A morte de cinco moradores de Tapera, em um trágico acidente de trânsito na quarta-feira, na ERS 332, comoveu os cerca de 10 mil habitantes do município. A colisão frontal, envolvendo dois veículos, aconteceu por volta das 17h30, no quilômetro 168, em Lagoa dos Três Cantos. O trecho é uma reta. Morreram os quatro ocupantes do Fiesta Sedan: Cassio Luís Rossi,35, Jaison de Menezes Veiga, 31, Juliano dos Santos, 36, e Renato Souza, 32 anos. Todos funcionários da empresa Stara, instalada em Não Me Toque. Além da dentista Maria Cecília Corazza, 24, que viajava sozinha. Com a violência do impacto, o Peugeot 206 conduzido por ela saiu da pista e incendiou. As causas do acidente devem ser investigadas pela Polícia Civil de Não Me Toque. O prefeito decretou luto oficial de três dias.
Dezenas de amigos, colegas de trabalho e familiares foram ontem até o ginásio de esporte do município prestar as últimas homenagens no velório coletivo de Renato, Juliano e Jaison. À tarde, a Stara disponibilizaria ônibus para que os cerca de 200 funcionários do setor de montagem, onde trabalhavam as vítimas, se deslocassem até Tapera.
Comovido com a perda dos colegas, Luiz Fernado Keitel, 28 anos, disse ter sido um milagre não estar com eles no carro no momento do acidente. Diariamente, os cinco percorriam juntos os 28 quilômetros que separam Tapera de Não Me Toque. Uma viagem de aproximadamente 20 minutos. Por medidas de economia, decidiram estabelecer uma espécie de rodízio. A cada dia, o trajeto era feito com o carro de um deles.
'Escapei por um milagre'
Na quarta-feira, os quatro embarcaram, pela primeira vez, no Fiesta Sedan, do colega Cassio. Ele havia retirado o veículo na última segunda-feira em uma concessionária de Espumoso. Luiz Fernando só não foi junto porque naquela manhã tinha um compromisso na cidade vizinha de Selbach. “Resolvi o problema lá e voltei para Tapera por volta do meio-dia. Pensei em ir para Não Me Toque de ônibus, mas como estava tarde, fui com o meu carro. Se tivesse optado pelo ônibus, certamente voltaria de carona com eles. Íamos e voltávamos todos os dias juntos,” lembra emocionado.
O rapaz contou que, quando retornava para Tapera, no final da tarde, passou pelo local e viu os carros envolvidos no acidente, sem saber que se tratava dos colegas. “Como eu ainda não conhecia o carro novo do Cassio, não imaginei que seriam eles ali. Quando cheguei em Tapera, meu celular não parava de tocar. As pessoas queriam saber de mim, se eu estava bem. Estranhei aquilo. Fui até a casa do Renato, que normalmente era o primeiro a ser deixado no nosso roteiro, e encontrei a família dele desesperada. Percebi naquele momento que havia nascido de novo. Imagina, quatro anos indo e vindo todos os dias juntos. Éramos todos muito amigos, estávamos sempre juntos.”
Vítima atuou em várias equipes de futsal
O corpo de Jaison foi o último a chegar no ginásio de esportes. Com passagens por várias equipes de futsal da região, inclusive na extinta Semeato de Passo Fundo, ele havia trocado a cidade natal de Salto do Jacuí, em 2011, justamente para atuar no América de Tapera. Junto com o trabalho na empresa, o atleta pretendia defender o Tupã, de Tupaciretã. O corpo de Jaison foi velado por cerca de uma hora em Tapera, posteriormente seria transladado para Salto do Jacuí, onde ocorreria o sepultamento.
Além da amizade e da parceria no trabalho, os quatro colegas compartilhavam outra afinidade: a paixão pelo Grêmio. Com uma certa frequência costumavam viajar até Porto Alegre para acompanhar as partidas do Tricolor na Arena. Para o próximo domingo, cogitavam alugar uma Van para ver Grêmio e Ponte Preta.
Colega de trabalho do grupo, Jocian Correa, 27 anos, disse que Jaison era o responsável por organizar as viagens. “Não tem outra coisa a dizer para definir o que aconteceu, a não ser que foi uma tragédia. Não tenho palavras”, lamentou, lembrando que Jaison e Juliano também gostavam de pescarias.
Dentista havia perdido duas primas na tragédia da Boate Kiss
Formada em odontologia pela Universidade de Passo Fundo, em 2015, Maria Cecília Corazza trabalhava com a mãe e a irmã, também dentistas, em um consultório de Tapera. Assim como os quatro rapazes, ela costumava percorrer o mesmo trajeto, só que no sentido contrário. Depois do expediente em Tapera, costumava se deslocar até Não Me Toque onde morava com o noivo. “Ela normalmente saía por volta das 17hou 18, dependendo dos pacientes” acrescentou o cunhado, Cassio Gonçalves. Maria viajava sozinha quando ocorreu a colisão, entre os municípios de Lagoa dos Três Cantos e Não Me Toque. O Peugeot conduzido por ela saiu da pista e incendiou. A motorista teve o corpo carbonizado. Em janeiro de 2013, a família já havia passado por uma tragédia. Duas primas de Maria,
Luísa Batistella e Paula Gatto, estavam entre as 242 vítimas da boate Kiss, em Santa Maria. O corpo da dentista foi velado no Centro Catequético, ao lado do ginásio, e sepultado às 16h, no cemitério municipal.
Sonho do carro novo
A quinta vítima do acidente da ERS 332 foi velada na capela mortuária de Tapera. Cássio era casado e tinha uma filha de seis anos. Na segunda-feira, ele havia ido até uma concessionária de Espumoso para retirar seu novo carro, um Fiesta. O cunhado, João Roque Marchetti, 49 anos, disse que o rapaz estava feliz com a nova aquisição. “Ele vinha planejando a troca do carro havia bastante tempo. Conseguiu fazer um financiamento na empresa em que trabalha e parcelar o pagamento. Era uma pessoa que só se dedicava à família e ao trabalho” revela. O corpo da vítima seria sepultado na localidade de Bela Vista, interior de Espumoso.