Documentário ?EURoeCentral?EUR? denuncia crise nas penitenciárias brasileiras

Audiovisual será exibido na Universidade de Passo Fundo (UPF), nesta terça-feira (13)

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Os olhos se perdem diante de tantos homens que caminham no corredor. Dentro do presídio, baratas, esgoto entupido e comida servida em grandes panelas. As cenas são do documentário “Central: o poder das grandes facções no maior presídio do Brasil”. Dirigido por Tatiana Sager com codireção de Renato Dorneles, o documentário usa como ponto de partida o Presídio Central de Porto Alegre - considerado em 2008 o pior presídio do país pelo Congresso Nacional e um dos piores da América Latina pela Organização dos Estados Americanos (OEA) – para traçar uma radiografia da crise nas penitenciárias brasileiras.

No filme é aprofundada a complexa realidade do sistema prisional e mostrada que a superlotação é um sistema lucrativo para as facções. Tatiana explica que na instituição há 11 galerias, com aproximadamente 400 apenados cada. São espaços, cujas celas são abertas e os presos podem circular dentro daquele ambiente. “Nas galerias caberiam, em celas de 4x3, oito presos e hoje tem mais de 40. Por isso eles abriram as celas, porque senão seria sub-humano mesmo a relação deles”, explica Tatiana sobre a superlotação. Cada facção possui suas galerias e tem um líder, que é  o responsável por “controlar” os apenados. A direção do presídio realiza reuniões e negocia com esses líderes.

Acontece que os líderes transformaram a galeria em um sistema lucrativo. “Cada preso que entra na galeria é lucro pro líder da facção. Por exemplo: além da comida disponibilizada, há uma cantina, é um espaço que o estado aluga por R$ 40 mil para uma pessoa. Os líderes dessas galerias escolhem um cantineiro que vai lá e faz as compras. Lá na galeria, qualquer produto – arroz, feijão, bolacha – é revendido pelo dobro ou o triplo do preço. Um refrigerante, que eles compram na cantina a R$ 6, eles vendem na galeria por R$15 ou R$20. Além disso, cada preso precisa pagar um valor para o líder para integrar a facção”, contextualiza Tatiana.

Além deste comércio, tudo que acontece dentro da galeria depende da autorização do líder. “Se um preso quer sair para ir ao ambulatório, ou para a audiência, depende da anuência e do líder da galeria permitir ou não. Até mesmo de ganhar comida, droga. Droga é absolutamente liberada lá dentro. A gente mostrou que se não entrasse droga, a coisa explodiria. Então tudo depende do líder, para comprar droga, para comprar uma comida que não é a ofertada”.

Deste modo, a diretora do documentário estima que cada preso gasta cerca de R$ 1 mil por mês. Dinheiro este que, ou um parente traz, ou quando este preso sair, ele terá uma dívida com a facção. “Esse preso vai ter que cometer crime já encomendado pela facção, para pagar a dívida que tinha, porque senão morre”.

Sistema perverso

Tatiana Sager define o que acontece no sistema carcerário como perverso e denuncia que o Estado é omisso. “O Estado depende das lideranças de facções para controlar essas pessoas. Só que é algo muito perverso. É o Estado entregando 5 mil presos na mão de líderes de facções. Por isso que o crime está se retroalimentando e as pessoas saem de lá e são obrigadas a cometer crimes”.

Uma possível solução, para a jornalista, seria o governo intervir. “Eu não sei se no Presídio Central se consegue reverter isso. A coisa está tão viciada e tem muita população que o Estado não tem como intervir. Imagina que cada galeria tem 450 presos, como ele vai interferir? Só se ele conseguisse separar, colocar em celas, em outros presídios. Ali eles estão soltos e são liderados pela facção. Mudaria se o Estado tivesse controle. É falta de investimento do governo, hoje tem menos de 300 brigadianos para 5 mil presos. São 300 brigadianos, mas metade estão de folga. São em torno de 50 brigadianos para 5 mil presos”.

Exibição em Passo Fundo

O documentário será exibido na Universidade de Passo Fundo (UPF), nesta terça-feira (13). O evento é promovido pelos cursos de Jornalismo e Direito. Haverá debate com os diretores Tatiana Sager e Renato Dornelles e os professores Fábio Rockembach, Luiz Fernando Pereira Neto e Rodrigo Graeff. Os ingressos custam R$12 para alunos UPF e R$ 15 para o público geral. A exibição inicia às 8h30, no Centro de Eventos da universidade. 

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