Longe do cenário atual em que o fechamento de empresas e o desemprego aprofundam a crise do país, os dados do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), medido pelo IBGE entre 2014 e 2015, e divulgados agora em julho, já acenavam para o quadro de agravamento da crise. Ao mesmo tempo em que o índice de desemprego avançava, também crescia a abertura de novas empresas. Eram talvez, desempregados se aventurando em novos negócios.
Conforme o IBGE, em 2015, o número de empresas abertas aumentou em torno de 3,6%, em Passo Fundo. Até dezembro, eram 9. 917 empresas atuantes no município, 364 a mais do que em 2014. Em contrapartida, houve uma redução no número de pessoas empregadas (2,1%) e assalariadas (3,1%). Em 2015, eram 71,3 mil pessoas trabalhando, sendo que desses 57,8 mil eram assalariados. Em 2014, o total de ocupados era de 72,7 mil e 59,8 mil de assalariados. O indicador também aponta que o número de empresas retornou ao patamar de 2013, uma vez que em 2014 houve uma queda de 365 unidades.
O crescimento no número de empresas e a diminuição de funcionários não foi uma especificidade de Passo Fundo, já que o cadastro traz dados semelhantes no país em 2015. O CEMPRE continha 5,1 milhões de empresas e outras organizações formais ativas no ano de referência 2015, que ocuparam 53,5 milhões de pessoas, sendo 46,6 milhões (87,0%) como pessoal ocupado assalariado e 7,0 milhões (13,0%) na condição de sócio ou proprietário. Na comparação com o ano anterior, houve um aumento de 0,2% no total de empresas e outras organizações ativas (11,6 mil). Por sua vez, o pessoal ocupado total diminuiu 3,1% (1,7 milhão), sendo que o pessoal ocupado assalariado caiu 3,6% (1,7 milhão).
O aumento no número de empresas pode estar relacionado a uma necessidade de renda das pessoas que ficaram desempregadas no período. Dados da pesquisa Empreendedorismo no Brasil, desenvolvida pelo projeto Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2015, que possui parceria com o Sebrae, FGV e IBQP, comprovam a hipótese. O indicador separa os empreendedores iniciais nas categorias ‘novos’ e ‘nascentes’. A diferença entre os dois grupos é que os empreendedores ‘novos’ administram e são proprietários de um negócio que pagou salário e ou gerou pró-labore por mais de 3 meses. Os nascentes são os que não geraram renda com o negócio. Entre os nascentes, o índice de empreendedorismo motivado pela necessidade aumentou 23% entre 2014 e 2015. A abertura de uma nova empresa por necessidade teve acréscimo de 13% entre o grupo novos.
Dinamismo do mercado
No contexto de crise econômica, essa redução do quadro de funcionários é uma característica de um mercado empresarial que busca se adaptar, conforme o doutor em economia e professor da UPF, Marco Montoya. “O mercado empresarial é extremamente dinâmico, que se adapta permanentemente as circunstâncias da conjuntura e as circunstâncias de estrutura do mercado. Observamos que, na economia como um todo, o emprego diminuiu bastante na agricultura, mas aumentou muito nos serviços. Então é possível notar que existe uma mudança estrutural do mercado de trabalho”, explica o professor.
Enquanto há postos de trabalho que são fechados em alguns segmentos de atividade econômica, outros são abertos em outras áreas. O especialista afirma que, tirando os últimos quatro anos, devido a recessão econômica, os níveis de produtividade e de emprego aumentaram significativamente. Conforme o último dado divulgado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, são 13,8 milhões de desempregados no Brasil. Em março, o índice atingiu 14,2 milhões de desocupados. “Nos últimos três, quatro anos o desemprego aumentou e ultrapassou os 12 milhões de pessoas. Mas em 2003, por exemplo, a produtividade foi muito importante no país como um todo e em diferentes setores da economia”, enfatiza Montoya.
Em termos de recessão econômica, o setor primário teve um protagonismo especial em algumas cidades, segundo o professor da UPF. Ele explica que cidades muito ligadas ao agronegócio, como é o caso de Passo Fundo e Carazinho, os impactos negativos da crise,- como o desemprego - foram menores, do que em outras cidades que possuem sua base econômica no setor secundário como é o caso de Caxias do Sul - que atravessa uma profunda depressão no mercado de trabalho. “Existe uma redução significativa de atividade econômica [em Passo Fundo], mas nós não vivemos um momento tão dramático como outras cidades que dependem fundamentalmente da metalúrgica”, argumenta o doutor em economia.
Próximo indicador
Para o próximo dado do CEMPRE, Montoya acredita que o número de empregados deve diminuir, enquanto as empresas podem ter variação no fechamento de algumas e abertura de outras, mas que sempre deve-se levar o fator recessão em consideração. “O mercado de trabalho é muito dinâmico e neste momento de crise, as empresas tendem a diminuir o quadro e ser mais cautelosas no aumento da produção. O dado que vai sair sobre 2016 não vai ser muito bom em relação aos anos anteriores”, afirma.
Por setor
A pesquisa separa as empresas em 20 secções que podem ser inseridas dentro dos setores da agricultura, indústria, construção civil, comércio e serviços. A secção da educação foi a que obteve a maior variação positiva (44,6%) em 2015 na comparação com 2014, em Passo Fundo. O saldo foi de 91 unidades abertas, totalizando 295. Por outro lado, as indústrias extrativas registraram a pior variação (-16,6%).