O reajuste no preço dos combustíveis já foi repassado ao consumidor em uma boa parcela dos postos de Passo Fundo. Na tarde desta sexta-feira (21), o litro da gasolina comum foi encontrado custando R$3,99. Em alguns estabelecimentos, porém, o acréscimo ainda não havia sido verificado. Um posto, localizado na Avenida Presidente Vargas, estava vendendo tanto a gasolina comum quanto a aditivada por R$3,29 o litro.
O baixo preço atraia consumidores que chegaram a formar fila para abastecer e tentar escapar do reajuste. Mas, assim como os demais, o posto também repassará o aumento na carga tributária aos motoristas. Conforme o gerente desse posto, Daniel Moraes, neste sábado o preço já estará reajustado. O aumento será de R$0,40, passando as gasolinas comum e aditivada para R$3,69.“Como o preço ainda está diferenciado, em virtude do aumento que foi anunciado, o pessoal está buscando preço. Cerca de 80% dos consumidores estão enchendo o tanque”, informou nesta sexta.
O reajuste nos combustíveis ao consumidor final é consequência do aumento das alíquotas do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre a gasolina, o diesel e o etanol, determinado para compensar as dificuldades fiscais, anunciado na quinta-feira (20). O decreto, publicado no Diário Oficial da União, determina o aumento de R$ 0,41 (de R$ 0,3816 para R$ 0,7925) para o litro da gasolina e de R$ 0,21 (de R$ 0,2480 para R$ 0,4615) para o diesel nas refinarias. Para o litro do etanol, a alíquota passará de R$ 0,12 para R$ 0,1309 para o produtor. Para o distribuidor, a alíquota, atualmente zerada, aumentará para R$ 0,1964.
“População vai compreender”, diz Temer
O presidente Michel Temer comentou o reajuste esperando compreensão dos brasileiros. “A população vai compreender porque este é um governo que não mente, não dá dados falsos. É um governo verdadeiro, então, quando você tem que manter o critério da responsabilidade fiscal, a manutenção da meta, a determinação para o crescimento, você tem que dizer claramente o que está acontecendo. O povo compreende”, afirmou.
Porém esse aumento, decorrente do aumento de 107% na alíquota da gasolina nas refinarias, não agradou o consumidor. O professor Daniel Puhl, que estava com o carro na reserva, já sentiu o impacto do reajuste do imposto no bolso. O repasse não o agradou. “O governo ataca em pontos cujo cidadão não se pode viver sem, que é o combustível. Isso tem impacto no frete, nos produtos, alimentos, tudo aumenta. É complicado porque quem paga é a população”. Diferente de Puhl, o comerciante Claudio Sega, que estava em Passo Fundo de passagem na tarde desta sexta, conseguiu abastecer ainda com o preço antigo. O empresário argumenta que se paga muito imposto e pouco se recebe em troca. Para ele, a solução seria uma mudança na política.
Tamanho do estado brasileiro
A incompetência administrativa do governo brasileiro, descrita por Sega, deveria levar a sociedade brasileira a refletir acerca da sua máquina pública, conforme o coordenador da Escola de Administração da Imed, Adriano José da Silva. “A sociedade brasileira, como um todo, deveria discutir com muita transparência o tamanho do estado que ela quer. Se ela quer um estado provedor, um estado interventor, um estado que se adonou de tudo, de todos os meios de produção e de financiamento ou se ela quer uma redução do estado”, argumenta o especialista.
O professor da Imed também analisa a necessidade de se executar uma ampla reforma política no país, que pudesse garantir a diminuição dos partidos políticos e proporcionar debates para outras reformas, como a tributária, a previdenciária, a trabalhista e no ensino público. “Se não houver essas reformas, se não houver um amadurecimento da sociedade, certamente mais gerações continuarão sendo o Brasil do futuro e esse futuro talvez não chegará, para as próximas duas ou três gerações, glorioso como ele poderia ser. Tudo isso em função das disputas políticas, da corrupção, dessa disputa de poder e também por falta de reformas que poderiam garantir um crescimento sustentável e uma previsibilidade maior a longo prazo, já que, de fato, o Brasil perdeu em função do embate político e dos grandes escândalos de corrupção”, defende Silva.
Apesar do cenário, o coordenador da Escola de Administração da Imed garante que não se deve perder a esperança no Brasil. “Tudo isso que a gente está passando é um cenário necessário de passar para que a sociedade inteira saiba o que está acontecendo em termos de corrupção e para que saibamos o preço que estamos pagando por não optarmos por projetos e sim por pessoas. Acredito que ao fim de tudo isso, o Brasil sairá melhor e mais fortalecido enquanto sociedade e enquanto nação”, finaliza.