Governo comemora, mas especialistas recomendam cautela

Após dois anos de queda, primeiro trimestre de 2017 teve crescimento de 1% no PIB. No entanto, isso ainda não significa que saímos da crise

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta semana que o Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, cresceu 1% no primeiro trimestre do ano, comparado ao quarto trimestre de 2016, na série livre de influências sazonais. Esta foi a primeira alta na comparação, após dois anos consecutivos de queda. Enquanto o governo comemorou o resultado e chegou a avaliá-lo como o fim da recessão, economistas alertam que ainda é cedo para ser tão otimista. O resultado é bom, mas sozinho não representa tudo isso.

Para o economista e professor da UPF, Dr. Julcemar Zilli, o resultado é um dos indícios positivos de que a economia brasileira volta a crescer, no entanto, por se tratar de um dado trimestral, ele ainda é considerado superficial. “Temos de ter muito cuidado porque temos ainda muitas questões a serem analisadas com relação à economia brasileira, principalmente com relação à situação política. Até que essa questão política não esteja organizada, bem esclarecida, ainda teremos algumas incertezas se realmente a economia brasileira está crescendo ou se ela simplesmente parou de cair”, indica. Para ele, o mais provável é de que a economia brasileira tenha parado de cair e esteja querendo voltar a se recuperar, mas isso só acontecerá, de fato, quando a situação política estiver estabilizada.

O agronegócio manteve um crescimento perante todos os outros segmentos e foi um dos únicos que se manteve positivo durante a crise. O professor indica ainda que há outros dados que corroboram com a questão de que a economia está melhorando: a diminuição do desemprego que, embora pequena, já foi registrada; a queda da taxa de juros que estava em 14,35% há oito meses e hoje está próxima dos 10,25%; e a inflação que estava próximo a 10% hoje está entre 4,5% e 5%. “Isso mostra que a economia começou a reagir, mas não é para toda essa empolgação, ainda precisamos resolver muita coisa, principalmente a situação política para podermos comemorar”, reitera.

Resultado deve ser melhor analisado

O professor Adriano José da Silva, coordenador da Escola de Administração da IMED, avalia que o crescimento de 1% no PIB no primeiro trimestre de 2017, indica o fim da recessão, pois desde 2014, não tínhamos um crescimento. “Isso é uma boa notícia para o Brasil. O resultado desse crescimento merece ser melhor analisado, pois foi o agronegócio que colheu nas lavouras uma das maiores safras da história foi quem puxou e as exportações permitindo uma nova perspectiva econômica para o Brasil”, pondera

Para Silva, somente os desdobramentos da crise política poderão responder se esse dinâmica deve se manter ou não. “Devemos observar que o grande fiador da economia é o ministro da Fazenda Henrique Meirelles e o presidente do Banco Central Ilan Goldfjan. A manutenção dessa equipe econômica, somada a efetivação das votações das reformas que estão tramitando no Congresso Nacional, irão permitir consolidar esse cenário de crescimento econômico”, analisa.

IBGE

Conforme o anúncio do IBGE, os dados evidenciam o forte crescimento da agropecuária, que fechou o primeiro trimestre do ano com alta de 13,4%, uma vez que a indústria teve expansão de 0,9% e o setor de serviços fechou estável entre um período e outro (0,0%). Em valores correntes, o PIB encerrou o primeiro trimestre do ano em R$ 1,6 trilhão. A taxa de investimento no primeiro trimestre foi de 15,6% do PIB, abaixo da observada no mesmo período do ano anterior (16,8%). A taxa de poupança foi de 15,7% ante 13,9% no mesmo período de 2016.

PIB cai 0,4% em relação ao 1º trimestre de 2016

A queda de 0,4% no PIB do primeiro trimestre do ano, quando comparado ao mesmo trimestre de 2016, constitui o décimo segundo resultado negativo consecutivo nesta base de comparação. Na mesma base, o valor adicionado a preços básicos teve variação negativa de 0,3% e os Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios recuaram 0,8%.

Dentre as atividades que contribuem para a geração do valor adicionado, a agropecuária cresceu 15,2% em relação a igual período de 2016; a indústria sofreu queda de 1,1% e o valor adicionado de serviços caiu 1,7%.

Segundo o IBGE, pelo oitavo trimestre consecutivo “todos os componentes da demanda interna apresentaram resultado negativo na comparação com igual período do ano anterior”. Mesmo com o crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre deste ano, no mesmo período a Despesa de Consumo das Famílias caiu 1,9%.

PIB anualizado

Mesmo com o crescimento de 1% no primeiro trimestre - comparativamente ao quarto trimestre do ano passado - no resultado acumulado nos quatro trimestres terminados em março último (o PIB anualizado) a economia brasileira recuou 2,3% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. Esta taxa resultou da contração de 2,1% do Valor Adicionado a preços básicos e do recuo de 4,1% nos Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios. O resultado do Valor Adicionado neste tipo de comparação decorreu dos seguintes desempenhos: agropecuária (0,3%), indústria (-2,4%) e serviços (-2,3%).

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