrutar da vida”, observa destacando que muitos vão embora e sentem-se muito sozinhos. Além disso, para a pessoa que está descobrindo a homossexualidade também há uma fase difícil, principalmente na hora de revelar para a família. “É um processo longo e doloroso porque ele mesmo tem algumas dificuldades em se aceitar, parece que precisa estar escondido dentro dele mesmo”, explica.
Para a psicóloga, a aceitação dentro de casa é a mais difícil, em função dos preconceitos da família e da necessidade de explicação que pensam que devem dar aos outros. “Também passa pela culpa dos pais em terem "feito" um filho diferente, sentem como se a falha fosse deles e é difícil para alguma pessoas assumir isso como algo normal nos dias de hoje. Afinal, a homossexualidade sempre existiu, só que era escondida e hoje é assumida”, compara. Ela reforça que na rua, o preconceito leva à homofobia e a atos de violência.
Como relatado em alguns casos na primeira parte desta reportagem, sem o apoio da família, são os amigos e os grupos de iguais que dão o suporte na maioria das vezes. “Percebemos hoje que os amigos tanto homossexuais quanto heterossexuais não têm preconceito algum em manter amizade e se relacionar na sociedade, a aceitação entre as novas gerações é muito legal, pois todas as pessoas são iguais e dignas, a diferença está somente na questão sexual íntima (relação sexual) a qual pertence somente a duas pessoas que se escolheram”, completa lembrando que o acompanhamento psicológico é muito importante neste processo.
Quem conta com o apoio da família
Várias histórias de inícios difíceis também têm finais que ajudam a inspirar outras famílias. Esta é a história de um jovem que começou a perceber que sentia atração por uma pessoa do mesmo sexo na adolescência, aos 12 anos. “No início, essa sensação era uma coisa nova, diferente, acho que eu não levava essa questão muito a sério na época. Mas o tempo foi passando, eu fui crescendo e constatei que o que eu sentia não passava, não era só uma fase como imaginava. Confesso que ainda é um pouco complicado, no entanto, recentemente conversei com os meus pais sobre isso, muito em virtude de outros problemas pessoais que tenho enfrentado, e eles reagiram muito bem. No geral, o pai e a mãe só querem que eu seja feliz”, relata. Antes da conversa com os pais, o contato com amigos e colegas o encorajaram a tomar essa decisão. “O meu convívio com os meus pais e com os meus amigos continua bom como sempre foi, ou melhor, acho que de certa forma até melhorou, e eu só tenho a agradecer por isso”, comemora.
Da mesma forma esta outra história começou com dificuldade, mas hoje é um motivo de alegria. No início também houve medo do que os pais pensariam e de como a família reagiria. “Hoje em dia eles sabem, aceitam e respeitam minha condição. Eles agem normalmente, embora com meu pai tento ser o mais sério possível. Já minha mãe é bem de boas, falamos sobre tudo, desde gírias gay, até sobre o que acontece neste mundo gay, cuidados e famílias que não aceitam seu filhos. O interessante é que eles nunca falaram nada que ofendesse minha sexualidade, apenas curiosidade, conselhos e respeito”, lembra. Para os pais ele diz: “muito obrigado por me apoiarem, me respeitarem e me amarem incondicionalmente , saibam que os amo e que não sei o que seria de mim sem seu apoio, suporte, carinho, atenção e um cuidado especial com minha sexualidade”.