O retorno ?EUR" 30 anos depois

Em 1987, os pais do estudante de psicologia, Vanderlei Pinto, foram comunicados pela direção da APAE de que a instituição não tinha mais condições de lhe prestar atendimento. Na última semana, ele voltou a pôr os pés na entidade ?EUR" mas com outro propósito

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Com o auditório vazio, a direção da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) recebeu os pais do pequeno Vanderlei, em um dia frio de 1987. “Não temos mais o que oferecer ao seu filho”, disse uma das professoras para o casal Maria Marlene e Derly Pinto. Há 30 anos, a APAE ainda engatinhava e lutava para se manter de pé. Não havia ainda políticas de inclusão ou sequer conhecimento da importância de que pessoas com deficiência conquistassem seu espaço na comunidade. Assim, o menino Vanderlei precisou se afastar da instituição. Muito da culpa disso é por sua intocável capacidade cognitiva: a incompatibilidade do sangue dos pais e uma série de erros médicos fez com que desenvolvesse uma patologia genética que influenciou muito na sua capacidade motora física. Por isso, alfabetizou-se com facilidade, desenvolveu todos os trabalhos na entidade normalmente – o que fez com que, num certo ponto, a instituição deixasse de conseguir atender ao seu desenvolvimento.

 

 

O personagem principal desta história é o hoje estudante de Psicologia pelo Instituto Meridional (IMED), Vanderlei Pinto. Exatos 30 anos depois, ele preenche a solicitação de estágio obrigatório da instituição sem pestanejar: é para a APAE que quer voltar. Desta vez, no entanto, com um motivo diferente. Depois de tantas idas e vindas – Vanderlei mudou-se de cidade três vezes, virou professor de xadrez e formou-se em Filosofia – ele retorna ao seu ponto de início como estagiário de psicologia. A decisão veio depois de dar uma palestra na instituição, no mesmo auditório onde seus pais foram informados de sua saída, no final dos anos 1980. “Quando subi naquele palco, há dois anos, me despertou uma necessidade de me integrar novamente ao lugar onde tudo começou”, conta. Dito e feito: há uma semana, ele atende integrantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), de 15 a 25 anos; e do grupo especial de crianças, de cinco a dez anos. Este último vem acompanhado do atendimento multidisciplinar, em companhia de uma fonoaudióloga. Este é o estágio básico – o primeiro dentre três que o estudante precisa completar para a graduação.

 

 

Formação

Como já é formado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia Berthier (IFIBE) aqui de Passo Fundo, Vanderlei acredita poder botar seu conhecimento em prática no curso de Psicologia. “A psicologia me possibilita ter uma maior compreensão humana, enquanto a filosofia me dá a compreensão conceitual”, comentou. Além disso, Vanderlei também é professor de xadrez no Instituto Menino Jesus - Notre Dame. O jogo de tabuleiro foi o necessário para seguir em frente. “Via os outros meninos jogando basquete e queria ser igual. Aí descobri algo em que realmente era bom. Para se ter ideia, o clube do xadrez de Itapema - Meia Praia, de Santa Catarina, era dentro do meu quarto”, lembra de quando morava na praia catarinense.

 

APAE Passo Fundo

A APAE é uma Organização da Sociedade Civil (OSC), que possui hoje cerca de 320 usuários de todas as faixas etárias. Ela foi criada em 1967 com a intenção de oferecer apoio e fortalecimento às famílias e a inserção de pessoas com deficiência em todos os âmbitos da sociedade, buscando assegurar o direito pleno à cidadania – o que segue sendo praticado até hoje.

  

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